Apesar de todas as mudanças que se viram no clube nos últimos anos, o West Ham tem continuado a lutar apenas por um objetivo: a permanência. Não querendo continuar nesse registo, a direção do clube londrino apostou na contratação de Manuel Pellegrini para o lugar de treinador da equipa principal, com o chileno a ser o primeiro técnico da história do West Ham a ter uma Liga Inglesa no palmarés. Tal decisão demonstra a ambição dos 'hammers' e a vontade de um experiente homem do futebol em habituar os adeptos do West Ham a verem a equipa na primeira metade da tabela classificativa em Inglaterra.
Com mais de 400 jogos pelo Universidad de Chile, Manuel Luis Pellegrini Ripamonti teve uma carreira de sucesso no Chile como defesa-central. Formado em engenharia civil pela Pontificia Universidad Católica de Chile, em Santiago, Pellegrini era conhecido, lá está, como o 'Engenheiro'. Foi um homem de um clube só, representando o Universidad de Chile a nível sénior entre 1973 e 1986, período em que também jogou pela seleção nacional do Chile. O momento chave para a reforma como jogador de futebol aconteceu quando, num desafio referente à Copa Chile, perdeu um duelo aéreo para um miúdo de 17 anos que acabou por marcar golo nesse lance. Aí, Pellegrini, já 'trintão', percebeu que não podia mais. O tal miúdo era Iván Zamorano, jogador que viria a ser um craque no Real Madrid nos anos 90.
Cedo começou a carreira como treinador, orientando vários clubes no Chile (entre eles estava o Universidad Católica, onde liderou uma equipa com Beto Acosta, antigo jogador do Sporting). Estreou-se no estrangeiro no final do séc. XX, tendo sido contratado pela LDU Quito, do Equador. Ganhou o campeonato e fez uma boa campanha na Copa Libertadores, o que lhe começou a dar nome e reputação na América do Sul. Assim sendo, assinou pelo San Lorenzo, da Liga Argentina, em 2001 e o sucesso foi praticamente imediato: nesse ano, venceu a Copa Mercosul, o primeiro título internacional de toda a história do clube sul-americano, e o torneio Clausura da Liga Argentina. Mudou-se para o River Plate, um dos maiores clubes do continente, e voltou a conquistar o título nacional. Essa foi a confirmação da sua qualidade e a consolidação necessária da condição de vencedor para, finalmente, dar o 'salto' para a Europa.
Manuel Pellegrini nos tempos de treinador do Villarreal CF (Olivier Hoslet/EPA)
Foi em 2004 que esse 'salto' aconteceu. O Villarreal CF confiou os destinos da equipa a Manuel Pellegrini, que terminou a primeira temporada em Espanha no terceiro lugar do campeonato e com a consequente qualificação para a Liga dos Campeões. A campanha na liga milionária em 2005/06 foi brilhante e o Submarino Amarelo atingiu as meias-finais da competição, eliminando o Manchester United na fase de grupos e o Rangers e o Inter Milão nas rondas a eliminar. Depois, o Arsenal foi mais forte e impediu que o Villarreal CF atingisse a final da Liga dos Campeões. Nos anos seguintes, o Villarreal CF acabou sempre nos cinco primeiros do campeonato, registando um espetacular segundo lugar na Liga Espanhola em 2007/08, figurando apenas atrás do Real Madrid. E foram precisamente os madrilenos que 'roubaram' o técnico chileno ao Villarreal CF em 2009, ano de grande investimento por parte dos 'merengues'.
Entraram Cristiano Ronaldo, Kaká, Karim Benzema ou Xabi Alonso, por exemplo, mas nem tudo correu como pretendido. Apesar de ter feito um bom campeonato, batendo o recorde de pontos da história do Real Madrid até então (96), o clube madrileno ficou em segundo lugar, perdendo o título para o FC Barcelona. Na Liga dos Campeões, o Real Madrid foi eliminado pelo Olympique Lyon nos oitavos-de-final e na Taça do Rei a equipa perdeu para o AD Alcorcón na mesma fase. Os falhanços fizeram com que Manuel Pellegrini abandonasse o maior projeto da carreira até então no final de 2009/10.
Seguiu-se o Málaga CF, com o chileno a suceder a Jesualdo Ferreira no comando técnico em 2010. Ficou em 11º na primeira época e subiu para 4º na segunda, apurando-se para a Liga dos Campeões em 2012. Tal como havia feito no Villarreal CF, Pellegrini teve uma Liga dos Campeões de grande nível: ganhou o grupo com Milan, Zenit e Anderlecht, eliminou o FC Porto nos oitavos-de-final e esteve com um pé e meio nas meias-finais, mas golos polémicos nos últimos minutos fizeram com que o Borussia Dortmund passasse aos quatro primeiros da competição. Manuel Pellegrini viria a sair do Málaga CF no final de 2012/13, com os problemas financeiros do clube a serem o principal motivo.
Era Pellegrini que estava no Real Madrid quando Cristiano Ronaldo chegou ao clube (Fernando Alvarado/EPA)
Assim, o Manchester City adiantou-se e contratou Pellegrini com o objetivo de recuperar o título nacional perdido para os rivais do Manchester United. Meta atingida e o chileno foi campeão inglês logo na primeira época em terras de Sua Majestade com 86 pontos, mais dois que o Liverpool FC e mais quatro que o Chelsea. Em 2013/14 venceu ainda a Taça da Liga Inglesa, façanha repetida em 2015/16, época em que voltou a estar presente nas meias-finais da Liga dos Campeões, fase em que foi apenas eliminado pelo Real Madrid. Contudo, os campeonatos perdidos para Chelsea (2014/15) e Leicester City (2015/16) ditaram o fim da carreira de Manuel Pellegrini no Manchester City, que avançou para a bem sucedida contratação de Pep Guardiola.
Nos últimos anos, Pellegrini treinou o Hebei China Fortune, mas nunca lutou pelo título. Agora, chega ao West Ham e regressa a Inglaterra, um país onde já foi feliz e onde se sagrou o primeiro treinador não-europeu a vencer o título nacional. Habituado a vitórias, sucesso e prestígio, Manuel Pellegrini tem o currículo necessário para dar ao West Ham o êxito tão desejado pelo clube e os respetivos adeptos. Uma coisa é certa: dificilmente Pellegrini aceitaria o convite dos 'hammers' e assinaria um contrato válido por três anos se não tivesse garantias de que vai ter o que precisa para ser feliz.
