Jogo do Povo
Anadia. O sonho na palma das mãos
2023-11-16 16:25:00
Entrevista a Márcio Rosa, guarda-redes do Anadia, da Liga 3

Entre o amornar as lembranças que marinheiram pelas águas de Cabo Verde, Márcio Rosa teve sempre a ideia de ser feliz no mundo da bola. E porque nem todos sonham em rematar à baliza, há quem tenha, antes por missão, travar remates e, com uma luva em cada palma da mão, procure a sorte.

Aprender a voar alto e longe entre os postes é mais do que uma tarefa. Para muitos, é uma missão, uma forma de vida, de ser e estar no futebol, que embeleza os dias, mais ou menos compridos, de distâncias que se fazem tantas vezes tão longas de saudade.

A baliza raramente é escolhida para fotos da praxe mas para Márcio Rosa, do Anadia, é um altar onde coloca tudo aquilo que sabe ser e fazer, tudo aquilo que aprendeu e tem por viver.

A entrevista que começou dentro de um avião

Entre o atar e desatar de um nó de saudade da sua terra Cabo Verde, é em Portugal que luta diariamente para ser especial junto dos ferros, onde tantas vezes aqueles que se dedicam às balizas passam de heróis a vilão num ápice, mais veloz que um bater de asas de uma borboleta.

E se os dias podem ser mais ou menos fáceis, é preciso ir sempre para dentro de campo e fazer pela vida. Márcio Rosa caminha para ser feliz, certo de que, mesmo que lágrimas possam cair pelo rosto, quando as coisas não correm como previsto, lágrimas são água que não lhe tapam o desejo de ver nitidamente a felicidade no futebol. O Jogo do Povo conversou com o internacional por Cabo Verde, numa entrevista que começou dentro de um avião.

Márcio da Rosa está há várias temporadas no futebol português e tem feito carreira por vários emblemas. Agora, o Bancada encontrou-o nos 'Trevos da Bairrada', em Anadia, onde tem vindo a colecionar minutos no clube que milita na Liga 3.

Certo de que águas calmas não fazem bons marinheiros, este internacional pelos 'tubarões azuis' continua a sonhar com a felicidade nos olhos. "Sou um jovem com muita ambição e com vontade de trabalhar para chegar aos patamares mais alto do futebol", começou por esclarecer o guardião do Anadia, que tem no símbolo do clube um aliado, já que o Anadia é representado por um trevo verde de quatro folhas.

A equipa que joga no Estádio Municipal Eng.º Sílvio Henriques Cerveira, é hoje casa para Márcio Rosa, guardião de 26 anos, já por várias ocasiões internacional pela sua seleção de Cabo Verde.

Longe dos que o viram nascer, Márcio Rosa procura um lugar ao sol, com muito trabalho e ciente de que há cansaços que sabem bem quando se luta de forma "séria e honesta".

Para o guarda-redes, a mente foi sempre "forte" nesse sentido desde os tempos em que começou a jogar pelas ruas de Cabo Verde. "Quando era criança comecei a jogar por causa de um dos amigos que tinha na minha escola. Ele jogava numa das melhores escola de futebol em Cabo Verde e então incentivou-me a experimentar", recorda Márcio Rosa, nesta entrevista ao Jogo do Povo, no Bancada.

Aos 9 anos de idade, o agora guarda-redes confessa que ficou conquistado e agarrado pelo amor ao futebol. "Ganhei uma paixão enorme e vi que tinha capacidade para estar ligado ao futebol e continuei até agora".

Uma paixão nascida na Praia e na escola Epyf

Hoje, o futebol é a praia de Márcio Rosa como a cidade que o viu nascer. "No meu bairro chamado Pensamento na Cidade da Praia começei a jogar com os meus vizinhos mas só despertei a verdadeira paixão pelo futebol quando entrei na escola de futebol Epyf", fala, com orgulho, sobre esse passo que deu para se tornar jogador de futebol.

A baliza é sacerdócio para Márcio, os postes o altar, a bola a sua ordem religiosa, procurando não apenas ser o último reduto na defesa como o primeiro a lançar o ataque, na procura de golos que os colegas hão-de verbalizar nas redes adversárias, numa Liga 3 onde é preciso trabalhar "muito" e puxar pelas capacidades dos jogadores.

"É uma liga muito competitiva e que tem muita qualidade", reconheceu Márcio Rosa, explicando que, agora, vê com satisfação que a Liga 3 seja palco de mediatismo pois há "talento" nesta que é conhecida como a liga do 'puro futebol'.

"É uma liga com muita visibilidade e que permite aos jogadores com ambição chegar a patamares mais acima", admite o guarda-redes do clube da terra onde o leitão é imperador e o vinho da Bairrada costuma fazer as honras aos visitantes.

Visitante é coisa que, por estes dias, Márcio Rosa faz à sua Cabo Verde de sempre, porque os minutos estão contados e a seleção está entre os objetivos. "Sempre que vou para o meu país sinto-me em casa e tenho oportunidade de estar com a minha filha, mesmo que seja pouco tempo. Ainda assim, é bom pois permite-me renovar energias e ganhar forças para continuar a lutar"

Márcio Rosa, guarda-redes, sabe de onde veio e para onde vai. "Eu sei de onde eu saí e o caminho que já tive que trilhar para chegar onde estou agora", conta o jovem guarda-redes, certo de que é preciso "foco" para evitar recorrer ao desenrasque. Por isso, quem o quiser ver, é em campo, porque longe das quatro linhas é por casa que gosta de estar entre "filmes e meditações", acompanhando sempre de perto, mesmo que longe, a "filha a crescer".

O quadro do apuramento no CAN nas paredes lá de casa

O futebol é momento e contam-se muitas passagens, alegrias, tristezas e episódios entre lágrimas de alegria ou tristeza. O futebol, casa e refúgio, faz crescer e aprender mas deixa sempre marcas e recordações.

Para lá dos relvados, Márcio Rosa mantém intactas todas as memórias, as boas e as más, mas nas paredes lá de casa repousam alguns momentos marcantes, que marcam a vida e alma do jogador como um célebre quadro que o Jogo do Povo conseguiu testemunhar.

"Este é um quadro de quando nos apuramos contra Moçambique para o CAN. Tenho também um quadro com a minha camisola do primeiro jogo que fiz no CAN e que ficou 1-0 contra a Ethiopia", diz, profundamente satisfeito e grato Márcio Rosa, lembrando o embate que teve nos Camarões e que jamais vai esquecer.