Grande Futebol
O desafio de Fernando Santos é casar gestão com foco
2017-06-23 17:50:00
A ideia de poupar jogadores em todos os jogos vinha de Portugal, mas será preciso convencê-los a manter a concentração

Duas palavras marcaram a véspera do Portugal-Nova Zelândia na visão de Fernando Santos: “gestão” e “foco”. Será sobretudo a forma de casar as duas que mais preocupa o selecionador nacional. Porque se parece claro que a gestão já vinha pensada de Portugal, que não tem nada a ver com poupança mas sim com adequação às caraterísticas de uma prova que, em final de época, obriga os jogadores a subir ao relavdo “de três em três dias, com menos de 72 horas de intervalo”, o fator Ronaldo vem subverter todas as conclusões. É que toda a gente quer ver Ronaldo. Querem “quatro milhões de neo-zelandeses”, nas palavras de um jornalista local, que fez assim a pergunta a Santos, indiferente ao facto de o dele ser um país de râguebi e de o jogo com Portugal começar à uma da manhã local. Quererão todos os portugueses interessados nesta Taça das Confederações. E quer, até, o próprio Fernando Santos, que a dada altura o disse em tom de brincadeira. E é aqui que entra a questão do foco: como explicar a quem vai jogar que este é um jogo para manter o foco se se deixa de fora o melhor jogador do Mundo? Fazê-lo pode ser o maior desafio de Santos entre hoje e amanhã.

Claro que, nas manifestações públicas, o foco e a concentração estão assegurados. “Queremos focar-nos primeiro naquilo que podemos fazer amanhã”, afirmou Luís Neto, defesa central do Zenit – a equipa da casa, aqui, em São Petersburgo – quando lhe perguntaram se já estava a ver-se a jogar a final da prova ali, naquele estádio da que é a sua cidade de adoção. “Temos uma norma muito clara entre nós: confiança máxima, respeito máximo e concentração total no jogo seguinte”, somou Fernando Santos, que chegou mesmo a considerar a Nova Zelândia “uma equipa muito forte”, indiferente ao facto de os diversos representantes da Oceânia nesta competição só terem obtido um empate nos últimos 14 jogos que para ela fizeram – um 0-0 da Nova Zelândia com o Iraque, em 2009. Ou de nesse período terem marcado oito golos e sofrido 56. Claro que este discurso tanto é debitado para fora, para que os meios de comunicação o difundam, como para dentro do balneário, onde a tarefa passa por convencer os jogadores de que para ganhar precisam na mesma de se empenhar ao máximo. Mesmo que amanhã, quando anunciar o onze, Fernando Santos nele não inclua Cristiano Ronaldo, o “Beauden Barrett do futebol”.

“Não vai haver qualquer tipo de facilistismo. O espírito da nossa seleção é esse mesmo. Não somos sobranceiros”, concordou Neto. “Já no jogo com a Letónia aconteceu isso e encarámo-lo da forma mais séria possível. Amanhã o foco vai ser o mesmo: ganhar”, completou o defesa-central, que entrou na Taça das Confederações como quarta opção para a posição, atrás de Pepe, José Fonte e Bruno Alves, mas cuja presença na conferência de imprensa deixa a ideia clara de que vai ser titular contra os neo-zelandeses. E Neto não deve ser o único dos que aqui chegaram como reservistas a entrar de início amanhã. Com ele estarão seguramente Nelson Semedo, Danilo ou Pizzi. E só não estará Eliseu se não recuperar da gripe que o impediu de treinar hoje. Uma gripe que, somada à lesão de Guerreiro, pode obrigar Fernando Santos a dar a Cédric mais 90 minutos, furando-lhe os planos de não forçar nenhum dos 23 convocados a começar de início as três partidas da fase de grupos. A exceção prevista seria Rui Patrício, que é guarda-redes. E fica a pairar no ar a questão Ronaldo. “Não vou agora dizer quem é que vai jogar ou não. Não é por vossa causa [os jornalistas]. É para não dar trunfos aos meus adversários”, disse Santos.

E a questão aqui é a de pensar no que será melhor. Jogar com Ronaldo de início, para que os neo-zelandeses não se sintam “desrespeitados” e até eventualmente mais motivados por uma natural vontade de provar que não são assim tão maus como a exclusão do melhor do Mundo poderia fazer crer, prevendo depois a sua retirada assim que o jogo fique mais fácil? Ou mantê-lo no banco para qualquer eventualidade, podendo até fazê-lo entrar se o jogo, de repente, se tornar complicado? Não há uma resposta evidente. Tudo dependerá, afinal, do quão Fernando Santos estiver convencido daquilo que disse no final da conferência de imprensa acerca de um eventual excesso de confiança. “A minha equipa não vai deixar-se levar por essas questões. O meu grupo está em total sintonia comigo”, disse, ele próprio convicto de que consegue vencer o seu grande desafio de hoje. Casar gestão com foco.