O futebol é uma ciência que procura ir ao detalhe e que mexe com as emoções. O seu ‘je ne sais quoi’ faz do desporto algo mágico e a sua tão imprevisibilidade apimentam a causa face a uma incerteza quase constante. Diz o senso comum que os homens não se medem aos palmos e Bernardo Mesquita derruba teorias mais ou menos populares, mostrando que o talento e a inteligência no futebol não é medido em alturas.
Aos 21 anos, o médio de ataque do Tirsense, falou com o Jogo do Povo sobre as ambições de carreira e sobre o caminho que vem trilhando até aqui. E se as palavras leva-as o vento, neste caso, Bernardo Mesquista faz por mostrar em campo aquilo que exprime na voz, na certeza de que o “cabedal” não é uma sentença definitiva.
Assim, este estudante de Direito, que espalha magia no Campeonato de Portugal, admite também que a altura e o físico não têm a última palavra na hora de subir ao relvado.
“Sem dúvida o ‘cabedal’, sempre senti que era discriminado com base no corpo que tinha, ao longo de toda a formação, independentemente do que jogasse lá dentro…”, confessou Bernardo Mesquita, aproveitando para abrir mentalidades.
“Muitas vezes só se olha para o corpo e não para a inteligência, e é uma pena”, reconhece o jogador do Tirsense, que passou pelo Boavista, Salgueiros, Leixões e Padroense durante a formação.
“Estudo Direito na Universidade Católica do Porto e a minha rotina hoje em dia acaba por ser exigente. Acordo às 7 da manhã para ir treinar a Santo Tirso e tenho de me despachar depois do treino para conseguir estudar o máximo possível”
Se no campo as dificuldades são algo que Bernardo Mesquita gosta de enfrentar, para ser jogador de futebol o atleta confessa que tem tido barreiras para derrubar.
“Ainda este ano tenho que fazer muitos ‘sacrifícios’ principalmente conciliando estudos com o futebol”, disse o atleta do Tirsense, explicando-se em seguida.
“Tenho que ter aulas na faculdade de noite para poder treinar de manhã, não sendo fácil gerir um curso de Direito com a atividade desportiva”, afirmou o jovem jogador, certo de que faz as coisas com “gosto”.
Deitar tarde e cedo erguer
Por isso, quando está no relvado ou na secretária da faculdade, Bernardo Mesquita dá o seu “melhor”. “Como se diz ‘quem corre por gosto não cansa’”, citou o jogador, sublinhando que “são sacrifícios muito fáceis de ser feitos”. Mas exigentes.
“Estudo Direito na Universidade Católica do Porto e a minha rotina hoje em dia acaba por ser exigente. Acordo às 7 da manhã para ir treinar a Santo Tirso e tenho de me despachar depois do treino para conseguir estudar o máximo possível”, relata Bernardo Mesquita, contando como é que consegue conciliar o futebol com os estudos.
“Tento arranjar tempo para, se possível, estar com amigos ou com a minha namorada, e ainda tenho de ir para a faculdade onde tenho três horas de aulas, que por vezes só acabam às 23h30”, detalha Bernardo Mesquita.
Na montanha da vida, há sacrifícios que os jogadores passam mas não sozinhos. Bernardo Mesquita lembra, por exemplo, que os pais são em muitos dos casos aqueles que sofrem para que os filhos procurem a felicidade e os sonhos.
“E esses sacrifícios partem muito mais do lado dos pais (que por muitas vezes andaram a jantar sozinhos e esperavam em casa até tarde, e levavam aos treinos independentemente do trabalho com que estivessem)”, reconhece Bernardo Mesquita, em declarações ao Jogo do Povo, onde falou também de amizades para a vida que se vão colhendo na estrada do futebol.
“O João Sousa está a jogar comigo no Tirsense e fizemos o caminho todo juntos até aos seniores”, mencionou Bernardo Mesquita, certo de que João Sousa é “muito chato mesmo” mas ‘boa peça’.
“Mas é um craque é impecável dentro e fora das quatro linhas”, atirou o médio do Tirsense sobre o colega que tem ajudado muito a enfrentar um Campeonato de Portugal que desafia os jovens jogadores acabados de chegar dos escalões de formação.
“Trata-se de um campeonato muito exigente, com jogadores com mais qualidade e mais fortes fisicamente do que na Divisão de Elite, havendo também mais inteligência tática de todas as equipas”, explicou Bernardo Mesquita ao Bancada.
Um churrasco que acabou com uma pomada picante
O mundo do futebol está carregado de episódios e praxes onde os mais novos acabam por ser ‘vítimas’. E com Bernardo Mesquita não se fez exceção mas sim regra a dado momento, no Padroense, das distritais da Associação de Futebol do Porto, por alturas de uma churrascada do plantel.
“No meu primeiro ano de sénior no Padroense, após um treino e antes de um churrasco de equipa, meteram-me aquela pomada que arde na roupa interior… tive ali uma horinha dura pela frente”, recordou Bernardo Mesquita, entre sorrisos, confessando que, na altura, não achou tanta piada como agora.
Mas o futebol é feito de momentos que ficam e que marcam a carreira para sempre. E quem é do futebol sabe que a paixão está presente ao longo da caminhada, em qualquer dos patamares.
O futebol fabrica ídolos e faz de jogadores verdadeiras lendas, no sonho da ambição onde Bernardo Mesquita também coloca metas e objetivos.
“Adorava defrontar qualquer um dos três grandes, e ter a possibilidade de sentir a atmosfera e estar na pele, por uns momentos, daquilo que é jogar ao mais alto nível”, projeta o jogador do Tirsense, nesta entrevista ao Jogo do Povo.
Bernardo sabe que teria, assim, a possibilidade de “sentir as borboletas na barriga” enquanto ouvia “o barulho do estádio”.
O futuro pertence ao capítulo da imprevisibilidade mas o médio não esconde que sonha alto e trabalha para isso no Tirsense onde se sente realizado aos 21 anos.
“Temos uma equipa com muita qualidade, com um grande grupo, ultimamente não tem corrido tão bem comparando com a forma como começamos, mas ainda estamos completamente dentro de todos os objetivos”, comentou Bernardo Mesquita, certo de que o grupo está preparado para guiar os jesuítas ao sucesso.
“Da forma que temos vindo a trabalhar ainda vamos ser muito felizes… toda a rapaziada merece”. Palavra de Bernardo Mesquita, prático e pragmático, indo direito ao assunto, até porque os sonhos não esperam.