O Liverpool FC é propriedade de John W. Henry, o americano que livrou os Red Sox de uma maldição
Imagine-se nesta situação. Está a ver um jogo de futebol. Na mesma sala está o dono de um dos maiores clubes de futebol do mundo e dá por si a explicar, a esse senhor, o porquê de o árbitro ter anulado um golo da equipa que ele comprou há cerca de um ano porque o senhor não percebe muito de futebol. Surreal, não é? Pois bem. Mas foi mesmo isso que aconteceu com David Conn, um jornalista inglês que viajou até aos Estados Unidos para estar com o dono do Liverpool FC, John W. Henry.
Este relato do “Guardian” data de 13 de outubro de 2011 e vamos acreditar que John W. Henry já aprendeu um pouco mais sobre o soccer. Mas a questão é outra: o que terá convencido um senhor na casa dos 60 anos a querer comprar um clube do qual pouco conhecia e que, para além de estar falido, pratica um desporto do qual não percebia nada? Simples. Henry pensou que podia fazer com o Liverpool FC aquilo que fez com os Boston Red Sox, um histórico do basebol.
Aos olhos de John W. Henry, dono maioritário da Fenway Sports Group (FSG), os traços históricos da equipa de basebol que comprou em 2001 assemelham-se aos do gigante clube inglês que adquiriu em 2010.
Quando John W. Henry tomou conta dos Red Sox a equipa vivia sob uma maldição. Aquele que é um dos históricos clubes de basebol não vencia um campeonato (chamam-lhe o World Series) desde 1918 (!!!) deixado para outros a dominância da modalidade. Ora, a travessia pelo deserto do Liverpool FC é menos extensa, mas há quem fale em maldição. É que o Liverpool não vence o título maior do futebol inglês desde 1990, ano em que conseguiu o seu 18.º campeonato.
John W. Henry levou os Red Sox ao tão desejado título três anos após a compra do clube e pensou que poderia fazer o mesmo com o Liverpool FC. A verdade é que, apesar de algumas semelhanças entre os dois clubes, os contextos e as realidades ao redor são muito distintos. Primeiro, na prática da modalidade: apesar do aspeto aleatório que qualquer desporto contém, o basebol apoia-se muito em dados estatísticos e a base de recrutamento funciona de maneira diferente à do futebol, este com maior carga de subjetividade.
Outro aspeto que separa a as realidades vividas nos dois lados do Atlântico é a forma como as receitas dos clubes são geridas. Nos Estados Unidos é a Major League Baseball (MLB) que gere os lucros dos clubes repartindo-os de forma igualitária entre todos os clubes, ao contrário do que se passa no Velho Continente.
Um dos primeiros atos de gestão da FSG, depois de ter resgatado o Liverpool FC da bancarrota onde após anos de gestão dos, também, americanos Hicks e Gillett foi a contratação de Kenny Dalglish para o cargo de treinador, uma das lendas vivas do clube da cidade dos Beatles.
A verdade é que os objetivos nunca foram alcançados e o Liverpool falhou consecutivamente o objetivo principal: vencer o campeonato inglês. Mais. Nos oito anos com John W. Henry ao leme do clube, o Liverpool apenas por duas vezes se qualificou para a Liga dos Campeões. A melhor época no reinado de Henry aconteceu sob o comando técnico de Brendan Rodgers, na temporada de 2013/14, quando os Reds discutiram o título até às últimas jornadas com o Manchester City que acabou se sagrar campeão.
Mas é durante a aberturas das janelas de transferências que o clube detido pela FSG se tem destacado. O mais chorudo exemplo foi dado há pouco tempo: o Liverpool FC deu 85 milhões de euros pelo central holandês Virgil van Dijk. John W. Henry não tem poupado esforços no reforço do plantel, senão veja:
| Anos | Gastos | Receitas |
| 2011 | 123,5 milhões de euros | 89 milhões de euros |
| 2012 | 33 milhões de euros | 16 milhões de euros |
| 2013 | 70 milhões de euros | 31 milhões de euros |
| 2014 | 130 milhões de euros | 80 milhões de euros |
| 2015 | 98 milhões de euros | 85 milhões de euros |
| 2016 | 77 milhõe de euros | 96 milhões de euros |
| 2017 | 180 milhões de euros | 213 milhões de euros |
| Total | 711, 5 milhões de euros | 610 milhões de euros |