Grande Futebol
Messi procura na Copa América preencher o vazio de uma carreira cheia
2021-06-12 09:55:00
Não será a última dança de Messi, mas restarão poucas oportunidades de vencer uma prova pela seleção principal

Lionel Messi persegue há muito um título pela seleção principal de futebol da Argentina e lá estará de novo na 47.ª Copa América à procura de preencher esse vazio, numa carreira cheia, ímpar.

De companheiros a adversários, de incondicionais fãs a haters, de catalães a merengues, de argentinos a brasileiros, ninguém ousará dizer que não lhe ficava bem levantar em 10 de julho, no mítico Maracanã, esse tão ansiado troféu, que tantas vezes lhe escapou por entre os dedos.

O menino que, com problemas de crescimento, trocou bem cedo a Rosário natal por Barcelona, e pelo Barça, esteve já muitas vezes perto desse sonho - inclusive antes de isso ser sequer um sonho, tão novo começou -, mas, uma após outra vez, “nunca se deu”, como, desolado, já repetiu inúmeras vezes.

Chegou a desarmar, mas foi apenas frustração do momento, sequela de mais uma dolorosa derrota, das muitas – não foram muitas, mas cada uma custou enormidades - que viveu de albi-celeste ao peito, insuficientes, porém, para o fazer abdicar, para o fazer desistir, acomodar.

O dedo foi-lhe invariavelmente apontado, mas decidiu sempre prosseguir, tentar mais uma vez, ir em busca de alterar um destino que não se conforma em ver como traçado, que está apostado em moldar com as suas mãos, ou mais precisamente com o seu pé esquerdo, aquele pé esquerdo que vem maravilhando meio mundo há mais de duas décadas.

É com ele que vai, pela enésima vez, à luta, de novo esperançado, como capitão e cada vez mais como líder de um grupo já quase sem sobreviventes dos tempos em que começou, um grupo em renovação, que o respeita, que o segue, e, certamente, que quererá ganhar com ele, ajudá-lo a ganhar.

E, numa retrospetiva ao seu trajeto pela Argentina, é mesmo isso que lhe tem faltado, a ajuda, o jogador que tenha o dia da sua suprema inspiração precisamente naquele dia em que é preciso que o tenha, um Éder desta vida, alguém que ouse fazer história a seu lado, que o ajude a erguer a taça.

Para trás já ficaram quatro malfadadas finais, uma, do Mundial (2014), perdida com o prolongamento a aproximar-se do fim, e três da Copa América, a primeira dizimado pelo Brasil (2007) e as outras perdidas na lotaria dos penáltis face ao Chile, em anos consecutivos (2015 e 2016).

Se não desistiu então, não poderia fazê-lo nunca e, por isso, continua, porque as ganas de ganhar pela principal seleção da Argentina continuam intactas, ou não tivesse estado tão perto que até deve doer.

A tarefa parece complicada, muito complicada, numa altura em que o campeão em título Brasil, um conjunto que Tite tornou muito forte e compacto coletivamente, é neste momento o inquestionável número 1 da América do Sul, da CONMEBOL, e, vicissitudes da covid-19, é de novo o anfitrião.

Messi deve-o saber, terá consciência que a sua Argentina está longe de ser uma equipa muito fiável, e parte bem atrás dos canarinhos, mas isso só pode servir para o motivar, para dar ainda mais de si, tudo o que ainda tiver para dar.

Com o Mundial2022 a um ano e uns pozinhos, ainda não deverá ser esta a última tentativa, a última dança, mas a verdade é que as suas possibilidades de ganhar um troféu pela sua seleção começam a afunilar, a estreitar-se demasiado, se não terá uma, se calhar só terá duas, ou, no máximo, três.

Assim, para Lionel Andrés Messi Cuccittini, urge consegui-lo, para fechar o círculo e dar à sua carreira um colorido mais intenso, sem isso poder ser confundido com qualquer necessidade de afirmação.

Tudo o que conquistou – e foi mais do que qualquer outro pode sonhar, das seis Bolas de Ouro às seis Botas de Ouro, mais todos os títulos coletivos que podia arrebatar pelo FC Barcelona – é só uma parte da história, pois foram milhões os que tocou com os incontáveis momentos mágicos, das fintas, aos passes, aos golos.

Messi já ganhou um Mundial de sub-20 (2005) e o ouro nos Jogos Olímpicos (2008), o que não é de menos, nem deve ser desvalorizado, mas que lhe ficava bem, ninguém do mundo do futebol ousará dizer que não.

A resposta será dada em solo brasileiro, e todos – menos aqueles cujo argumento contra o argentino é dizerem que nunca ganhou pela seleção - estarão a torcer por ele, talvez até Luis Suárez, Neymar ou Vidal, mas ninguém lhe dará o título de bandeja: Messi vai precisar da equipa, pois ninguém ganha sozinho, mas também de Messi. E com Messi, tudo é possível...