Se há campeonatos ou torneios que parecem feitos à medida para certos clubes, treinadores ou jogadores, que o digam Unai Emery e o Sevilha com a Liga Europa ou o Real Madrid e a Liga dos Campeões, não é menos certo que, para Pedro Caixinha, o México lhe assenta como tendo sido feito à sua medida. Para Caixinha, o futebol mexicano é alfaiataria futebolística. Quatro anos depois de ter vencido o seu primeiro título da carreira no país, Pedro Caixinha está novamente perto de festejar. Poucos treinadores têm sido tão bem sucedidos nos últimos anos de futebol no México quanto o português.
Novembro de 2012. Depois de passagens por clubes como a UD Leiria e o CD Nacional, Pedro Caixinha foi apresentado como novo treinador do Santos Laguna do México. Uma surpresa, dada a inexistência de histórico de técnicos portugueses em terras aztecas. Caixinha, porém, não acusou a inexperiência no futebol mexicano e cedo se percebeu que, este, lhe assentava como uma luva. No primeiro torneio curto disputado no México, Caixinha qualificou o Santos Laguna para a fase final da temporada, algo que não havia conseguido no torneio anterior. Contexto desportivo?
Ora bem... Esqueça o futebol como o conhece em Portugal. No México, tal como em grande parte dos campeonatos da América Latina, a coisa funciona de forma significativamente diferente. Há 17 jornadas por torneio e no final de cada um deles joga-se um play-off. O que por cá define um campeão a duas voltas, no México há campeão no final de cada uma delas. Caixinha não sentiu a mudança de contexto ou paradigma desportivo e logo à primeira levou o Santos às meias finais do Clausura 2013, tendo levado ainda a equipa mexicana à final da Liga dos Campeões do seu continente, torneio que acabou por perder para o rival mexicano Monterrey.
A trajetória de sucesso de Pedro Caixinha pelo México não se ficou por aí. Muito longe disso. No torneio seguinte, já na temporada 2014/15, durante o Apertura 2014, liderou o Santos ao segundo lugar da fase regular caindo mais uma vez nas meias finais da competição perante o eventual campeão León, mas desfecho que permitiu ao Santos qualificar-se pela primeira vez numa década para a Libertadores. No maior torneio de clubes das Américas venceu o seu grupo e apenas caiu aos pés do Lanús nos oitavos de final.
Foi poucos meses depois que Pedro Caixinha venceu o primeiro título da carreira e ofereceu ao clube o primeiro título em dois anos ao vencer a fase Apertura da Copa MX, Taça do México, que tal como a própria liga se disputa em duas fases distintas durante a temporada: Apertura e Clausura. Caixinha venceu a Taça do México em 2014 e desengane-se quem crê que esta organização facilita a conquista de títulos. Ao longo da história, foram muito poucos aqueles que conseguiram repetir títulos em torneios curtos na mesma temporada.
Caixinha fê-lo, sendo certo, porém, que o conseguiu em torneios diferentes. Se durante o Apertura 2014 venceu a Copa MX, no Clausura 2015 que se lhe seguiu, sagrou-se campeão mexicano e tornou-se somente no nono treinador europeu a consegui-lo em toda a história do futebol mexicano. Desde 2012 que o Santos Laguna não era campeão mexicano, tendo acabado por deixar o clube no início da temporada seguinte ao começar a época com quatro derrotas em cinco jogos e numa altura em que rumores acerca da cisão com o balneário do clube e as suas principais figuras surgiam de forma diária na imprensa mexicana.
Pedro Caixinha esteve dois anos longe do México, mas acabou por regressar já com a temporada 2017/18 em andamento. Como poderia o português ficar longe por mais tempo? Este é um futebol à sua medida, afinal. Se o regresso de Caixinha ao futebol mexicano, agora pela mão do Cruz Azul não correu de feição ao português nos primeiros meses, permitiu-lhe, pelo menos, lançar as bases para um início de temporada arrasador que o histórico clube da Cidade do México vai realizando em 2018/19.
Caixinha regressou ao México para o Clausura 2018 com o objetivo de devolver a glória há muito perdida pelo Cruz Azul e as primeiras semanas não foram fáceis. Nas dez primeiras jornadas da época, o Cruz Azul venceu apenas um jogo (logo à segunda jornada e curiosamente contra um dos grandes rivais, o Chivas), tendo passado oito jogos sem vencer entre a terceira e a décima jornadas, série de resultados que colocou mesmo em causa a continuidade de Caixinha no Cruz Azul. Uma vitória frente ao Pachuca, porém, à décima primeira jornada do Clausura 2018, e com a equipa enterrada na 15ª posição da Liga MX (só Chivas, Lobos BUAP e Atlas faziam pior na altura), por 5-0, acabou por ser o ponto de viragem numa temporada com algumas semelhanças com aquela que valeu o título de campeão mexicano ao Santos Laguna. Em 2014, quanto tal aconteceu, o Santos Laguna apenas garantiu presença na Liguilla na última jornada da competição e acabou por beneficiar da diferença de golos para se qualificar para um play-off que acabou por dominar.
Após a vitória frente ao Pachuca, o Cruz Azul encetou uma série de apenas uma derrota nos últimos sete jogos da temporada, vencendo mesmo quatro deles, acabando por terminar a temporada a apenas dois pontos dos play-off. Quem sabe o que poderia ter acontecido caso o clube se qualificasse, dada a forma como terminou a temporada! Hoje, três anos depois do título mexicano, quatro depois do primeiro triunfo no México, Pedro Caixinha repete a chegada à final da Copa MX e segue lançado rumo à fase final da fase Apertura da temporada na Liga MX.
Se em 2014 o Santos Laguna de Pedro Caixinha venceu o Puebla na Copa MX através das grandes penalidades, em 2018 foram os castigos máximos que levaram o seu Cruz Azul para a final da competição. Depois de um empate a um golo perante o León após os noventa minutos, o conjunto de Caixinha acabou por sair por cima no desempate por grandes penalidades ao vencer o rival por 5-4 com Guillermo Allison a vestir a pele de herói ao defender uma grande penalidade a Walter González.
O resultado conseguido na taça dá expressão ao início de temporada quase avassalador do Cruz Azul de Caixinha e que vem no seguimento do final da anterior conseguido pela equipa da capital mexicana. Treze jornadas volvidas no Apertura 2018, o Cruz Azul é segundo classificado, tendo perdido a liderança da competição na última jornada após derrota por 2-0 em Querétaro. A terceira derrota nos últimos cinco jogos, depois de um arranque de temporada imbatível sem qualquer derrota em oito jogos e apenas dois empates concedidos na Liga MX e apenas três golos sofridos em toda essa série - e nunca mais do que um por jogo.
As últimas semanas, porém, têm visto o Cruz Azul derrapar e é a forma fora de casa, principalmente, que certamente preocupa o técnico português. Fora de casa o Cruz Azul não vence há cinco jogos, tendo mesmo perdido os últimos três e empatado os restantes dois. A última vitória do conjunto de Pedro Caixinha fora de casa remonta já a julho e à segunda jornada da época quando bateu o Chivas, por 1-0, em Guadalajara. Com sete pontos de vantagem sobre o nono classificado a quatro jogos para o final da temporada regular, o Cruz Azul não parece estar em risco de falhar o play-off, porém, é também ditado popular no México a capacidade do Cruz Azul em quebrar sempre nas alturas decisivas. Certamente não acontecerá com Caixinha, certo? Afinal, isto, é futebol de alfaiate para o alentejano.