Imagine que a equipa da sua terra iria ao playoff de subida, no Campeonato de Portugal, mas sem poder subir à Segunda Liga. Seria impossível, certo? Errado. Pelo menos em Espanha não só é possível como é uma realidade para o Deportivo Fabril, filial e equivalente à equipa B do Deportivo Corunha.
O “chefe” – o Depor – vai descer de divisão na Liga Espanhola e, na próxima temporada, estará no segundo escalão. Por outro lado, o Fabril está na segunda B (terceiro escalão) e apurado para o playoff de subida à segunda divisão. Apesar de ainda faltar uma jornada para o final da segunda divisão B, o Fabril já sabe que será primeiro ou segundo classificado. Em lugar de playoff, portanto.
Os regulamentos não permitem que clubes filiais disputem o mesmo campeonato, pelo que o encontro das duas equipas na segunda divisão está totalmente inviabilizado. Resta, portanto, que o Fabril (treinado pelo ex-internacional uruguaio Gustavo Munúa) jogue o playoff de subida sem nada por que lutar, a não ser o orgulho e o prazer de vencer.
Eles não podem? Vamos nós!
Alguns clubes – os que estão logo abaixo do Fabril, claro – já tentaram que o clube renunciasse à participação no playoff ou que a entidade organizadora os impedisse de jogar. Nada feito.
O próprio clube quer jogar o playoff, mesmo sabendo que não pode subir, como forma de premiar os jogadores pela boa temporada realizada. Há ainda outro pormenor que justifica a decisão do clube de jogar o playoff: caso aconteça alguma descida administrativa na Liga Espanhola – cenário que pudesse, eventualmente, salvar o Depor da descida –, então o Fabril já poderia subir. E só o fará se, claro, jogar e ganhar o playoff.
Estas eventuais descidas administrativas (com base em incumprimentos financeiros dos clubes) só são analisadas em junho. E é aqui que reside a argumentação do Fuenlabrada, um dos clubes atrás do Fabril, que fala de um vazio legal que até pode impedir o Fabril de jogar o playoff. O que o “Fuenla” diz é que, segundo os regulamentos, caso esteja confirmado que não vão existir descidas administrativas (ou seja, que o Depor irá mesmo descer), então o Fabril não pode jogar o playoff. Havendo ainda a possibilidade de descidas administrativas, então o Fabril tem o direito de o jogar, se assim entender. Este desencontro de calendários entre as diferentes divisões motiva esta janela de oportunidade, mas, segundo os regulamentos, a data de 30 de junho, estipulada para que se saibam as classificações definitivas, permite que, até lá, o Fabril dispute o playoff.
Há, no entanto, quem diga que, por uma questão de respeito, o clube deveria renunciar ao playoff. Transcrevemos uma opinião de Jesús Mata, jornalista espanhol, na “Marca”: “Deveriam renunciar. É certo que ganharam esse direito em campo, mas lutar por um objetivo impossível é uma falta de respeito para o resto das equipas, que poderiam lutar por algo que custa horrores conseguir”.
Sporting Gijón em situação parecida, mas ao contrário
Esta situação pode também acontecer com o Sporting Gijón, mas em moldes ligeiramente diferentes. A equipa está a lutar para subir à Liga Espanhola e a equipa B, tal como o Fabril, está em posição de ir ao playoff de subida ao segundo escalão.
Acontece que o Gijón B terá mesmo de jogar esse playoff porque é possível que a equipa A suba ao primeiro escalão e, assim, a equipa B já poderá subir ao segundo.