Grande Futebol
Lembra-se de Djibril Cissé? Assinou por um clube… que não existe
2018-08-23 18:00:00
Posou com a camisola do clube, que o apresentou nas redes sociais. Tudo certo? Não, tudo errado.

Djibril Cissé é um nome que não soa a desconhecido a quem seguiu o século XXI do futebol mundial. Aos 37 anos, o internacional francês está no fundo - lá bem no fundo - e assinou por um clube da quarta divisão italiana. Posou com a camisola do clube, que o apresentou nas redes sociais. Tudo certo? Não, tudo errado. É que este clube… não existe. A história é complexa. Já lá vamos.

Cissé esteve em dois Mundiais e, aos 37 anos, ainda dá uns pontapés na bola. Uns pontapés bem dados. Na última temporada, fez 24 golos em 29 pelo Yverdon, da terceira divisão da Suíça. Nada mau. O craque, cujas lesões lhe dificultaram a carreira, decidiu dar um novo passo. Vamos lá ao berbicacho.

Então é assim: Cissé assinou contrato pelo Vicenza. O problema é que o clube do norte de Itália, que estava na terceira divisão, faliu. Um novo clube foi formado – Lanerossi Vicenza Virtus, que é a junção do Vicenza com o Bassano Virtus –, mas o avançado francês, ao contrário do que seria suposto, não assinou por esse clube.

Aparentemente, Cissé terá assinado, isso sim, pelo AC Vicenza 1902, um novo clube que quer assumir a pele do original, histórico, falido e velhinho Vicenza. O problema é que, a nível oficial, este clube… não existe. A Federação Italiana não emitiu o licenciamento deste emblema, reconhecendo apenas, para já, o Lanerossi Vicenza Virtus. Acontece que este Vicenza Virtus usa o licenciamento do Bassano Virtus, estando teoricamente “livre” a licença do antigo Vicenza. Afinal, pode existir licença para ambos: um com a do velho Vicenza, outro com a do Bassano. Ufa… ficámos cansados só de explicar isto.

Com um berbicacho destes, é fácil perceber que viria confusão. Os dirigentes do fundido Vicenza Virtus dizem que o AC Vicenza 1902 é uma fraude e uma vontade de criar confusão. Os criadores do tal clube que contratou Cissé dizem que querem o direito de explorar o antigo Vicenza.

“Queremos o título desportivo do Vicenza e estamos dispostos a pagar por isso. Para já, não somos uma empresa oficial, mas estamos à espera da filiação na Federação Italiana. Queremos fazer renascer o Vicenza”.

Como dissemos, mal chegue o “ok” da Federação Italiana, este novo clube, com Djibril Cissé, deverá ter de começar do zero, na quarta divisão. Em desacordo estão os dirigentes do Vicenza Virtus, clube que, inicialmente, parecia encarnar o velho Vicenza. “Não sabemos onde nasceu esse novo Vicenza. É uma empresa sem licença, sem registo em qualquer Liga e sem direitos. Têm apenas a intenção de criar confusão à opinião pública. Felizmente, os fãs sabem distinguir um projeto sério e uma tentativa de aventura pela fama”, explicaram, à Gazzeta dello Sport.

Merecia mais…

Um pouco de história: Cissé era um dos grandes avançados do início do milénio, depois de ter surgido na respeitada escola do Auxerre. Potente, rápido, forte fisicamente e um finalizador razoável. Este francês esteve na célebre noite de Istambul e ajudou a concretizar uma das reviravoltas mais extraordinárias da história do futebol. Bateu e converteu um dos penáltis que ajudaram o Liverpool a conquistar a Champions, frente ao AC Milan, depois da histórica recuperação da desvantagem de 3-0. Depois disso, Cissé andou por todo o lado. Marselha, Sunderland, Grécia (Panathinaikos), Roma (Lazio), Londres (QPR), Catar, Rússia, Suíça e até nas… Ilhas Reunião.

Uma carreira que, não fossem as lesões, poderia ter sido bem melhor. no entanto, é uma carreira que, convenhamos, mereceria uma aventura bem melhor do que este berbicacho de “Vicenzas” no fundo – lá bem no fundo –  do futebol italiano.