Os últimos meses da carreira de Nick Pope são uma epopeia que talvez nem Homero ou Luís de Camões ousassem escrever. Quando em julho de 2016 o jovem guarda redes assinou pelo Burnley FC sem qualquer jogo disputado no principal escalão do futebol inglês e depois de uma temporada dividida com Stephen Henderson como titular do Charlton Athletic do, então, segundo escalão inglês (e o Charlton acabou despromovido à League One em 2015/16), dificilmente Nick Pope adivinhava o que lhe estava destinado dois anos depois. Em poucos meses Nick Pope passou de um inexperiente reserva a guarda redes titular da equipa surpresa dos principais campeonatos europeus. Venceu o prémio de jogador do ano do Burnley e, por esta altura, assume-se como o principal candidato a defender a baliza de Inglaterra no próximo campeonato do Mundo.
Nick Pope nunca viveu dias assim. Aos 26 anos, o guarda redes do Burnley é finalmente titular indiscutível da equipa que representa, depois de nunca o ter conseguido ser nas equipas que representou à exceção dos empréstimos ao qual foi sujeito pelas divisões inferiores de Inglaterra. Como a partir de janeiro de 2015 ao serviço do Bury FC ou, ainda antes, na segunda metade da temporada 13/14 ao serviço do York City FC. Em Londres, pelo Charlton, porém, Nick Pope nunca foi um indiscutível algo que o levou sempre a ser emprestado nas segundas metades das temporadas de forma a ter algum tempo de jogo nem que para isso fosse necessário jogar no terceiro e quarto escalão do futebol inglês. Fazer pela vida nunca foi estranho a Nick Pope, afinal, este é o mesmo homem que, aos 16 anos, depois de ter sido dispensado das camadas jovens do Ipswich Town, dividiu a carreira de futebolista com uma leitaria onde fazia entregas de madrugada.
Em poucos meses, meses… semanas! Nick Pope passou de reserva de uma equipa despromovida ao terceiro escalão a figura da temporada na liga nacional mais rica do Mundo. Mais do que isso, em semanas, Nick Pope passou de reserva de uma equipa despromovida à League One para surgir nas convocatórias da seleção inglesa e, acreditam muitos, tornar-se no principal candidato a defender a baliza de Inglaterra no próximo Campeonato do Mundo. Afinal, falamos do guarda redes da equipa com o quarto melhor registo defensivo da Premier League e, consequentemente, o guarda redes inglês que menos golos sofreu em 2017/18, apesar de ter sido aquele que mais defendeu. O mesmo é dizer que Pope tem abençoado a baliza do Burnley e sido figura fulcral na boa campanha dos Clarets na Liga Inglesa, tendo beneficiado da lesão de Tom Heaton, guarda redes titular do Burnley há vários anos, para agarrar o lugar e nunca mais o largar.
Nick Pope tinha um sonho: tornar-se no novo Richard Wright, algo que nunca conseguiu depois de ter sido dispensado das camadas jovens do Ipswich Town, clube do coração e que cresceu a apoiar nas bancadas de Portman Road, seis anos depois de ter entrado nos escalões mais jovens do clube. “Richard Wright era o meu herói e um dos primeiros guarda redes que vi jogar quando tinha bilhete de época. O Ipswich era a equipa que eu apoiava, portanto dizerem-me que não era mais necessário e não bom o suficiente para ficar no clube, aos 16 anos, foi a maior deceção da minha vida”.
“É difícil de aceitar depois de dares tanto da tua vida aos treinos e aos jogos. Dizerem-se que tinha acabado foi muito desapontante e um ponto muito baixo na minha vida. Eu não era bom o suficiente, na verdade, e agora entendo que não reunia a qualidade para me ser atribuída uma bolsa de estudo. Tinha de ser um dos melhores jogadores da equipa e não o era. Foi justificado e na verdade é que acabou por ser o que melhor me aconteceu”, explicou em entrevista Nick Pope.
“Tens de encontrar forma de seguir em frente e encontrar um novo caminho na tua vida”. Nick Pope encontrou-o. A ligação do colégio ao Bury Town permitiu a Nick Pope manter-se ligado ao futebol e foi aí que teve de dividir a carreira com as entregas de leite durante a madrugada. Em 2008, enquanto dividia os estudos de marketing com o futebol no Bury Town, Nick Pope tornou-se também estafeta de uma leitaria e durante meses levantou-se todos os dias às quatro da manhã para fazer entregas e ganhar dinheiro que lhe permitiu ter uma vida minimamente independente. Chegou, também, a fazer tudo isto e ainda trabalhar em part-time numa loja.
Em 2011, porém, Nick Pope começou a dar nas vistas ao serviço do Bury Town ao ponto do Charlton Athletic, então da terceira divisão inglesa, ter contratado o jovem inglês. Ao serviço dos Addicks nunca foi um indiscutível, mas tal não impediu Nick Pope de continuar a sonhar. Hoje, aos 26 anos, é um verdadeiro exemplo do que se consegue na vida nunca deixando de sonhar. Hoje está às portas da seleção inglesa. É um dos melhores guarda redes da Premier League e, para muitos, é o homem que deve defender a baliza de Inglaterra no próximo Campeonato do Mundo. “Até há seis meses, quando ainda nem sequer tinha feito qualquer jogo pelo Burnley, era impossível de imaginar uma situação como esta”. Não diríamos melhor, Nick.
