Grande Futebol
México de Osório, pouco perfume a café mas muita vertigem
2017-06-16 22:25:00
Portugal estreia-se domingo na Taça das Confederações e à sua espera estará uma equipa com truques e vertigem na manga

Portugal estreia-se já domingo na Taça das Confederações e o adversário que apadrinha a primeira presença de sempre de Portugal no torneio organizado pela FIFA será o México. Com Juan Carlos Osório, a equipa centro americana tem estado em evidência e chega à Rússia na primeira posição da quinta ronda da fase de qualificação CONCACAF para o campeonato do Mundo Rússia 2018. Cinco jogos volvidos, o México está ainda invicto. 

Ao contrário de Portugal, esta será a sétima presença do México na Taça das Confederações. Regularmente vencedor da Gold Cup, foi a vitória no torneio principal de seleções da CONCACAF que qualificou o México para este Rússia 2017. No torneio disputado em 2015 e organizado pelos Estados Unidos da América e pelo Canadá, o México bateu a Jamaica por 3-1 na final e conquistou a presença na Taça das Confederações 2017. Um torneio que, diga-se, os mexicanos até já venceram. Aconteceu em 1999, competição que organizaram.  

Portugal chega à Rússia para disputar a Taça das Confederações praticamente um ano após ter conquistado um surpreendente título europeu e estreia-se na competição onde só entram os vencedores de cada uma das confederações FIFA, organizador e campeão mundial, perante uma equipa que nunca venceu. Contra o México, este será o quarto confronto entre ambos os conjuntos e depois de um empate em 1969 e duas derrotas em 2006 e 2014, Portugal procurará fazer o dois em um: vencer pela primeira vez o México e vencer pela primeira vez um jogo na Taça das Confederações. Para tal, Portugal terá de explorar as fragilidades defensivas algo típicas das equipas de Juan Carlos Osório. 

México, uma equipa forte no ataque, não tão forte defensivamente

Óscar Tojo, treinador, professor na Faculdade de Motricidade Humana e antigo assistente de Pedro Caixinha no Santos Laguna, não tem qualquer dúvida que o México encerrará um verdadeiro problema para Portugal. "[os mexicanos] vão ser extremamente competitivos e intensos. Não tenho dúvidas disso. Serão menos organizados coletivamente, mas terão muito coração", antevê Tojo ao Bancada.  

No torneio russo, Óscar Tojo verá dois ex atletas seus defrontar Portugal: Oswaldo Alanís, o Hummels mexicano, defensor versátil e capaz de fazer qualquer posição na defesa mexicana, mas também Oribe Peralta, matador mexicano, hoje, ao serviço do América. Pelo México, Oribe Peralta conta já 23 golos em 54 presenças pelos aztecas. Contudo, para Óscar Tojo, serão nomes como Carlos Vela, Javier Aquino, Raúl Jiménez ou Chicharito que irão causar mais dificuldades ao conjunto português. "[o México] tem muita qualidade individual no ataque. Parece-me que a sua linha defensiva seja o ponto mais frágil do México e aquele que deve ser explorado", analisa. Como? Óscar Tojo defende que a troca posicional nos elementos ofensivos de Portugal fará a diferença.  

As palavras de Óscar Tojo encontram eco nas avaliações feitas pelos analistas mexicanos e colombianos que o Bancada contactou e que tão bem conhecem o trabalho de Juan Carlos Osório. José Orlando Ascencio, do diário colombiano El Tiempo e que acompanhou particularmente o trabalho de Osório no campeonato colombiano onde foi várias vezes campeão ao serviço do Atletico Nacional conta ao Bancada que "as equipas de Osório são tradicionalmente muito ofensivas e, por consequência, oferecem muito espaço em zona defensiva". Não surpreende. Osório, seguidor das ideias de Cruyff, orienta as suas equipas para pressionar alto em campo, cedendo bastante espaço nas costas da linha defensiva e defendendo com poucos homens e em blocos pouco numerosos dada a pressão efetuada pelos seus avançados. Algo que exponencia o erro, tal como avalia Andrés Diaz do conceituado portal mexicano Mediotiempo ao Bancada: "no momento defensivo, por vezes, o México comete vários erros bastante absurdos. Tal qual aconteceu no Azteca frente aos EUA esta semana".  

Aztecas sem perfume a café mas com muita vertigem

Ofensivamente, porém, a conversa é outra e o México encerra perigos vários. O colombiano Ascencio até destaca a curiosidade de as equipas do, também colombiano Osório, serem bastante distintas do habitual perfume cafetero. Do futebol apoiado, de toque. Osório por seu lado, procura ser letal em velocidade e vertiginoso. "As transições defesa ataque são rápidas e sem grandes temporizações. As suas equipas não são de toque, como as colombianas. Osório aprecia o jogo vertical, rápido e explorando os flancos", analisa ao Bancada o jornalista do El Tiempo.  

Andrés Diáz concorda e reitera uma das ideias de Óscar Tojo: Carlos Vela é peça chave na manobra ofensiva do México de Osório. "O México é uma seleção que trata bem a bola, que a distribui de forma bem sucedida e que ataca muito pelos flancos. Confia imenso na criatividade de Carlos Vela". Diáz, porém, chama a atenção para outros nomes que irão ser um verdadeiro quebra cabeças para Portugal: "[o México] confia também muito na contundência de Chicharito e na vertigem e verticalidade que outros médios ofensivos oferecem à equipa como Hirving Lozano, dada a ausência de Jesus Corona", destaca o jornalista do Mediotiempo. Características e capacidade técnica que permitem aos mexicanos, como analisa Andrés Diáz, jogar de forma rápida e com a bola junto ao relvado.  

Para o jornalista mexicano, Osório ainda não corrigiu deficiências que são históricas e transversais a todo o futebol mexicano. O controlo aéreo; a capacidade de jogar "pelo ar" e a dificuldade típica dos mexicanos em defender lances de bola parada continuam a ser fragilidades que Portugal poderá explorar durante o encontro para a Taça das Confederações. Deficiências que, por vezes, redundam em derrotas humilhantes como a obtida pelo México na Copa América de 2016, aos pés do Chile, por 7-0. Um "acidente de percurso", como lhe chama Andrés Diáz que garante que tal derrota não beliscou a reputação de Osório principalmente dada a bela campanha dos aztecas na qualificação para o Mundial 2018. 

O México irá disputar um torneio na longínqua Rússia mas Andrés Diáz garante que tal não será um problema e que vários jogadores da seleção já disputaram encontros em solo soviético. Difícil será antever as ideias de um treinador que sempre se notabilizou por não ter um sistema tático definido e rígido. Só em 2017, por exemplo, o técnico colombiano já iniciou partidas em 4-2-3-1, 3-5-2, 4-4-2, 4-3-3 ou 3-4-3, com tais sistemas a nem sempre se manterem inalterados no decorrer das partidas. "Osório roda imenso a equipa e o sistema tático, além de mudar bastantes jogadores de partida para partida", avisa o analista mexicano. Uma dificuldade acrescida para a turma de Fernando Santos e para os seus analistas vídeo. Diáz admite que o México poderá ter um sistema preparado para anular Cristiano Ronaldo, mas não será uma equipa defensiva: "Creio que o México poderá sair com alguma cautela devido a Cristiano Ronaldo mas historicamente o México nunca foi equipa de jogar para defender. Vai certamente a jogo para atacar Portugal", conclui. 

A estreia de Portugal na Taça das Confederações está marcada para Kazan, domingo, a partir das 16 horas (hora de Portugal continental)