Pedro Caixinha lidera contingente português para fazer regressar o Rangers ao topo do futebol escocês
2017/2018 não será, ainda, a temporada de regresso do futebol escocês ao seu esplendor máximo. Não será, sequer, a temporada em que a Premiership escocesa voltará a reunir todas as grandes equipas do país. Algo que, relembre-se, não acontece desde que o Rangers entrou em processo de insolvência e caiu para a quarta divisão do país. Se é certo que, esta temporada, o histórico clube de Glasgow e, ainda hoje, o mais titulado do país, já competiu na primeira divisão do futebol escocês, o Dundee United, por exemplo, não conseguiu seguir o exemplo do Hibernian e irá manter-se mais uma temporada na segunda divisão escocesa.
Celtic, Rangers, Aberdeen, Hearts, Hibs e Dundee United. Desde 2011/2012 que a Premier League da Escócia não recolhe na mesma competição os seis grandes clubes do país. É certo que dois clubes estarão sempre acima de todos os outros mas, pela história e palmares de qualquer um deles, a não presença de um dos seis na primeira divisão escocesa atrasará por mais uma temporada o regresso do futebol escocês ao seu esplendor máximo.
Depois de em 2016/17, o Rangers ter disputado a primeira divisão escocesa pela primeira vez ao fim de quatro anos de ausência, tanto Hibernian como Dundee United disputaram no Championship o desejado regresso à primeira divisão do país. Por esta altura o futebol escocês está ferido e quatro dos seis maiores clubes do país passaram pela segunda divisão da Escócia nos últimos anos. Se o Hibs terminaria a presente temporada como campeão da divisão secundária escocesa, o Dundee United não foi além da terceira posição, um lugar que colocou os Tangerines no playoff de promoção à Premiership.
Na segunda liga escocesa, tal como em Inglaterra, a promoção não é literal. É -lo no caso do campeão, contudo, segundo, terceiro e quartos classificados disputam um playoff entre si. Terceiro e quarto enfrentam-se numa primeira fase a duas mãos, com o vencedor a defrontar o segundo classificado na meia final de promoção, também a duas mãos. Na final, o vencedor da meia final disputa a final de promoção perante o 11º classificado da Premier League.
Como campeão, o Hibernian, clube de Edinburgo e quinto clube mais titulado do país alcançou a Premier League mas o Dundee United terminou a perder a final de promoção perante o Hamilton Academical da Premier League. Os Tangerines, que contam passagens pelas competições europeias, venceriam ambos os rivais do Championship no global das duas partidas, cedendo apenas um empate nas meias finais perante o Falkirk. Contudo, na final, perante os primo divisionários Accies, o Dundee United não foi além do nulo em casa, perdendo a segunda mão no Lanarkshire por 1-0.
Procurar o regresso à glória passada com sotaque português
Em 2016/17, ao fim de quatro anos fora da primeira divisão, o Rangers regressou por fim à Premier League escocesa. O regresso não foi tão tranquilo como desejariam os adeptos mas dificilmente a história se poderia ter escrito sob outras linhas. Os vários anos passados nas divisões inferiores escocesas obrigaram a um corte qualitativo significativo no plantel do Rangers e, hoje, o conjunto de Glasgow é uma equipa construída maioritariamente com atletas contratados às também divisões inferiores de Inglaterra. O panorama, porém, está a mudar por Ibrox.
2016/17, por Ibrox, iniciar-se-ia sob o comando de Mark Warburton mas terminaria com Pedro Caixinha como treinador do Rangers. Se o futebol não convencia e as contratações do clube se revelavam um erro, vários problemas fora de campo tornaram insustentável a posição do técnico inglês. Em Fevereiro, por fim, e debaixo de uma verdadeira confusão, Mark Warburton acaba por deixar vaga uma posição que seria ocupada um mês mais tarde por Pedro Caixinha.
“Caixinha foi contratado pra substituir Mark Warburton que claramente deixara de ser o homem certo para o Rangers. Trazer alguém novo era estritamente necessário”, garante ao Bancada Scott Mullen, jornalista desportivo escocês do conceituado The Herald, um dos cinco jornais mais antigos do Mundo. Os poucos meses de Caixinha, até agora, ao comando do Rangers, não foram fáceis. “Mesmo neste curto espaço de tempo, Caixinha teve de contestar algum descontentamento. Jogos maus contra o Celtic na Taça e no Campeonato levantaram algumas dúvidas”, garante-nos. O contexto, aliás, não ajudou Caixinha. Apesar da necessária e desejada saída de Warburton, o empate perante o Celtic conseguido pelo interino Graeme Murty, não jogou a favor do técnico português. “Desde aí, o Rangers elevou o nível e terminou a temporada em excelente forma”, avalia Mullen.
