Jogo do Povo
FC Oliv. Hospital. Correndo na estrada do futebol e nem são 9 horas de distância
2023-10-19 16:30:00
Entrevista a Pedro Machado, treinador do Oliveira do Hospital, equipa da Liga 3

Se de Bragança a Lisboa são nove horas de distância, como reza a canção, até Oliveira do Hospital não é preciso tanto tempo de caminho. E foi por entre as curvas e as retas na estrada do futebol, onde tantas vezes tudo anda demasiado devagar e, noutras, tudo corre bem rápido, que Pedro Machado abraça o desafio no Oliveira do Hospital, um dos clubes mais prestigiados da Liga 3. Depois da sensacional campanha que estava a fazer no São João de Ver, no Campeonato de Portugal, Pedro Machado volta à Liga 3, onde na última época orientou o Anadia e salvou a equipa da descida.

Curiosamente, Pedro Machado acabaria por baixar de divisão, nunca na ambição, por opção, e assinou pelo São João de Ver. Mas a campanha pelos 'malapeiros' não passou despercebida e as portas do Puro Futebol voltam a abrir-se ao jovem mas já experiente treinador transmontano nascido em Bragança. O Jogo do Povo conversou com Pedro Machado e fica a certeza: ainda que falte tempo para pôr os pés em baixo da mesa para provar os tradicionais arroz de suã e a feijoada dos pastores de Oliveira do Hospital, não falta ambição de guiar o clube para o caminho do sucesso.

A lição que não chega da escola

É ele, Pedro Machado, o homem escolhido pela administração do Oliveira do Hospital que quer colocar o sorriso nos rosto dos adeptos da formação que milita na Liga 3. E o transmontano sabe o tamanho da missão que lhe é confiada na região centro de um Portugal que Pedro Machado se habituou a ver em 'formato' de bola de futebol. Porque o futebol é sempre princípio, meio e fim para quem ama esta modalidade que os poetas batizaram de desporto-rei.

Por isso, Pedro Machado, um homem caseiro, admite que lá por casa a bola está sempre no 'prato do dia'. "Se estiver a dar um jogo de qualquer realidade das nossas competições, dou sempre preferência a isso", contou Pedro Machado, ele que tem muita "ambição" de melhorar a cada dia.

"O Pedro Machado é um jovem que carrega dentro dele muita ambição, que trabalha muito e se dedica bastante, um profissional que acredita muito naquilo que faz, naquilo que idealiza, naquilo que faz acontecer", esclareceu o técnico do Oliveira do Hospital, nesta entrevista ao Bancada, a poucos dias de regressar aos jogos da Liga 3.

O tempo não tem sido muito, mas a paragem das competições para os jogos de seleção e da Taça de Portugal abriram uma janela de oportunidade para Pedro Machado estudar mais e melhor a equipa que vai treinar, sendo que, a este nível, o conhecimento é já alargado para quem é do futebol.

Mas Pedro Machado sabe que há lições que a escola não dá, e cabe ao próprio optar pelo caminho a seguir. Foi assim na última época quando deixou a Liga 3 e abraçou o desafio do São João de Ver no Campeonato de Portugal. Porque Pedro Machado desceu de competição na certeza de que a subida aconteceria, sempre alicerçada no foco e no trabalho deste transmontano que gosta de estar por casa.

"A nível pessoal divido-me entre a família e os amigos e sou uma pessoa bastante 'caseira'", disse-nos Pedro Machado, confirmando que, lá por casa, é preciso gerir o 'balneário', com 'atletas' especiais.

"Dedico muito do meu tempo aos meus filhos", referiu o técnico, confirmando igualmente que gosta de "muito de estar com os amigos" que são "muito poucos por opção", mas a quem Pedro Machado "atribui muito valor".

"Gosto de ser respeitado pela minha competência e não pela imposição"

Por entre caminhos de xisto e paisagens de 'cortar' a respiração, em Oliveira do Hospital, Pedro Machado advoga uma forma muito próxima de ser e estar com o seu plantel. Por isso, faz notar ao Bancada que o desafio inicial no clube que agora representa é chamar a si os jogadores para que todos percebam as suas ideias e da sua equipa técnica.

