Nivaldo. O nome não engana e rapidamente transporta o imaginário do adepto para jogos da I Liga, nomeadamente daquele fã de futebol que tem mais ou menos olho de lince e memória (bem) apurada, entre a perceção de nuances táticas e subtis jogadas que não se esquecem.
Jogador empolgante, forte na aceleração e nas diagonais pelo corredor, o atleta nascido em Cabo Verde continua a fazer do futebol a sua vida. Aos 35 anos, e já com uma longa carreira em Portugal e além fronteiras, Nivaldo já não faz tudo depressa, mas continua a fazer tudo com classe.
O Jogo do Povo encontrou-o no União 1919, nome do U. Coimbra, após a refundação, a disputar o Campeonato de Portugal. A entrevista mais não faz do que mostrar que, para Nivaldo, o futuro continua bem próximo, seja a ir e a voltar pelo corredor, ou nas palavras, que se viram mais para o coletivo do que para o individual, porque, afinal, o futebol é um desporto de grupo. E o grupo é sempre o todo que ajuda a enfrentar tudo, quando o tudo parece nada. Porque no futebol nem sempre tudo são facilidades.
"Estar longe da família é difícil e eu fiquei longe dos meus país quando vim para Portugal para jogar nos juniores da Académica e depois quando fui para fora de Portugal", começou por contar Nivaldo, destacando que as fases mais complicadas foram sempre as que eram ditadas pela separação.
"Ter de ficar longe da minha mulher e depois da minha filha fez-me passar por fases mais complicadas. Mas sempre tive apoio da minha família para ser jogador de futebol", agradeceu Nivaldo, em declarações ao Bancada, não esquecendo que em Cabo Verde ficou tudo quando na bagagem apenas transportava o sonho de ser jogador da bola.
"Tive que deixar tudo em Cabo Verde e vir tentar a sorte cá, em Portugal. E nesses tempos há sempre muita incerteza para nós, que chegamos cá para tentar a sorte no futebol. Nunca se sabe o que vai acontecer. E depois estar longe de casa, do nosso país é complicado", recorda em jeito de lição o esquerdino, confirmando que no seu caso as coisas deram certo."
"No meu caso graças a Deus deu tudo certo", afirmou o jogador do União 1919 ao Jogo do Povo, no Bancada.
"Queria homenageá-lo aqui"
E porque no futebol, mas também fora dele, se fazem amizades que ficam para toda uma vida, Nivaldo confessou que queria aproveitar a oportunidade para, através do Bancada, homenagear um "amigo de sempre", o "Ludovic Santos".
"O meu melhor amigo. Crescemos juntos, jogamos juntos em Cabo Verde e viemos para Portugal. Eu vinha para jogar futebol e ele veio para estudar", esclareceu Nivaldo, lembrando que Ludovic Santos também "jogava muito".
"Só que jogou sempre em equipas do Campeonato de Portugal. Queria homenageá-lo aqui. Esteve sempre comigo, ajudou-me sempre, tinha boas opiniões, mesmo quando estava fora do país ele ia lá ter comigo. É uma pessoa que, se tivesse mais oportunidades, poderia ter sido um grande jogador".
E grandes jogadores há muitos pelo atual Campeonato de Portugal, uma prova que Nivaldo, com o olhar experiente de quem já andou pelo topo da pirâmide, avalia com propriedade.
"Este é um campeonato de oportunidades, onde cada vez mais vão aparecendo jovens promessas, que daqui a uns aninhos vão estar no topo do futebol português e europeu", prevê Nivaldo, em declarações ao Jogo do Povo, no Bancada, falando de uma prova "muito competitiva e com grandes treinadores".
"Já não existe tanta difirença entre as equipas. Isto é, qualquer uma pode ganhar e isso é muito bom para a evolução do Campeonato de Portugal", uma prova onde também aparecem algumas peripécias, logicamente.