O presente, o futuro e a “Invasão Portuguesa” em Glasgow
Scott Mullen assegura-nos que a contratação de Pedro Caixinha apanhou o futebol escocês desprevenido. O português pode ainda não ter convencido os adeptos mas a grande maioria dos apoiantes do Rangers acredita que tal se deve principalmente à falta de qualidade do seu plantel. Caixinha estará, para já, isento de culpas. “Ele foi visto como uma contratação supreendente. Vindo do Catar, não era certo que este fosse o homem ideal para um clube com tamanha história e tradição, com tanta pressão e tantas expetativas”, defende. “Este é um clube cujos fãs querem estar na Liga dos Campeões e a festejar títulos. Houve uma desconfiança inicial e os jogos contra o Celtic não ajudaram”, acrescenta Mullen antes de nos garantir que, apesar de tudo, os adeptos do Rangers não esperavam milagres: “Apesar disso, a grande generalidade dos adeptos acolheu-o com carinho e com a consciência de que a forma intermitente da equipa se deveu mais à falta de qualidade do plantel que a uma possível falta de qualidade de Caixinha”.
Depois de meses a contratar jogadores às divisões inferiores de Inglaterra, o Rangers parece disposto a dar um murro na mesa e a alterar toda a política de transferências em função do seu novo treinador. Sem surpresa, incursões nos mercados português e mexicano já tiveram lugar e, Scott Mullen, acredita que não ficarão por aqui. “Todos esperavam que Caixinha se mexesse rapidamente no mercado. O recrutamento no Rangers dos últimos anos tem sido péssimo, oferecendo contratos de longa duração a jogadores que claramente não levariam o clube para outro patamar. Sob o comando de Warburton grande parte das contratações surgiram das divisões inferiores de Inglaterra e isso não resultou”, avalia.
“Não é surpresa que dados os resultados ao longo da temporada e em especial perante o Celtic, uma mudança drástica teria de ocorrer. Rapidamente. O Rangers disputará a primeira eliminatória da Liga Europa já em Junho de modo que a pré-época até já se iniciou há uma semana e já chegaram ao clube quatro jogadores”, explica-nos Mullen. O jornalista do The Herald entende que este é só o princípio e que muitos negócios ainda irão ocorrer. Como o de Candeias, claro está. “Caixinha já referiu que iria contratar jogadores com fogo e com um temperamento semelhante ao seu, portanto não surpreende que esteja a olhar para jogadores com este tipo de características. Há um grande optimismo nos adeptos do Rangers que esta nova abordagem trará muito melhores resultados”, assegura.
Um futebol habituado ao sotaque português
Desde há várias décadas que o futebol escocês se habituou a, também ele, falar português. Jorge Cadete é um ídolo na zona verde de Glasgow com os adeptos do Celtic, ainda hoje, a cantarem músicas com o seu nome; no Rangers, Pedro Mendes, é uma espécie de herói de culto e Paul Sérgio, no Hearts, conseguiu a proeza de conquistar a Taça da Escócia em 2012.
Em 2017, o Rangers é agora mais português do que nunca. Com Caixinha ao comando e com várias contratações no campeonato português – e ainda Bruno Alves -, o histórico de Glasgow promete tornar-se um dos clubes estrangeiros mais populares em Portugal nos próximos meses. Mas quais são, afinal, as reais ambições do clube?
“Os adeptos do Rangers quererão ver o clube lutar por um título mas será muito improvável que tal aconteça. O objetivo deverá ser terminar acima do Aberdeen e estabelecer o clube na segunda posição do campeonato, procurando o sucesso nas Taças nacionais. Dado que a Liga Europa começará tão cedo, conseguir chegar à fase de grupos será tarefa árdua. O Aberdeen estará mais fraco na próxima época [e o Rangers já contratou Ryan Jack, por exemplo, peça fulcral na equipa do Aberdeen] pelo que o segundo lugar é um alvo realista”, preconiza Scott Mullen.
O Rangers continua com um longo caminho por percorrer para que consiga regressar à glória passada e, por esta altura, o Celtic é um clube a anos luz de qualidade da equipa de Pedro Caixinha. Ainda para mais, Brendan Rodgers elevou a equipa para um patamar ainda superior. “Rodgers transformou uma equipa que perdeu títulos com Deila num clube imbatível em solo doméstico [recorde-se que o Celtic venceu um inédito triplete doméstico sem qualquer derrota em toda a temporada]. O Celtic apenas ficará ainda mais forte. Dembélé tem sido apontado ao Chelsea e caso o clube o mantenha poderá ser uma peça chave numa possível boa campanha europeia do Celtic”, prevê Mullen que, garante, os tempos não serão fáceis para o Rangers nos próximos anos nesta batalha particular do Old Firm: “Mesmo sem Dembélé o Celtic é demasiado forte para o Rangers”, avalia.
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