Figo, Zidane, Nedved, Di Stefano ou Vidal, em histórias que marcaram o futebol europeu
18 jogos, nove eliminatórias, uma final, muitas histórias. Real Madrid e Juventus jogam, neste sábado (19h45), a final da Liga dos Campeões. Em Cardiff, espanhóis e italianos defrontam-se pela 19.ª vez, naquele que é o segundo confronto mais repetido na história da competição (só superado pelos 24 duelos entre Real e Bayern).
Até agora, o equilíbrio é total: oito vitórias espanholas, oito italianas e dois empates. Contudo, nas duas vezes que se defrontaram em campo neutro, o triunfo sorriu à equipa de Madrid.
Quem se sagrar campeão europeu, neste fim-de-semana, ganhará vantagem no historial entre Real – equipa com mais títulos europeus (11) – e Juve – equipa com mais finais perdidas (6) –, um duelo com 55 anos de história e muitos momentos marcantes.
O dia em que Di Stéfano obrigou a Juve a trocar de equipamento
Em 1961/62, nos quartos-de-final da Taça dos Campeões, o Real Madrid, de Di Stéfano e Puskás, defrontou a Juventus, de Sívori e Stacchini. Os italianos eram virgens no lote dos oito melhores da Europa, enquanto o Real trazia a bagagem de cinco títulos europeus consecutivos entre 56 e 60.
Depois da vitória (1-0) em Itália, o Real Madrid contava com uma eliminatória controlada. No entanto, no segundo jogo, um golo de Sívori deu aos italianos o direito a disputar um terceiro jogo, em campo neutro (Real venceria 3-1, em Paris).
Deste segundo duelo, fica a história da troca de equipamentos, ordenada pela lenda Alfredo Di Stéfano, naquele que é um dos momentos insólitos da história do futebol europeu.
Nessa partida, o Real apresentou-se com o tradicional equipamento branco, enquanto a Juventus optou por um uniforme todo preto, em vez do habitual listado. O problema é que os árbitros também iam vestidos de preto.
Perante a confusão criada aos jogadores do Real, Di Stefano, ao intervalo, foi à cabine do árbitro, levando um equipamento violeta. “Se os jogadores da Juventus não usarem este equipamento que lhes emprestamos, nós não aparecemos para a segunda parte”, terá dito o avançado. O ultimato foi aceite e o árbitro obrigou os italianos a mudarem de uniforme.
Coincidência ou não, o facto é que o Real, até esse jogo dos quartos-de-final, não perdia em casa há mais de sete anos. Maldição da roupa preta?
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O sorteio fatídico que mudou a Champions e ajudou o FC Porto
Na temporada 86/87, Real Madrid e Juventus eram duas das maiores potências europeias. Na segunda ronda da Liga dos Campeões, o sorteio ditou um duelo entre espanhóis e italianos. Alegria pelo “jogaço”, sentiam os adeptos de futebol, raiva pelo duelo tão cedo na prova, sentiam organizadores e patrocinadores.
O maldito sorteio ditou que uma destas equipas seria eliminada numa fase precoce da competição, impedindo a otimização de receitas e estragando os planos de um destes tubarões europeus que, com a eliminação, ficariam confinados às competições internas (acabou por ser a Juventus a cair, no desempate por penáltis).
“Estes dois clubes investiram pequenas fortunas, para depois verem um mau sorteio atirá-los para fora da prova”, explicou Harry Philp, especialista em negócio desportivo, em declarações à BBC, em 2016.
Jorge Valdano, estrela do Real, lamentou o sorteio: “Foi terrível encontrar a Juventus tão cedo. Poderia ter sido a meia-final ou até a final”.
Esta competição, a eliminar, não era do agrado das potências italianas e espanholas, que começaram a pressionar a UEFA para introduzir uma fase de grupos, com sorteio condicionado (mais jogos, mais receita, mais proteção aos tubarões europeus). Desde 1992, ano em que a UEFA cedeu e introduziu as alterações propostas, os clubes espanhóis e italianos ganharam 14 das 24 finais da Champions. Até aí, tinham ganho quatro das anteriores 24.
A eliminação da Juventus acabou por ajudar o FC Porto, que se livrou desse tubarão e venceu a Liga dos Campeões, em 1986/87, na célebre final de Viena, com golos de Madjer e Juary.
Lippi entre uma estátua e o despedimento
Em 95/96, a Juventus eliminou o Real Madrid, depois de ter perdido na primeira mão, em Madrid. O golo de Raúl ameaçava a eliminação italiana, mas os golos de Del Piero e Padovano, em Turim, levaram a Juve até à meia-final. A equipa acabaria por ser campeã europeia, batendo o Ajax, na final, por penáltis.