É, pois, com essa envolvência, que Pedro Machado lança a receita para o sucesso. "Gosto de ter uma relação próxima com eles, gosto de ser respeitado pela minha competência e não pela imposição comportamental."

"Gosto que a minha equipa tenha prazer naquilo que está a realizar"

Aquilo que o balneário é e representa tem uma palavra sobre o sucesso ou o insucesso no campo. Mas é dentro das quatro linhas que os protagonistas se revelam. E nesse capítulo, Pedro Machado recorre ao foco no trabalho para que as suas equipas possam ter resultados mas também proporcionar um espetáculo, pois, afinal, o futebol é uma festa.

"Gosto essencialmente que a minha equipa seja organizada, que exista um padrão de comportamentos dentro de uma organização coletiva, uma equipa equilibrada nos dois momentos de jogo, com e sem bola, e que privilegiem o jogo, a qualidade com bola, a criatividade individual e o prazer, gosto que a minha equipa tenha prazer naquilo que está a realizar", detalhou o treinador transmontano, nesta entrevista ao Jogo do Povo, no Bancada.

E como é o trabalho da equipa técnica de Pedro Machado? 

Por entre retratos e refúgios da natureza que dão excelentes imagens para captar a paisagem, no futebol, equipa do Oliveira do Hospital quer ser também porta estandarte do concelho e ficar bem na fotografia. Para isso, a formação do centro conta com uma equipa técnica que trabalha em perfeita sintonia, como confirma Pedro Machado.

"Todos nós vemos o jogo em particular, todos nós fazemos os cortes de ações/momentos individuais/coletivos que entendemos serem relevantes, e depois em conjunto analisamos", contou o treinador, que gosta de desafiar os seus colaboradores a terem "ações diversificadas dentro da equipa técnica".

"Delego as competências de cada um, mas trabalhamos muito em conjunto", explicou o treinador do Oliveira do Hospital, numa altura em que, apesar da pausa competitiva, dado que chega a um novo clube, embora conheça a realidade, o trabalho é intenso, dedicado e frequente, como se a azáfama das formigas se tratasse para que na hora H tudo esteja pronto.

O que contam são as pessoas e o legado que deixam como o Pepito

Agora é em Oliveira do Hospital que a vida segue para Pedro Machado e para os seus colaboradores, colecionando episódios, vivências e memórias que ficam gravadas acima de tudo porque há vida, há gente, há alma. E há um legado que fica.

"O que me fica na memória são mesmo as pessoas, e tenho de destacar aqui uma, que tive o prazer de trabalhar com ele no Espinho e no São João de Ver, o fisioterapeuta Pepito".

Ciente da importância de valorizar o futebol mas as pessoas, o treinador confirmou ao Bancada que é no trabalho e na dedicação que tem as suas maiores características para vencer.

"Dedico-me muito, trabalho muito", admitiu, sem falsas modéstias, este transmontano de vontades simples mas de sonhos grandes para alcançar numa carreira de treinador que vem já de longe.

"Com 16 ou 17 anos comecei a ter o prazer do treino, a questionar o porquê das coisas, o porquê daquele exercício, e então percebi qual era o caminho para mim", recordou Pedro Machado, lembrando que foi o colo de Mãe D'Água que o embalou para esta vida.

"Com 19 anos comecei a treinar os sub-15 do FC Mãe D’Água, em Bragança. Foi aí que tudo iniciou", relembrou o treinador que segue iluminado na estrada do futebol, mas sempre ciente de que as coisas podem sempre mudar rapidamente de um momento para o outro.

É assim na certeza de que os passos dados são firmes e constantes, que Pedro Machado tem as suas bases, certo de que veio subindo patamar a patamar desde os tempos em que também treinou a formação do Paredes, contando também com passagens pelo Penafiel e pelo Freamunde, até que foi em SC Espinho que "a convite do mister Calika", a experiência do futebol passou a ser bem mais séria.

Pedro Machado já tem o seu nome inscrito nas páginas de sucesso de vários clubes por ter feito parte da equipa técnica de subidas de divisão à I Liga. E tendo lá chegado 'a miúde', não dá cabo da tolerância. Agora, a meta é outra e a realidade é a do Oliveira do Hospital. Mas o sonho, esse, comanda a vida e na estrada do futebol Pedro Machado segue agora correndo para o sucesso no Puro Futebol.