Grande Futebol
Ostersunds FK: dançar o Lago dos Cisnes ajudou a ganhar ao Galatasaray
2017-07-14 11:00:00
Além de treinar e jogar, equipa sueca participa em atividades culturais e em cinco anos subiu do 4º escalão à 1ª Divisão

Dançar o Lago dos Cisnes pode ser um meio para se ganhar mais vezes. Que o diga o Ostersunds FK, equipa sueca que causou esta quinta-feira sensação entre os 32 jogos da primeira mão da segunda pré-eliminatória da Liga Europa, ao derrotar o Galatasaray por 2-0. Treinador e jogadores até já fizeram mais: escreveram um livro, inauguraram uma exposição de arte e deram um espetáculo musical. Pelo meio, em cinco anos subiram do quarto escalão do futebol sueco à I Divisão (Allsvenskan) sueca. Na época de estreia, terminaram num honroso sexto lugar e venceram a Taça da Suécia goleando o IFK Norrköping por 4-1, feito que os permitiu jogarem a Liga Europa pela primeira vez e estarem agora nas bocas do mundo.

A ideia fora da caixa de associar o plantel do Ostersunds FC a atividades culturais partiu de Karin Wahlén, a “treinadora cultural” do clube, mas o treinador da equipa de futebol, o inglês Graham Potter, aderiu de imediato à ideia e deu o corpo e a voz aos vários projetos culturais. Apesar de alguma desconfiança no início, teve o feed back dos jogadores e não há ano que passe que, no final da época, não se faça uma atividade. “O objetivo é ajudar-nos a jogar melhor futebol”, explica Potter que não tem dúvidas sobre o que a cultura trouxe à equipa. “Ajuda-nos a lidar com situações desconfortáveis, a colocar-nos em situações diferentes, que não nos sejam familiares, a experimentar ambientes difíceis”.

Eis o treinador do Ostersunds FK a dançar o Lago dos Cisnes, com o plantel atrás:

Não é difícil de concluir que o sucesso do Ostersunds está diretamente associado a Graham Potter, de 42 anos, que conseguiu três promoções em cinco épocas, venceu uma Taça da Suécia, e esta quinta-feira colocou em sentido o emblema mais titulado da Turquia. Potter foi lateral-esquerdo nas divisões secundárias inglesas, com uma passagem pelo Southampton na Premier League. Formou-se em ciências sociais e tem uma pós-graduação em liderança e inteligência emocional. Treinava equipas universitárias quando surgiu o convite do clube sueco.

Há cinco anos, o Ostersunds estava no quarto escalão e a realidade não era animadora. Fundado em 1996 como resultado da fusão de outros clubes da pequena e fria cidade de Ostersund, com cerca de 40 mil habitantes, situada a 500 quilómetros a norte de Estocolmo, o OFK ainda procurava trilhar o seu caminho. Potter não é Harry mas conduziu a equipa em duas subidas de divisão consecutivas nos primeiros anos e, ao fim de três temporadas na Superettan, a segunda divisão da Suécia, chegou à Allsvenskan, a primeira divisão sueca. E no ano de estreia (2016/17) alcançou um honroso sexto lugar e conquista a Taça da Suécia.

A equipa sensação da Liga Europa joga no Jämtland Arena, recém-construído, com capacidade para 8.466 espetadores, e a filosofia de jogo do Ostersunds assenta numa vertente de espetáculo, associada à relação entre futebol e cultura. Um estilo de jogo atrativo, inspirado no tiki-taka do Barcelona. A máxima de Potter é, aliás, significativa: “Expressem-se. Se souberem expressar-se fora do campo, também o conseguirão em campo”. Bem definidor da sua peculiar personalidade, Graham Potter foi eleito, em 2016, técnico do ano pela Associação de árbitros sueca, “pelo ambiente positivo que criou” para os juízes.

Numa entrevista ao ‘Mail online’, Potter explicou melhor as suas ideias para o jogo: ”Jogamos para nos expressarmos. É assim que a nossa equipa gosta de jogar. Nós gostamos de passar a bola, de jogar futebol que as pessoas gostem de ver. Queremos que as pessoas queiram ver-nos jogar. Futebol é um entretenimento. Não queremos copiar ninguém, queremos jogar bom futebol de ataque, construir uma identidade de que as pessoas se orgulhem".

Potter lidera um plantel com origens muito diferentes, de África à Suécia, passando por Inglaterra. A maioria são suecos, cerca de 70 por cento do plantel, onde há ainda três ingleses, um nigeriano, um iraquiano, um ganês, um grego e um comorense (Ilhas Comores). O clube tem uma parceria com o Swansea para onde já transferiu um jogador, o avançado Modou Barrow, da Gâmbia, em 2014/15.

Se a intenção do tal projeto cultural e inovador do Ostersunds FK é ganhar mais jogos de futebol, está a dar resultado como se constatou quinta-feira frente ao Galatasaray.