Grande Futebol
O futebol transformou-se há dez anos e nunca mais foi o mesmo
2018-09-03 22:00:00
Foi há dez anos que o Grupo Abu Dhabi United comprou o Manchester City e revolucionou a lógica do futebol

Quando Roman Abramovich comprou o Chelsea, e começou a gastar rios de dinheiro em jogadores - muitos deles portugueses - para que o clube voltasse a ser campeão, pensámos que acima daquilo não haveria mais nada... até que surgiu o Sheikh Mansour Bin Zayed Al Nahyan com uma proposta de 220 milhões de euros para comprar o Manchester City. Foi em setembro de 2008 e dez anos depois temos a certeza de que o futebol nunca mais foi o mesmo. O City deixou de ser um clube que lutava pela permanência para se tornar num dos emblemas mais poderosos do Mundo e nós encontrámos algumas histórias curiosas, por exemplo, o dia em que o diretor desportivo dos citizens soube que tinha 24 horas para escolher uma estrela mundial e ir comprá-la.

"A situação do clube estava de rastos e estávamos todos a preparar-nos para declarar falência. Não tínhamos dinheiro para pagar as contas e não tínhamos dinheiro para pagar os ordenados. Ou encontrávamos alguém que comprasse a totalidade do clube ou fechávamos portas", explicou Garry Cook, presidente do conselho de administração do Manchester City à data da chegada da família Mansour ao clube, em entrevista à "BBC". "A nossa sorte foi o facto de o Grupo Abu Dhabi United andar à procura de clube", disse. "Tentámos vender-lhes um sonho, maior do que comprar apenas um grupo de 24 futebolistas. Era a oportunidade de criar algo muito especial", acrescentou Garry Cook.

Mas como tinha chegado o clube aquela situação?

Em agosto de 2008, Thaksin Shinawatra, o então dono do Manchester City, viu-se envolvido num escândalo político e económico na sua Tailândia natal e todos os seus bens, avaliados em mais de mil milhões de euros, foram congelados. Tal facto provocou o caos em Manchester. O clube deixou de poder cumprir com os seus compromissos e viu-se numa situação bastante complicada. "Era o caos", recordou Garry Cook, que se viu obrigado a procurar por uma solução para evitar o fim dos "Citizens". O acordo com o Sheik Mansour chegou como salvação, mas curiosamente, uma das primeiras exigências do Grupo Abu Dhabi United surgiu quando o acordo era apenas um bocado de papel.

“Fomos obrigados a contratar Robinho”

"Foi uma situação irónica, porque o nosso problema era falta de dinheiro e a exigência dos futuros donos era que nós comprássemos uma estrela mundial com dinheiro que eles nos emprestariam. Isto servia para mostrar ao que se propunha a nova administração", revelou Garry Cook. O único problema era apenas o pouco tempo que restava para comprar a tal estrela: 24 horas. Dimitar Berbatov, então a brilhar no Tottenham, esteve perto de ser essa estrela, mas o avançado búlgaro acabou por assinar pelo Manchester United. Com o tempo a esgotar-se, os administradores viraram-se para Robinho. O brasileiro chegou a Manchester vindo do Real Madrid por 35 milhões de euros, na altura, o jogador mais caro do futebol inglês.

"Nós tínhamos o dinheiro para comprar qualquer jogador, mas só tínhamos 24 horas. Tínhamos mesmo de nos sujeitar a esta operação de charme, caso contrário os futuros donos poderiam recuar nas suas intenções. Foi uma situação bizarra e muito precária", revelou Garry Cook, que acrescentou: "Fizemos propostas 'indecentes' a vários jogadores, propostas inacreditáveis que não faziam sentido algum. Mas tínhamos de tentar tudo para corresponder à exigência do futuro dono. Lá conseguimos. A estrela era Robinho", refere o então presidente do conselho de administração do Manchester City, cargo que deixou em 2011.

Quem não esquece a chegada de Robinho a Manchester para jogar num clube que não o United foi Nedum Onuoha, então um dos jovens do plantel que tinha vindo da formação: "Jamais esquecerei estar em casa a ver pela televisão os negócios que se faziam no último dia do mercado de transferências quando vi o alerta para uma notícia de última hora: 'Robinho assinou pelo Manchester City'. Eu nem queria acreditar que no dia seguinte ia para o trabalho sentar-me ao lado de um Galático que estava acostumado a ver jogar pela televisão, incrível", recordou o antigo central em declarações à "BBC".

O futebol nunca mais foi o mesmo após a contratação de Robinho. Carlos Tevez, David Silva e Yaya Touré foram os nomes que se seguiram. Os novos donos do Manchester City queriam fazer do clube campeão e queriam-no o mais rápido possível. O City sagrou-se campeão em 2011/12, quatro anos após a chegada do Grupo Abu Dhabi United ao clube, sucedendo aos grandes rivais e vizinhos do Manchester United. Depois disso o Manchester City foi campeão por mais duas vezes (2013/14 e 2017/18) e é reconhecidamente um dos clubes mais poderosos do Mundo. Para além dos títulos e do poderio económico, o City é uma equipa de futebol entusiasmante liderada por Pep Guardiola, um dos melhores treinadores da sua geração. Foi há dez anos que o futebol se transformou.