Jogo do Povo
Moncarapachense. Fazer contas à vida para vencer no futebol
2023-11-02 16:30:00
Entrevista a Léo Costa, jogador do Moncarapachense, do Campeonato de Portugal

Por mais prémios, condecorações e honrarias que um jogador possa ter ao longo da carreira, jamais estas podem apagar as distâncias, as conversas que ficam por fazer diretamente, os abraços e os olhares que só chegam através das tecnologias. Por mais prémios, condecorações e honrarias que um jogador possa ter ao longo da carreira, jamais estas podem apagar a paixão pura que se tem quando o amor ao futebol chega e, ainda pequenos, os sonhos se fazem grandes e se tenta ser como os ídolos. 

O tempo, antes comprido no ver de uma criança, avança sem tréguas e chega um dia em que é preciso fazer pela vida na vida, deixar o conforto do lar, a terra onde todos conhecem todos e partir para um outro lugar. É assim tantas vezes em qualquer profissão, no futebol não é diferente.

Há um dia em que é preciso partir para tentar sorrir, vencer e ser alguém, tantas vezes longe da terra, onde o alcançado tem outro sabor e dá outro saber à vida. O dia em que se parte para longe à procura de um sonho deixa marcas, mas é preciso fazer-se esse dia. E no futebol, esse dia chega muitas vezes para muita gente da bola.

Sair da zona de conforto é muito mais do que deixar o pedaço de terra de que de somos herdeiros. É deixar as tradições, os nossos e partir para outro lugar à procura do sucesso. Com Léo Costa, 24 anos, do Minho ao Algarve vai uma grande distância, não tão grande como o desejo do jogador do Moncarapachense em vencer no mundo da bola, como deu conta ao Jogo do Povo.

"Sentia que precisava de um desafio fora da minha zona de conforto. E está-se a comprovar que sim, não só pela época individual mas também a nível coletivo, que está a ser fantástico", reconhece o camisola 7 do Moncarapachense, equipa do Algarve que está em zona de subida na série D do Campeonato de Portugal.

Aos 24 anos de uma vida que futebolisticamente falando foi sempre jogada pelo Minho, próximo da sua Braga natal, ou pela região duriense, Léo Costa procura fintar adversários mas sem nunca se deixar fintar em facilidades; para ele e para os outros. 

Nos relvados do futebol e fora dele, o jogador sabe que nem tudo aquilo que parece é. Por isso, é necessário manter sempre o foco e estar pronto para ajudar e ser ajudado. Porque as dificuldades acabam sempre por surgir quando menos se espera.

Todo o contabilista sabe que é preciso fazer contas à vida

Mas nada que um sorriso em qualquer circunstância não faça de ajuda. "Sou uma pessoa sorridente e que procura sempre ajudar o outro", confirmou o jogador do Moncarapachense, que está certo de que a mudança para o concelho de Olhão, no Algarve, era o desafio que precisava aos 24 anos, mesmo que tenha de dividir-se entre o futebol e a faculdade.

No terceiro ano do curso de contabilidade, já em fase de estágio, Léo Costa - ou Kun, como alguns lhe chamam em alusão ao argentino Agüero - sabe que para que as contas da vida possam bater certo, é necessário ter foco e tudo bem programado.

Por isso, Léo Costa leva a vida e o futebol de forma tranquila e batalhadora num campeonato que obriga os atletas a estarem sempre "preparados". "É um campeonato bastante complicado. É um campeonato onde há qualidade mas diria que o que conta mais é a dureza nos duelos e no coração."

E no palpitar do coração ficam passagens e episódios marcantes, porque o futebol é fértil em jogadas dentro mas também daquelas que levam a gargalhadas do pessoal fora dos relvados.

"Quando chegou ao lugar no balneário pensou que devia estar em isolamento"

Há não muito tempo, Léo Costa presenciou uma onde um colega ficou em 'isolamento'. "Na altura do covid tinha de haver espaçamento entre nós no balneário e um colega nosso, com o qual nós brincávamos muito, foi apanhado na bricadeira", contou o jogador do Moncarapachense ao Jogo do Povo, no Bancada, concretizando depois o resto do episódio.

"Quando chegou ao lugar dele estava cheio de fita adesiva, cones e uma placa de perigo [risos], passando a ideia de que ele tinha covid e de que estava em isolamento", explicou Léo Costa, que não nega que o amigo "João Freitas" é o maior 'chato' que já apanhou no futebol, mas por quem tem uma amizade enorme.

"Ele sabe", resumiu o jogador da equipa que segue focada em tentar lutar pela subida de divisão à Liga 3, um campeonato que é uma prova bem conhecida para a turma do Algarve.

"Quem joga sabe do que falo"

Léo Costa espera que o Moncarapachense continue a caminhada como até aqui para que no fim todos possam festejar o sucesso. Até lá, todos os dias serão de luta, entre a saudade tão grande quanto a distância, mas a certeza de que é preciso fazer valer a pena a carreira no futebol, com a alegria como nos tempos de criança.

"Tantas memórias daqueles torneios em miúdo dos 7 até aos 13 anos em que o mais importante era a bola de futebol para se ser feliz", recordou Léo Costa, admitindo que fica para sempre na memória "o cheiro da relva molhada".

"Quem joga sabe do que falo. O sentimento só pode ser paixão, porque no fundo é isso que me move, a paixão por este desporto", confirmou o jogador do Moncarapachense, em declarações ao Bancada, ciente de que no futebol "o mais importante são as amizades".