Um percurso errante de um filho de refugiados albaneses do Kosovo que escolheu a seleção belga entre seis opções
Esteve sem jogar pela seleção belga desde 2014, mas no dia em que o técnico Roberto Martínez anunciou a lista dos 23 para o Mundial do Brasil lá estava o nome de Adnan Januzaj, o menino que Alex Ferguson foi buscar ao Anderlecht mas nunca triunfou a sério em Old Trafford. “Januzaj é muito forte em situações de um para um. Podemos usar isso na Rússia. Especialmente com o número de partidas. Se o grupo se cansar, Januzaj pode fazer a diferença. Além disso, ele ganhou maturidade desde janeiro”, explicou na altura o selecionador da Bélgica que mostrara-se agrado com a exibição do jovem atacante da Real Sociedad, de 23 anos, no particular com Portugal. Ontem, Januzaj foi titular frente à Inglaterra e fez o golo que selou o triunfo dos belgas, um golo que entra seguramente na lista dos melhores deste Mundial.
A última partida oficial de Januzaj pela Bélgica remontava a 16 de novembro de 2014, com o País de Gales, na fase de qualificação para o Europeu de 2016, quando atuou apenas um minuto. Meses antes, também tinha disputado um jogo no Mundial do Brasil, com a Coreia do Sul, na primeira fase da competição.
Filho de refugiados albaneses do Kosovo, Januzaj nasceu em Bruxelas, e além da Bélgica teve mais cinco opções para jogar a nível de seleções: poderia optar pelo Kosovo ou Albânia, pela origem dos pais. Turquia ou Sérvia, pela origem dos avós, e até a Inglaterra, porque estava na ilha há cinco anos quando foi chamado por Wilmots para jogar pela seleção belga, tendo a estreia ocorrido em maio de 2014 num particular contra o Luxemburgo, quando entrou em campo ao intervalo. Convocado para o Mundial do Brasil, jogou apenas uma vez na competição, frente à Coreia do Sul.
Aos 18 anos, Januzaj viveu um dilema dramático. O pai dele não queria que o filho jogasse pela Bélgica. O pai, kosovar de etnia albanesa, alimentaria o desejo de ver Januzaj defender a Albânia ou até uma futura seleção do Kosovo. Os pais de Januzaj fugiram da barbárie de uma guerra civil, e esse é um fato que pode ter exaltado o sentimento de nacionalidade kosovar. Mas a opção do filho foi outra. A seleção belga. Aliás como foi o caso de Xherdan Shaqiri, do Bayern de Munique, que tem origem kosovar, mas joga pela seleção da Suíça, país onde foi criado. Ou Granit Xhaka (Suíça), filho de pais albaneses do Kosovo, e que nasceu em Basileia.
Quando Januzaj teve de tomar uma decisão, até o então selecionador belga Marc Wilmots anunciou no twitter: “Recebi a confirmação oficial de que Adnan Januzaj está à disposição da seleção belga para o resto da sua carreira!”, escreveu Marc Wilmots, em 2014.
J’ai reçu la confirmation officielle qu’Adnan Januzaj se met à disposition de l’équipe nationale belge pour la suite de sa carrière!
— Marc Wilmots (@WilmotsMarc) 23 de abril de 2014
Descoberto nas categorias de base do Anderlecht, Januzaj foi contratado pelo Manchester United em 2011, quando tinha quinze anos. No final da temporada 2011/12, Alex Ferguson, então técnico dos “red devils”, inscreveu o jovem jogador com o número 44, colocando-o no banco de suplentes no jogo contra o West Bromwich, último da longa trajetória no comando técnico do United. No entanto, Januzaj não entrou em campo. Teve ainda um bom desempenho na pré-temporada, no qual deu uma assistência para o único golo dos ingleses no particular frente ao Sevilla. A estreia oficial aconteceria em de agosto de 2013, na decisão da Supertaça inglesa contra o Wigan, entrando no lugar de Robin van Persie, já sob a orientação de David Moyes. Na Premier League, estreou-se contra o Crystal Palace, substituindo Ashley Young. Januzaj marcou os primeiros golos como profissional em outubro, contra o Sunderland. Durante aquele mês de outono, foi uma lufada de ar fresco para uma equipe liderada por um técnico questionado como Moyes. O escocês, recorde-se, não terminou a temporada. Em 2014, após a aposentadoria de Ryan Giggs, passou a utilizar a camisola 11.
Em mais uma fase do seu percurso errante, Januzaj foi emprestado ao Borussia Dortmund para a temporada 2015/16. Mas após somente seis partidas, o empréstimo foi cancelado e retornou ao Manchester United em janeiro de 2016. Tempo perdido. Na temporada 2016/17, atuou pelo Sunderland, também por empréstimo. Em julho de 2017, foi anunciado como novo reforço do Real Sociedad, que pagou 10 milhões de euros pelo jogador.
Januzaj ganhou novo fôlego frente à Inglaterra e já deixou bem claro quais são as metas traçadas para este Mundial, e um sonho: “Chegar aos quartos de final já não era mau, mas acho que podemos fazer algo melhor. Meia-final, final e…por que não ganhar?”, afirmou o menino de sangue kosavar que brilha na seleção belga.
