Grande Futebol
"Não é xadrez". Aimar 'puxa as orelhas' aos treinadores do futebol de formação
2021-04-08 15:15:00
Ex-internacional que jogou no Benfica orienta os escalões de formação da Seleção da Argentina

Pablo Aimar estará para sempre ligado à história do futebol por tudo aquilo que lhe ofereceu enquanto jogou, fintou, assistiu e marcou golos. O argentino, que em Portugal passou pelo Benfica, era um dez, um dez da bola no pé, da finta no pensamento, da jogada artística que fazia levantar a plateia nos estádios. Aimar era um dos 'românticos' na arte da bola, de tal modo que Leo Messi nunca escondeu que 'El Mago' era o seu ídolo de menino.

Agora treinador dos escalões de formação da Seleção da Argentina, Aimar olha com preocupação para a forma como se treina e se formam os craques do futuro. Numa altura em que se perdeu muito daquilo que era o futebol de rua, da finta repentina e do toque de génio na bola, Aimar pede que não se olhem para o futebol com excesso de automatismos, forçando os jogadores a potenciarem o jogo coletivo, diminuindo as suas possibilidades de, a qualquer momento, tirarem aquilo que o povo chama de 'coelho da cartola'.

"O futebol não é xadrez. A torre não anda sempre da mesma maneira, o cavalo… no xadrez sim, mas no futebol não", explicou 'Pablito', certo de que no futebol de formação é necessário dar tempo e espaço aos jovens jogadores de que "erram". "Não gosto de ouvir dizer que não há jogadores criativos, sobretudo depois de fazerem 800 treinos automatizados", lamentou o antigo camisola 10 do Benfica, dizendo que se um jogador é ensinado para situações de jogo automáticas será natural que coloque a criatividade para um plano secundário. "É muito provável que não haja se tudo for automatizado", comentou Pablo Aimar.

No olhar que traça sobre o futebol atual, o ex-internacional argentino destaca que é necessário levar em conta o jogo coletivo e as indicações do dito futebol moderno. Mas Aimar apela a que os criativos não sejam 'castigados' quando perdem uma bola no futebol de formação. Para o ex-10 do Benfica, isso acabará por limitá-los. "Se a um jogador com 15 anos que finta os adversários, dizemos-lhe para não o fazer porque perdeu a bola duas ou três vezes..."

Aimar realça que é preciso que os jogadores que 'partem para cima' do adversário percam a bola para, desse modo, afinarem as suas iniciativas. "Sim, vão perder a bola duas ou três vezes, ou cinco ou dez", indicou Aimar, numa conversa sobre futebol nas redes sociais, salientando que é preciso dar espaço aos criativos, sobretudo na formação, onde gostaria que existissem menos treinos táticos. "Se nessas idades só jogamos taticamente, não podemos esperar jogadores criativos".

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