Grande Futebol
O treinador sério que fala seis línguas e teve Jesualdo Ferreira como mentor
2018-05-30 22:25:00
Rui Almeida esteve na sombra durante muito tempo. Agora vai dando mais valor ao próprio nome em França

"Estou encantado por chegar a Troyes. Estamos aqui para trabalhar com rigor para alcançar os objetivos a que nos propusemos", disse Rui Almeida na conferência de imprensa que serviu para o apresentar como novo treinador do ES Troyes, clube que desceu à Segunda Liga Francesa. As declarações do técnico português podem parecer um clichê, mas são um verdadeiro retrato do trabalho efetuado com os plantéis onde esteve. Ensinado por Jesualdo Ferreira, diz quem foi orientado por Rui Almeida, um poliglota, que o lusitano não dava pistas de uma carreira de treinador principal, mas que "sempre foi uma pessoa muito séria que impunha o seu respeito".

Com 48 anos, Rui Almeida passou praticamente toda a carreira de treinador na sombra na condição de adjunto. Passou pelas camadas jovens do Benfica e pela Associação de Futebol de Lisboa, entrando para o Estoril Praia em 2002. Esteve seis anos no Estádio António Coimbra da Mota e foi lá que encontrou Marco Bicho, atual jogador do Oriental. "Era uma relação tranquila. Ele sempre foi uma pessoa muito séria, não era muito dado à brincadeira. Impunha o seu respeito como preparador físico. Na minha opinião, ele tinha uma personalidade muito boa. Às vezes as pessoas podem abusar um bocado por ser adjunto ou não haver aquele respeito. Ele conseguia manter esse respeito não deixando de ser uma pessoa boa e tranquila", frisou Bicho ao Bancada, explicando ainda que o trabalho de Rui Almeida era bem mais visível na vertente física. "Onde ele se metia ou não em termos técnicos ou táticos, não sei. Mas onde ele interferia mais connosco era nos aquecimentos e tudo mais."

Rui Almeida (segundo a partir da direita) na apresentação como treinador do ES Troyes (foto: Twitter ES Troyes)

Depois do Estoril Praia, Rui Almeida esteve no Trofense (como adjunto, mais uma vez), e mudou-se para a Síria durante dois anos para ser selecionador da equípa olímpica. Até que, em 2012, o telefone tocou. Era Jesualdo Ferreira, um dos mais experientes treinadores portugueses, a convidar Rui Almeida para integrar a equipa técnica. Acompanhou Jesualdo no Panathinaikos, no Sporting, no SC Braga e no Zamalek e foi uma aventura inesquecível. "Foi uma ótima experiência que tive nos quatro clubes em que estivemos. O professor Jesualdo Ferreira é autenticamente um mestre em termos de treino e exigência do futebol", disse Rui Almeida ao Bancada em julho de 2017. Jesualdo Ferreira foi tão marcante na vida profissional de Rui Almeida que, na apresentação no ES Troyes, esse facto não foi esquecido. "Jesualdo Ferreira é um mentor para mim. Trabalhámos juntos muito tempo e ele inspira-me muito. Era um verdadeiro professor", admitiu aos jornalistas presentes.

Deixou de trabalhar com o "professor" em 2015 para se tornar treinador principal do Red Star FC, clube parisiense da Segunda Liga Francesa. Completou uma temporada completa e saiu a meio da segunda, reforçando depois o SC Bastia no mais alto escalão do futebol gaulês. Agora regressa ao ativo no ES Troyes, clube que desceu de divisão e vai voltar a disputar a segunda divisão. Contudo, e de acordo com Marco Bicho, Rui Almeida não era o típico adjunto com perfil de treinador principal. "Não me apercebi disso porque ele não passava muito essa ideia de treinador dentro de campo. Não falava muito da parte técnica ou tática, não tinha muito o dom da palavra. (...) Fiquei admirado com o facto de ele aparecer como treinador principal e, sinceramente, não tenho acompanhado muito. Não posso dar uma grande opinião se não vejo as equipas dele a jogar. O que acho é que é mais um treinador que está a dar cartas e pelo que sei é uma pessoa com conhecimento que pode ter um bom futuro", explicou Marco Bicho, de 38 anos, ao Bancada.

Muito satisfeito com a contratação de Rui Almeida estava Daniel Masoni, presidente do ES Troyes. Masoni realçou o poliglotismo do português e assegurou que tanto Rui Almeida como Gabriel Santos, adjunto do ex-SC Bastia, estão totalmente dentro do projeto. "Eles partilham os valores que nos ligam ao clube. (...) O Rui é um poliglota. Fala português, francês, inglês, espanhol, italiano e árabe. A barreira linguística é muitas vezes complicada e será um verdadeiro ponto forte para ser capaz de trabalhar com jogadores estrangeiros", frisou o dirigente.