Toma um big shot mas o mister deixa-o no banco
E quando o assunto são brincadeiras ou episódios mais ou menos curiosos, Nivaldo, entre sorrisos, diz que alguns momentos podem ser revelados.
"Posso contar uma passagem que foi recente [risos]", avisou, lembrando que se passou quando representava o Anadia. "Quando estava no Anadia fomos jogar com o Beira-Mar ao Estádio de Aveiro. Até fizemos um boa primeira parte e estávamos a ganhar 1-0. Só que o Beira-Mar tinha uma boa equipa. O jogo estava rápido e o pessoal estava a sentir o desgaste ao intervalo", enquadrou Nivaldo toda a situação que ainda hoje provoca gargalhadas entre quem assistiu.
"Ao intervalo, o Nuno Pereira, que agora está no Varzim, diz ao pessoal 'estou a sentir-me cansado, vou tomar um big shot, que era um bebida num frasco pequenino para dar energia. Só que o pessoal nem gostava de tomar aquilo. Tomávamos quando era preciso. Ele tomou. Entretanto, entrou o mister no balneário e falou connosco. Depois, disse que o Nuno ia ficar e ia entrar o Pedro. O Nuno disse 'eish, tomei o big shot e fui substituído", recordou, deixando sorrisos e lembrando que Nuno Pereira virou alvo da risota do grupo de trabalho durante toda a temporada.
Entre episódios engraçados, momentos de alegria, euforia ou de tristeza pela derrota, o futebol é um espetáculo e não faltam ídolos, que levam as crianças em todo o mundo a quererem ser como as grandes estrelas.
"O Ronaldo e já me deu tantas alegrias, nem dá para explicar"
Nivaldo, hoje homem, pai de família, não esconde que continua a encarar o futebol com a beleza dos primeiros anos. Por isso, há também ídolos para todo o sempre. E nesse particular, um nome acima de todos os outros para ele: Cristiano Ronaldo.
Com naturalidade, pois, este cabo-verdiano, 22 vezes internacional pelos 'tubarões azuis', não esconde que gostaria de um dia sentar-se à mesa com CR7 para saborearem uma cachupa, o prato típico de Cabo Verde.
"O Cristiano Ronaldo faz tudo o que faz sem comer cachupa, agora imaginem se pudesse comer cachupa", vincou, entre sorrisos de quem fala do ídolo.
"O Cristiano Ronaldo é o meu ídolo, é o melhor jogador do mundo, acompanhei toda a carreira do Ronaldo e já me deu tantas alegrias, nem dá para explicar".
Uma coleção com Hulk, Gaitán e Izmailov
A coleção de alegrias de Nivaldo com Cristiano Ronaldo é imensa, assim como algumas relíquias que tem lá por casa e que foi, ou vai, colecionando ao longo dos tempos.
"Tenho uma camisola de cada um dos três grandes. Tenho uma que me deu o Hulk (FC Porto), outra foi o Izmailov (Sporting) e outra do Nico Gaitán (Benfica)", revelou, fazendo notar que tem "outras camisolas" que tem vindo a guardar ao longo da carreira. "E ainda vou guardando", avisou Nivaldo Alves Freitas Santos que, depois de jogar na Académica, Teplice da República Checa, Concordia Chiajna da Roménia, entre outros clubes, está agora no União 1919, na sua Coimbra de quase sempre onde saber de cor e salteado a lição.
"Estar perto de casa, perto da família e ajudar o União a atingir os seu objetivos é o mais importante nesta altura da carreira. Quero ajudar os mais novos, quero dar conselhos e também aprender com eles. Aproveito sempre para transmitir a minha experiência ao grupo na tentativa de se fazer um bom campeonato, de modo a que o União possa continuar a crescer".
E assim vai continuar a fazer-se futebol na vida de Nivaldo, entre a geometria traçada no relvado, enquanto se constroem jogos e se fazem caminhos pela vida fora. Mais longe ou mais perto, sempre com Coimbra na jogada. Porque a Coimbra nunca se faz verdadeiramente uma despedida.