Pablo Aimar estará para sempre ligado à história do futebol por tudo aquilo que lhe ofereceu enquanto jogou, fintou, assistiu e marcou golos. O argentino, que em Portugal passou pelo Benfica, era um dez, um dez da bola no pé, da finta no pensamento, da jogada artística que fazia levantar a plateia nos estádios. Aimar era um dos 'românticos' na arte da bola, de tal modo que Leo Messi nunca escondeu que 'El Mago' era o seu ídolo de menino.
Agora treinador dos escalões de formação da Seleção da Argentina, Aimar olha com preocupação para a forma como se treina e se formam os craques do futuro. Numa altura em que se perdeu muito daquilo que era o futebol de rua, da finta repentina e do toque de génio na bola, Aimar pede que não se olhem para o futebol com excesso de automatismos, forçando os jogadores a potenciarem o jogo coletivo, diminuindo as suas possibilidades de, a qualquer momento, tirarem aquilo que o povo chama de 'coelho da cartola'.
"O futebol não é xadrez. A torre não anda sempre da mesma maneira, o cavalo… no xadrez sim, mas no futebol não", explicou 'Pablito', certo de que no futebol de formação é necessário dar tempo e espaço aos jovens jogadores de que "erram". "Não gosto de ouvir dizer que não há jogadores criativos, sobretudo depois de fazerem 800 treinos automatizados", lamentou o antigo camisola 10 do Benfica, dizendo que se um jogador é ensinado para situações de jogo automáticas será natural que coloque a criatividade para um plano secundário. "É muito provável que não haja se tudo for automatizado", comentou Pablo Aimar.
No olhar que traça sobre o futebol atual, o ex-internacional argentino destaca que é necessário levar em conta o jogo coletivo e as indicações do dito futebol moderno. Mas Aimar apela a que os criativos não sejam 'castigados' quando perdem uma bola no futebol de formação. Para o ex-10 do Benfica, isso acabará por limitá-los. "Se a um jogador com 15 anos que finta os adversários, dizemos-lhe para não o fazer porque perdeu a bola duas ou três vezes..."
Aimar realça que é preciso que os jogadores que 'partem para cima' do adversário percam a bola para, desse modo, afinarem as suas iniciativas. "Sim, vão perder a bola duas ou três vezes, ou cinco ou dez", indicou Aimar, numa conversa sobre futebol nas redes sociais, salientando que é preciso dar espaço aos criativos, sobretudo na formação, onde gostaria que existissem menos treinos táticos. "Se nessas idades só jogamos taticamente, não podemos esperar jogadores criativos".
"No me gusta escuchar que no hay jugadores creativos después de hacer 800 entrenamientos automatizados. Si a un chico con 15 años le decimos que no gambeteé por q la perdió dos veces, es muy probable que no los van a ver asi.Entonces los DT nos tenemos que hacer cargo de eso " pic.twitter.com/Gvio3JktCw
— Darío Fernández ?? (@daroFernandez78) April 3, 2021