Grande Futebol
Marco Silva, talvez tenhamos de falar sobre Troy Deeney...
2017-12-20 18:50:00
Troy Deeney, capitão do Watford FC de Marco Silva, foi novamente suspenso pela Premier League.

Troy Deeney não é avesso a este tipo de episódios. Vicarage Road. Minuto 34. Foi com o Huddersfield Town a vencer por 2-0 à passagem da meia hora de jogo que o capitão se viu possuído pelo desespero e frustração. Uma entrada dura, por trás, sobre Collin Quaner, valeu a Deeney o cartão vermelho. Nada de novo para Deeney e muito menos para a equipa de Marco Silva que, nos últimos jogos, raramente os tem terminado com onze homens em campo. Na verdade, não o fez em qualquer um dos três últimos jogos que disputou para a Premier League. Temperamental, Deeney não suportou o início em falso do Watford perante o Huddersfield Town e perdeu a cabeça. Como já o tinha feito quando apertou a cara a Joe Allen em final de outubro. Como já o tinha feito, em 2012, quando uma altercação de rua ditou que pudesse passar dez meses preso. O Watford não o libertou e Deeney compensou mais tarde, num período em que a família do avançado acabou salva por Adrian Mariappa. Desta vez, nem o jamaicano vale a Marco Silva.

Depois de um início de temporada impressionante com apenas uma derrota nos primeiros oito encontros da Premier League, sequência que deixou o Watford FC bem instalado na primeira metade da classificação do principal campeonato inglês, as últimas semanas não têm sido positivas para a equipa de Marco Silva. São agora cinco as jornadas consecutivas do Watford sem qualquer vitória, com o conjunto orientado pelo técnico português a ter registado mesmo três derrotas nos últimos três encontros que disputou. Resultados que, certamente, não poderão ser dissociados do facto de, em todos eles, o Watford ter terminado as partidas com dez homens em campo. No total, são quatro expulsões já registadas pelo Watford esta temporada na Premier League, um máximo de competição.

A época 2017/18 não tem sido fácil para Troy Deeney. Depois de 10 golos em 2016/17 que fizeram do capitão, mais uma vez, o melhor marcador da época do Watford, nos catorze jogos já disputados por Deeney em 2017/18, o avançado apenas faturou por duas vezes. A frustração talvez tenha subido à cabeça de Deeney e quem sofreu com isso foi Quaner. Michael Oliver mostrou o vermelho a Deeney e Marco Silva fica, assim, privado do habitual melhor marcador da equipa para os quatro próximos encontros, um período fulcral da temporada inglesa que abrange jogos sucessivos entre o período de Natal e Ano Novo. Ainda para mais, numa altura em que a equipa de Marco Silva atravessa o período mais complicado da temporada. A indisciplina não é nova na carreira de Troy Deeney, ainda que o anterior cartão vermelho da carreira do avançado remonte já a fevereiro de 2010 quando ainda jogava ao serviço do Walsall. Este ano, porém, um desentendimento com Joe Allen em outubro já tinha deixado Deeney fora das opções de Marco Silva durante três jogos. Nada foi tão grave, porém, como quando em 2012 acabou sentenciado a uma pena de prisão de dez meses. Saiu, ainda assim, ao fim de três.

Fevereiro de 2012. Após uma saída à noite, uma discussão com um grupo de estudantes e o grupo no qual se incluía Troy Deeney terminou em violência. Deeney, já atleta do Watford e que até tinha acabado de renovar contrato com o clube, foi filmado pelo sistema de vigilância a pontapear um jovem na cabeça. Tinha 24 anos na altura e, meses mais tarde, foi sentenciado a dez meses de prisão. O Watford não rescindiu. Considerou ter um papel importante a representar na reabilitação do avançado inglês que, por ser estreante neste tipo de sentença, aliado ao remorso demonstrado, acabou libertado ao fim de três meses de prisão. Em campo, Deeney retribuiu. Liderou o Watford no regresso à Premier League e, desde então, nunca ficou abaixo dos dez golos marcados na época.

O Watford não rescindiu, porém, durante esses três meses o salário de Deeney foi congelado. À família de Deeney valeu o colega de equipa Adrian Mariappa que, ontem, veio a conhecer-se ter emprestado dez mil libras à família de Troy Deeney para que a mesma não passasse dificuldades financeiras durante o período. “Tenho a certeza que [Deeney] teria feito o mesmo por mim. Ele estava a atravessar um período complicado. Era habitual escrever-lhe e falar com ele regularmente. É que se faz por alguém por quem tens carinho e respeito”, afirmou o defesa jamaicano ao site do Watford.

A prisão, como em tantos outros casos, mudou Troy Deeney. O próprio avançado já admitiu vezes sem conta que aqueles três meses lhe mudaram a vida e, até, o melhor que lhe aconteceu. Certo é que Deeney não mais se viu envolvido em confusões semelhantes e, em campo, apesar de ser um guerreiro, está longe de ser um jogador violento. Os números não mentem. O último vermelho remonta já a 2010 e, castigos, são raros recebendo em média meia dúzia de cartões amarelos por temporada desde que chegou a Vicarage Road. Esta temporada, porém, Deeney parece diferente com o cartão vermelho a chegar semanas depois da suspensão recebida devido à confusão que promoveu com Joe Allen no encontro que opôs Watford e Stoke City. Caso para preocupação? Marco, talvez tenhamos de falar sobre Deeney.