Algarvio passou pela formação de Sporting e Benfica e, agora, brilha na Bulgária, onde já marcou oito golos esta época
Quando olhamos para a tabela dos melhores marcadores portugueses rapidamente salta à vista o nome de Pedro Eugénio. Com oito golos, o jogador algarvio é o quarto português com mais golos lá fora e também ocupa essa posição na tabela dos goleadores da Liga búlgara. Até aqui nada de anormal. O que surpreende mesmo é o facto de Eugénio ter sido lateral durante toda a carreira. Só agora, aos 27 anos, foi adaptado a extremo. E correspondeu com golos. Muitos.
“Já desde o ano passado que as coisas estavam a correr bem. Nunca dei muito nas vistas porque jogava a lateral direito, mas a meio da temporada passada passei a jogar a extremo e marquei logo seis golos. Este ano já levo oito”, explica ao Bancada o craque do Boroe, que no último fim-de-semana foi autor de um bis na goleada frente ao Septemvri Sofia, por 5-1. Um feito que valeu ao português o prémio de jogador da jornada 19 da Parva Liga – não é engano, é assim mesmo que se chama o campeonato búlgaro. “Tenho muitos amigos aqui que me enviam mensagens a dizer que andei a perder alguns anos de carreira a jogar a defesa direito”, confessa-nos, com algum riso à mistura.
O futebol português já conheceu exemplos de extremos que deram laterais de sucesso, como Fábio Coentrão ou Miguel. Mas o caso de Pedro Eugénio é precisamente o inverso e aconteceu numa fase de maturidade da carreira. Como é que um jogador vive esta adaptação? “Os meus treinadores sempre comentaram que eu era um lateral ofensivo. Agora, a jogar a extremo não sinto tanta diferença, porque sempre fui um jogador ofensivo. Os jogadores de futebol querem é marcar golos e decidir jogos, por isso sinto-me bem neste papel. Sinto mais liberdade, não tenho tantas tarefas defensivas como quando era lateral, nem tanto trabalho”, admite Pedro.
Filho de Eugénio, antigo lateral e glória do Farense, foi no clube algarvio que Pedro iniciou a formação. Mas rapidamente deu nas vistas e chamou a atenção dos grandes. “Recordo-me que fui viver para Alcochete com 13 anos”, lembra o jogador, que esteve um ano na academia do Sporting. Regressou a Faro e aos 15 já estava no Benfica, onde completou a formação, rumando depois ao Messinense. Esta estadia nos rivais lisboetas rendeu-lhe boas memórias. “Ainda mantenho contacto com muitos antigos colegas. Dou-me muito bem com o David Simão e o Diogo Viana, que no ano passado estavam cá a jogar no CSKA e nos dias livres eu ia a Sofia ter com eles”, afirma Pedro Eugénio.
O início da carreira sénior levou-o novamente ao Farense, antes de ter a primeira experiência no estrangeiro, precisamente ao serviço do Beroe. Regressou em 2013/14 a Faro para representar os leões algarvios na Segunda Liga. Na época seguinte apostou novamente no futebol búlgaro. Esta já é a quarta temporada consecutiva no país e o quarto clube diferente. Depois de o técnico Aleksandar Tomovski ter visto nele um extremo em potencial na última época, ao serviço do Vereya, ambos rumaram ao Beroe. Mais um regresso na carreira do português e, desta vez, de forma estrondosa.
Apenas Fernando Karanga (CSKA Sofia), com 14 golos, e Keseru (Ludogorets) e Fernando Viana (Botev Plovdiv), ambos com nove tentos, estão acima de Pedro Eugénio na tabela dos melhores marcadores da Liga búlgara. Entre os portugueses no estrangeiro também são poucos os que o superam. Marco Paixão (Lechia Gdansk/Polónia), com 13 golos, Cristiano Ronaldo (Real Madrid/Espanha), com 12, e Manuel Fernandes (Lokomotiv Moscovo/Rússia), com nove, são os únicos com melhor registo que Eugénio – André Silva (Milan/Itália) surge com os mesmos. No entanto, contando apenas os golos no campeonato, o surpreendente goleador do Beroe é o vice-líder da tabela, superado apenas pelos 13 do gémeo Paixão.
Sobre o futebol búlgaro, o jogador algarvio classifica-o de “atrativo”. “Tem boas equipas, que tentam jogar bom futebol. O Ludogorets está um patamar acima das outras equipas, mas há também o CSKA, o Levski e o Beroe”, descreve. Pedro Eugénio garante que não sente muitas diferenças culturais na Bulgária. Apenas as diferenças climatéricas que lhe trazem um episódio peculiar à memória. “Uma vez tive de jogar com neve e com o campo cheio de gelo. Tivemos de jogar na mesma e nem sei como consegui com tanto frio”, recorda.
Depois de alguns jogadores portugueses terem brilhado lá fora e terem-se tornado internacionais por esses países – Zeca na Grécia e Margaça em Chipre, são exemplos disso -, confrontámos Pedro com a eventual possibilidade de ser internacional búlgaro. Um cenário que não rejeita, embora admita que até ao momento nunca foi colocado. “Ainda não se falou aqui disso, mas era uma questão de pensar com a minha família, caso surgisse essa possibilidade. A acontecer seria sempre algo de positivo para mim, não seria nada de negativo”, confessa. No entanto, o verdeiro sonho está em pisar um palco que nunca pisou. “Gostava de jogar na Primeira Liga porque sou português e tenho esse sonho, mas depende de muita coisa”, remata Pedro Eugénio.