Grande Futebol
Maradona em Sinaloa: um astro no coração do tráfico de droga internacional
2018-09-09 19:00:00
Diego Maradona irá treinar o clube da cidade que se estabeleceu há décadas como o centro do tráfico de droga mundial.

Janeiro de 2016 foi um mês importante para a justiça, segurança e política mexicana. Foi em janeiro de 2016 que Joaquín Guzmán, mais conhecido como El Chapo, e a resposta mexicana a Pablo Escobar como um dos mais “importantes” traficantes de droga da América Latina acabou por ser capturado pelas autoridades mexicanas. El Chapo, um dos mais poderosos e influentes traficantes de droga do Mundo já havia estado preso em duas ocasiões tendo escapado em ambas e era, portanto, um dos homens mais procurados no Mundo. Foi em Culiacán que El Chapo construiu o seu império, quer na produção de cocaína, quer no tráfico de armas, tornando o estado de Sinaloa no coração do tráfico de droga no México. Estado ao qual chega agora Diego Armando Maradona.

É em Culiacán, no estado de Sinaloa, que está instalado desde 2003 o Dorados de Sinaloa, clube ao qual Diego Maradona regressa aos bancos como treinador depois de passagens pelo comando técnico da Argentina e do Al Wasl e Al Fujairah dos Emirados Árabes Unidos e poucas semanas após ter sido instituído como presidente do Dínamo Brest. Numa fina ironia da vida e do desporto, Maradona, que no início dos anos 90 foi suspenso durante 15 meses depois de acusar positivo o uso de cocaína durante um teste anti doping, chega agora ao comando técnico do clube mais importante do estado de Sinaloa, o coração do tráfico de droga mexicano e casa do Cartel de Sinaloa, o mais poderoso do país.

Apesar de ser natural de Badiraguato no estado de Sinaloa, foi em Guadalajara que El Chapo se iniciou no Mundo da droga. Ao lado de Félix Gallardo, el Padrino, ainda hoje preso e a cumprir uma pena de 37 anos, El Chapo formou o Cartel de Guadalajara até romper com Gallardo e regressar a casa para formar o Cartel de Sinaloa no final dos anos 80 e tornar o estado onde reside o Dorados no coração do tráfico de droga não só mexicano, como Mundial. Estudos e artigos na imprensa internacional apontam para que a faturação do Cartel de Sinaloa seja mesmo superior à do Cartel de Medellín, grupo de tráfico de droga que foi orquestrado e notabilizado por Pablo Escobar. El Chapo construiu um império, tornou-se num dos homens mais ricos do Mundo e durante anos foi considerado o maior traficante de droga do Mundo, sendo também acusado de vários assassinatos, extorsões, sequestros e vários outros crimes violentos, sendo o grande aliado do cartel o grupo altamente militarizado Los Antrax, considerado um dos esquadrões da morte mais letais e brutais do Mundo.

Foi neste ambiente que nasceu e cresceu o Dorados Sinaloa ao longo dos anos. Formado em 2003, há quinze anos, o Dorados teve entre 2004 e 2006 o seu período dourado, com a primeira aparição na primeira divisão mexicana após vencer o play-off de promoção perante o histórico Club León em dezembro de 2003. Sempre sob acusações de influência do cartel de Sinaloa no clube, através da injeção de dinheiro no clube, o Dorados fez chegar a Sinaloa, nesse período, nomes importantes do futebol internacional como Jared Borghetti, Loco Abreu e, claro, Pep Guardiola, tendo sido mesmo no clube sinaloense que o técnico do Manchester City terminou a carreira como jogador e período fulcral para a sua preparação como treinador.

O Dorados nunca foi um clube particularmente bem sucedido no futebol mexicano, cabendo ao clube apesar de tudo a honra de ainda hoje ser o emblema que mais rapidamente ascendeu à primeira divisão após a formação. Em apenas duas épocas, e por isso de forma consecutiva, o Dorados subiu da terceira divisão à primeira, tendo-se mantido no primeiro escalão mexicano durante duas temporadas ou, no caso do México, durante quatro torneios. Só nove anos depois, já em 2015, o Dorados voltou a garantir nova promoção à Liga MX onde mais uma vez não fica por muito tempo durante apenas uma temporada junto da elite do futebol mexicano.

É com o Dorados desconfortavelmente instalado no 13º lugar neste Apertura 2018 que Diego Armando Maradona chega a Sinaloa, com a difícil missão de inverter um ciclo negativo começado há poucas semanas pelo clube. Ao fim de seis jogos disputados na competição o Dorados ainda não venceu qualquer encontro, registando três empates e três derrotas estando já a quinze pontos do líder Atlante, ainda que a apenas cinco dos Alebrijes de Oaxaca que ocupam a oitava posição e, por isso, lugar de play-off para a fase final do torneio disputada em regime de eliminatórias.

As ligações do Dorados ao cartel de droga de Sinaloa nunca se confirmaram, sendo o clube detido pelo grupo Caliente, empresa mexicana dedicada à indústria do entretenimento, em especial, dedicada ao jogo e aos casinos, mas cujos interesses se estendem também ao setor hoteleiro e ao desporto, futebol em particular, detendo não só o Dorados Sinaloa, como também o Club Tijuana da primeira divisão mexicana. No clube mexicano, diz a imprensa do país, Maradona terá à sua espera um contrato de um ano no valor de 1,6 milhões de dólares, verba anual que apenas é superada pela auferida por Tuca Ferretti no Tigres (3,8 milhões/ano) e atual técnico interino do México.

Depois de uma passagem pelos Emirados Árabes Unidos e de ter sido contratado pelo Dínamo Brest para cargos diretivos - que irá manter -, é no México que Diego Maradona regressa aos bancos e dará seguimento à carreira de treinador. Uma proposta que chega poucas semanas depois de vários episódios duvidosos a envolver “El Pibe”, desde as aparições polémicas durante o Mundial disputado na Rússia ao vídeo em que surge sentado no tejadilho de um carro a fazer uma espécie de striptease para vários adeptos bielorrussos. Depois de Guardiola, chegou mais um astro ao coração do tráfico de droga mundial.