A história curiosa da eliminatória entre Real e Juventus acaba por ser da autoria de Marcelo Lippi, treinador dos italianos. No final do segundo jogo, o técnico transalpino disse uma frase que ficou na história. “Li, na imprensa, que, se não ganhássemos, eu seria despedido, e que, se ganhássemos, eu teria direito a uma estátua. Será possível haver um meio termo?”
Um jogo que muda o futuro
20 de maio de 1998. Em Amesterdão, na final da Champions, o Real Madrid bateu a Juventus, por 1-0, graças a um golo de Pedrag Mijatovic, num remate de ângulo apertado.
Esse jogo marcou um ponto de viragem no futuro do clube espanhol e o início do descalabro dos italianos. A partir daquele ano, o Real, com o golo do jugoslavo, voltou às conquistas europeias, algo que não acontecia desde 65/66. Depois disso, ainda venceu a prova em 2000, 2002, 2014 e 2016.
Já a Juventus, depois dessa derrota, iniciou um ciclo negro: perdeu as finais 2003 e 2015 e nunca mais conquistou um título europeu. Nessa equipa italiana jogava… Zinedine Zidane, atual treinador do Real Madrid.
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O penálti de Figo e o inferno de Nedved
A meia-final de 2002/03 trouxe mais um duelo entre espanhóis e italianos que, desta feita, caiu para o lado transalpino, por apenas um golo. À vitória (2-1) espanhola, em Madrid, seguiu-se um triunfo italiano, por 3-1, num jogo em que o português Luís Figo falhou um penálti que daria o apuramento ao Real Madrid.
Na Juventus, apesar do passaporte para a final, também houve motivo de tristeza. Pavel Nedved foi amarelado no jogo com o Real Madrid e falhou a final. A reação do jogador, essa, também ficou na história, depois de se ter ajoelhado, em campo, a chorar. “Estou tão triste que era capaz de morrer”, disse o checo, no final do jogo.
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Um Capello louco
Em 2004/2005, a Juventus voltou a eliminar o Real Madrid, mas nos oitavos-de-final. Mais uma vez, os italianos fizeram de Turim uma fortaleza. Depois de perderem 0-1 em Madrid, venceram, em Itália, por 2-0, com Trezeguet a enviar o jogo para prolongamento, a 15 minutos do fim. Já na meia hora extra, Marcelo Zalayeta marcou o golo histórico que apurou os italianos.
A imagem deste jogo acabou por ser o festejo efusivo de Fabio Capello, treinador da Juventus, conhecido pela sua sobriedade e contenção nos festejos. Neste jogo, o golo de Zalayeta mostrou um Capello… diferente.
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Aplausos espanhóis para Del Piero
Em 2008/09, o sorteio ditou que Real e Juventus se encontrassem logo na fase de grupos da Liga dos Campeões.
No primeiro jogo, em Itália, a Juve venceu por 2-1. No segundo jogo, a Juventus, com Tiago no onze, conseguiu uma vitória em Madrid (2-0), 46 anos depois. A exibição de Del Piero, que bisou, mereceu honras de aplausos em pleno Santiago Bernabeu, numa noite memorável para o italiano: “nunca esquecerei essa noite. Os adeptos do Real aplaudiram-me de pé, quando saí”.
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Paródia a Vidal
Na edição 2013/14, o Real Madrid venceu a “la décima”, na final disputada no Estádio da Luz. Antes, na fase de grupos, houve duelo entre Real Madrid e Juventus.
No jogo de Madrid (2-1, com bis de Ronaldo), o protagonismo acabou por ser não para o português, mas para o chileno Arturo Vidal.
O médio da Juventus correu o mundo, através de televisões e internet, depois de ter ficado a pedir penálti num lance caricato em que o próprio Vidal remata. Não na bola, mas no chão.
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A festa foi de um homem da casa
Em 2014/15, a meia-final da Liga dos Campeões foi decidida por um jogador que a Juventus contratou ao Real Madrid, poucos meses antes. Depois do 2-1 em Itália (Morata, Tevez; Ronaldo), o golo de Ronaldo, em Madrid, colocava os espanhóis na final da prova.
Outro plano tinha Álvaro Morata, avançado que o Real vendeu à Juventus no início dessa temporada. O golo do espanhol, aos 57 minutos, colocou a Juve na final frente ao Barcelona, que haveria de perder (1-3). Morata não festejou o golo.
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