Grande Futebol
O "pequeno mágico" traído pelo tornozelo
2018-05-22 18:00:00
Santi Cazorla deixou muitos adeptos felizes, mas as graves lesões impediram que o continuasse a fazer

Em 2012, Jack Wilshere sugeriu que a alcunha de um certo colega fosse "Messi" depois de uma vitória do Arsenal sobre o rival Tottenham por 5-2. Três anos depois, Héctor Bellerín revelou que o balneário dos 'gunners' apelidava o mesmo colega de "pequeno mágico". O nome do craque é Santiago Cazorla, espanhol de 33 anos que está de saída do Arsenal depois de seis temporadas em Londres. Um craque que deixou tudo e todos rendidos por onde passou, mas que foi atacado por graves lesões que estragaram um jogador de topo que tem dois Europeus de seleções no palmarés.

Nascido nas Astúrias, Cazorla começou a jogar futebol no CD Covadonga, um pequeno clube de Oviedo, mas ainda era criança quando entrou para as camadas jovens de um clube histórico. Foi na formação do Real Oviedo, famosa por ter criado jogadores como Juan Mata ou Michu (para além, claro, de Cazorla), que o pequeno Santi se começou a evidenciar. Brilhou pelos azuis, mas cedo se percebeu que tinha de sair do clube para ter a carreira que merecia. Isto porque o Real Oviedo estava envolvido numa profunda crise financeira, o que causou a queda para a terceira divisão, o que motivou o Villarreal CF a aproveitar a situação para 'pescar' Cazorla. Tinha apenas 17 anos quando assinou pelo Submarino Amarelo, começando a jogar na equipa B ainda enquanto adolescente.

Um jovem Santi Cazorla a jogar pelo Villarreal CF em 2004 (Manuel Bruque/EPA)

Essa ponte foi, ainda assim, rapidamente atravessada. Estreou-se na equipa principal com 18 anos, entrando nos minutos finais de um encontro contra o Deportivo Corunha a contar para a Liga Espanhola. Foi subindo dentro do balneário do Villarreal CF e, em 2004/05, com 19/20 anos, fez 43 jogos em toda a época. Depois de baixar ligeiramente o rendimento em 2005/06, foi vendido ao Recreativo Huelva com uma cláusula de recompra que permitia ao Villarreal CF voltar a contar com Cazorla. Foi mesmo isso que aconteceu: o médio ofensivo foi essencial na boa campanha que o Recreativo fez na Liga Espanhola em 2006/07, terminando na oitava posição.

Voltou a Villarreal e não mais deixou de ser importante para a equipa. Logo no primeiro ano após o regresso, o Villarreal CF terminou na segunda posição na Liga, figurando apenas atrás do Real Madrid. Esteve presente na seleção espanhola na conquista do Europeu de 2008, continuou a brilhar e foi despertando a atenção de alguns clubes de maior dimensão. Em 2009, contudo, sofreu a pior lesão da carreira até esse momento, ainda que tenha regressado algumas semanas depois. Em 2011, Cazorla foi comprado pelo Málaga CF a troco de 21 milhões de euros. Esteve um ano no clube, mas foi uma das melhores temporadas que fez: 42 jogos, nove golos e o quarto lugar no campeonato, qualificando a equipa para a Liga dos Campeões.

As prestações de Cazorla fizeram com que voltasse a mudar de camisola. Depois de, nesse verão, ter voltado a sagrar-se Campeão da Europa ao serviço de Espanha, Cazorla foi contratado pelo Arsenal de Wenger e pegou de estaca em Londres. Logo na primeira temporada, Cazorla realizou 49 jogos e marcou 12 golos, o máximo da carreira. O técnico francês dos 'gunners' rapidamente percebeu a qualidade que Cazorla acrescentava à equipa e deu-lhe muitos minutos de jogo. Para se ter uma noção, Cazorla realizou quase 150 encontros nas três primeiras épocas ao serviço do Arsenal (entre 2012/13 e 2014/15). Contudo, tudo mudou em 2015/16, quando se lesionou com gravidade num joelho numa partida contra o Norwich City em novembro. Até aí, estava a ser uma das mais importantes peças da equipa, mas só voltou no final da época.

Cazorla ganhou dois Europeus com a seleção de Espanha (STR/EPA)

2016/17 começou com o mesmo registo: Cazorla em grande pelo Arsenal, mas chegou uma nova lesão, desta feita no tornozelo. O último jogo realizado foi a 19 de outubro de 2016 contra o Ludogorets para a Liga dos Campeões. Desde então, Santi tem atravessado um longo, duro e penoso calvário, tendo sido operado inúmeras vezes. O tratamento até exigiu que Cazorla tirasse pele do braço esquerdo para colocar no calcanhar do pé direito. Impedido de jogar futebol, Cazorla não viu o seu contrato renovado com o Arsenal, estando sem clube e com o objetivo de regressar aos relvados em 2019.

Pelo lado negativo, fica o facto de Cazorla nunca ter conquistado um campeonato ou um troféu europeu de clubes, mas ninguém pode passar ao lado da carreira do "pequeno mágico" asturiano. Não se sabe qual será o seu futuro ou, sequer, se voltará a jogar futebol. Mas, para já, ficam as memórias de um craque que não deixou ninguém indiferente e que tem provado que o futebol é tudo menos justo.

O espanhol mereceu muitos elogios dos colegas ao longo dos anos (Wallace Woon/EPA)