Grande Futebol
Permanência de Tite à frente do Brasil contraria história de 40 anos
2018-07-08 14:00:00
Desde 1978 que um selecionador brasileiro não mantém o lugar depois de uma eliminação precoce em Mundiais

O Brasil está fora do Mundial, o sonho do hexa esfumou-se aos pés da Bélgica, mas Tite está prestes a fazer história. Há quarenta anos que um selecionador brasileiro não mantém o lugar depois de uma eliminação precoce em Mundiais. Desde 1978 que assim é: Claudio Coutinho foi o último a merecer a confiança da CBF depois de ter ficado em terceiro lugar do Mundial da Argentina, após uma vitória por 2-1 diante a Itália, mas não chegou ao Mundial seguinte. No Espanha'82 o Brasil foi orientado por Telê Santana.

Segundo relatos da imprensa brasileira, a intenção da CBF é oferecer um novo contrato a Tite – o atual termina agora – pelo período de quatro anos, encerrando-se o ciclo no Mundial do Catar, em 2022. Tite gosta da ideia, mas disse ser cedo para resolver a situação pedindo alguns dias para dar uma resposta.
Na lista dos treinadores que continuaram no cargo após uma saída precoce do Mundial constam apenas quatro nomes: Píndaro de Carvalho (1930), Luiz Vinhaes (1934), Zezé Moreira (1954) e Cláudio Coutinho (1978), sendo que Zezé fez apenas mais um jogo após o torneio e depois saiu do comando técnico da seleção canarinha.

A história não costuma ser justa nem com quem é campeão. Vicente Feola fez nove jogos após o título de 1958. Aimoré Moreira, que deu o segundo título mundial ao Brasil, em 1962, durou quase um ano no cargo e fez 20 partidas. Carlos Alberto Parreira saiu após o título de 1994. Já Luiz Felipe Scolari fez mais um jogo após o título de 2002, que na realidade foi um jogo de homenagem. Apenas um treinador manteve-se de um Mundial para o outro. Foi Mário Jorge Lobo Zagallo, que levou o Brasil ao título em 1970 e continuou para o Mundial seguinte. Telê Santana treinou o Brasil nos Mundiais de 1982 e 1986, mas não foi um trabalho sequencial. Ele deixou a seleção após a eliminação em Espanha e retornou um anos antes do torneio no México.

Na Rússia, o Brasil começou por ultrapassar a fase de grupos e eliminou o México nos oitavos de final antes de perder com a Bélgica, mas apesar da eliminação Tite reúne o apoio da Confederação Brasileira de Futebol e dos próprios adeptos. “Não há nem um debate sobre isso”, afirmou um dos principais dirigentes, em declarações reproduzidas pelo Estado de São Paulo.Também o presidente da CBF, Antônio Nunes, atirou um “Isso é pergunta que se faça?”, após a eliminação brasileira. A tristeza e o desagrado pela derrota são evidentes, mas, segundo o jornal brasileiro Estadão, a continuidade de Tite não está em causa. Já no hotel em Moscovo, outro dirigente da CBF citado pelo Estado de São Paulo declarava: “O técnico da seleção brasileira é o Tite e nos próximos dias a CBF emitirá um comunicado sobre isso”. “Ele só não fica se não quiser”, afirmou.

Segundo escreve o Estado de São Paulo, o trabalho de Tite à frente da seleção brasileira, iniciado no segundo semestre de 2016, quando a CBF ainda era liderada por Marco Polo del Nero, hoje banido do futebol pela FIFA, é bem avaliado pelos atuais dirigentes, que consideram que o selecionador brasileiro e restante equipa técnica "implementaram conceitos modernos de preparação e planeamento, e que o trabalho ainda é de alto nível".

A euforia à volta do Brasil e do próprio selecionador foi tal que os adeptos brasileiros começaram o campeonato a tratar o técnico por "Empatite" e a meio já lhe chamavam "Hexatite". E nem a eliminação precoce do escrete do Mundial retira a confiança em Tite e todos se apressaram a defender a continuidade do atual selecionador nacional. Está tudo nas mãos de Tite. Durante o dia de sábado, o selecionador pediu uns dias de folga para pensar e só depois se deslocará à CBF para discutir o futuro. Uma coisa é certa: Tite tem a oportunidade de, 40 anos depois, fazer história e ser o primeiro treinador brasileiro eliminado e não despedido.