Julieth González Therán (na foto) foi uma das jornalistas assediada em direto
Estamos em 2018. Os direitos das mulheres e a igualdade entre géneros são temas cada vez mais discutidos em praça pública. Contudo, (pelo menos) no futebol, os homens continuam a dominar tudo o que acontece. Estão em muito maior número e são, de um modo geral, muito mais levados a sério que as mulheres, mesmo que estas façam um trabalho tão bom ou melhor. Não é um devaneio: é mesmo a realidade.
Vamos a números. De acordo com a FIFA, em informação recolhida pela ‘CNN’, 16.000 jornalistas pediram acreditação para o Mundial que está a decorrer. Dessas 16.000 pessoas, apenas 14% (pouco mais de 2.000) foram mulheres. E as poucas mulheres na Rússia têm sido constantemente assediadas por homens enquanto fazem o seu trabalho. O caso de Julieth González Therán foi um dos primeiros a ser conhecido. A jornalista colombiana estava em direto para o canal alemão ‘Deutsche Welle’s Spanish’ enquanto um adepto lhe agarrou um dos seios e deu um beijo na bochecha. No Instagram, Therán publicou o vídeo do momento e, na descrição, pediu “respeito”. “Não merecemos este tratamento. Somos igualmente valiosas e profissionais. Partilho a alegria do futebol, mas devemos identificar os limites do afeto e do assédio”, acrescentou.
Também Júlia Guimarães, jornalista do canal brasileiro ‘SporTV’, foi vítima de assédio em frente às câmaras. Só que Júlia, ao contrário de Julieth, que continuou o direto como se nada tivesse acontecido, reagiu. “Não faça isso! Nunca mais faça outra vez, ok? Eu não lhe dei permissão para fazer isso. Nunca, ok? Isso não é educado nem certo, nunca faça isso. Nunca faça isso com uma mulher, ok? Respeito”, disse ao homem, que saiu de cena. Casos semelhantes aconteceram com a sueca Malin Wahlberg, a argentina Agos Larocca ou com Kethevane Gorjestani, da ‘France 24’. A situação tomou proporções tão grandes que até Fatma Samoura, secretária-geral da FIFA, deu a sua opinião. “Vamos tratar-nos uns aos outros com respeito. Muitas mulheres estão na Rússia para desempenhar as suas funções de forma profissional e é importante que as respeitemos e ao seu trabalho”, escreveu a dirigente no Twitter.
Great response from Brazilian TV journalist Julia Guimaraes of Sportv to unacceptable behaviour. Not easy to show such restraint in the face of harassment. pic.twitter.com/eFVZz6gdMA
— Colin Millar (@Millar_Colin) 24 de junho de 2018
O machismo no Mundial não afeta apenas as mulheres jornalistas. O Burger King da Rússia, cadeia de restaurantes de fast food, ofereceu 47.000 dólares à primeira mulher do país que ficasse grávida de um jogador do Mundial. A Federação Argentina de Futebol incluiu no guia para jogadores, staff e jornalistas argentinos um capítulo denominado “O que fazer para ter alguma oportunidade com uma rapariga russa” em que dava dicas para o engate com as mulheres locais. As duas entidades já pediram desculpas publicamente pelo sucedido.