Grande Futebol
Irmãos que seguem irmãos: uma história antiga no futebol
2017-07-11 17:00:00
AC Milan contratou Antonio Donnarumma, irmão mais velho de "Gigi" Donnarumma

“Querem contratar-me? Então contratem também o meu irmão e temos acordo”. Reconhece este cenário fictício? Possivelmente, sim. São muitos os casos de jogadores que, quando assinam com um clube, trazem os irmãos, também eles futebolistas, a “reboque”. Benfica e Sporting tiveram casos recentes.

É difícil comprovar que foi uma exigência feita para a assinatura do vínculo, mas as estatísticas não mentem: em grande parte dos casos, os irmãos – menos talentosos – não chegam sequer a estrear-se pela equipa em causa, mas ficam, pelo menos, contratualmente ligados a grandes clubes durante alguns anos.

Neste verão, parece existir mais um caso deste tipo. A novela em torno da renovação de Gianluigi Donarumma com o AC Milan foi longa, muito longa, e trouxe, nesta semana, outro episódio: Antonio Donarumma, guarda-redes de 28 anos, que estava no modesto Asteras Tripolis, da Grécia, assinou com o nada modesto AC Milan. Em simultâneo, a imprensa italiana garante que a contratação de Antonio Donarumma foi uma condição imposta por “Gigi”, irmão mais novo, para renovar contrato com o clube do norte de Itália, um facto confirmado já nesta terça-feira.

Benfica e Sporting com casos recentes

Os nomes Uros e Filip, possivelmente, não lhe dirão nada. Nem mesmo se lhe dissermos que é são médios sérvios que passaram pelo Benfica. No entanto, se falarmos de Nemanja e Lazar, é provável que o leitor dispare “Matic e Markovic”. E é isso mesmo.

Nemanja Matic passou pelo Benfica entre 2011 e 2013. Chegou envolvido no negócio da venda de David Luiz ao Chelsea e saiu, novamente para o Chelsea, como um dos melhores médios da Europa. Pelo meio, em 2012, chegou ao Benfica Uros Matic. Esta segunda versão dos manos Matic não teve muito sucesso. 16 jogos realizados… pela equipa B. Agora, Nemanja é titular do Chelsea e Uros joga na Dinamarca, no FC Copenhaga.

Já na família Markovic, o irmão mais novo, Lazar, foi uma das figuras do Benfica em 2013/14. Com ele, no início da temporada, chegou Filip Markovic. Fez 21 jogos pela equipa B e, agora, está no Mouscron, da Bélgica.

Ainda em Portugal, mas no Sporting, há um caso bem “fresco”. Na última temporada, os leões contrataram Alan Ruiz, o novo dono da camisola 10 do Sporting. Com o argentino, chegou o irmão, Federico, bem menos cotado. Resumamos o final da história: Alan Ruiz deverá ser uma das peças-chave de Jorge Jesus, no Sporting 2017/18, enquanto Federico Ruiz, depois de um empréstimo ao Sintrense (três jogos realizados), ainda tem futuro indefinido.

Lá por fora há irmãos Seedorf, Santa Cruz, da Silva ou Navas

Outros casos existem, no estrangeiro. Primeiro, o mais difícil de desvendar: Kaká e Digão. Ambos os irmãos utilizam alcunhas - nasceram Ricardo e Rodrigo Leite -, o que não torna evidente a relação entre os dois. Ainda assim, é conhecida a história da ida de Digão para Itália. Com Kaká como uma das estrelas do AC Milan, Digão, defesa-central, assinou pelo clube, em 2004. O registo, esse, não é famoso: apenas três jogos pelo clube e uma sucessão de empréstimos, inclusivamente ao Penafiel, em 2010/11.

Também Roque Santa Cruz, histórico avançado paraguaio, protagonizou um caso semelhante. O jogador trocou o Bayern Munique pelo Blackburn, em 2007, e, no ano seguinte, Julio Santa Cruz, o irmão, com uma carreira bem mais modesta, seguiu-lhe os passos. Nunca chegou a jogar pela equipa principal do Blackburn.

Da Bélgica, chegam dois casos semelhantes, mas com finais distintos. Eden Hazard assinou pelo Chelsea, em 2012/13, e o clube londrino “pescou” também o irmão, Thorgan Hazard. Ainda assim, este caso não pode ser visto da mesma forma que os outros. Apesar de não ter tido sucesso no Chelsea, Thorgan Hazard afirmou-se nos empréstimos ao Zulte e ao Monchengladbach, acabando por convencer o clube alemão a pagar oito milhões de euros pela sua contratação.

Já nos irmãos Benteke o início foi semelhante, mas, até agora, o desfecho é totalmente oposto. Christian Benteke juntou-se ao Crystal Palace na última temporada, por cerca de 30 milhões de euros, e convenceu o clube inglês a contratar Jonathan Benteke, de 22 anos, também ele avançado. A concorrência do irmão mais velho não fez bem ao jovem Benteke, que realizou apenas um jogo pelo Palace.

Dose dupla de uma versão repetida

Em 2008, o Manchester United recebeu duas “fotocópias” brasileiras. Os gémeos Rafael e Fábio da Silva chegaram do Fluminense e, para além das parecenças físicas, mostraram muitas parecenças futebolísticas. Ambos laterais, ambos polivalentes, ambos baixos e ambos de propensão ofensiva.

Apesar de todas as semelhanças, a carreira de Rafael tem sido mais fulgurante. Fez 170 jogos pelo United, contra apenas 56 do seu irmão Fábio. Chegou mesmo a ser a primeira opção de Alex Ferguson para a lateral-direita da equipa de Manchester, enquanto Fábio, em boa parte devido aos sucessivos problemas físicos, nunca conseguiu temporadas consecutivas como opção regular. Neste momento, Rafael é titular do Olympique Lyon enquanto Fábio foi opção regular no Middlesbrough, na última temporada.

Outros casos existem, como os irmãos Seedorf. Chedric seguiu o irmão Clarence para o Real e depois para o Inter, na viragem do milénio, mas não teve o sucesso que teve o irmão mais velho. Clarence Seedorf venceu a Liga dos Campeões cinco vezes e por três clubes diferentes (Ajax, Real Madrid e AC Milan).

Caso Gianluigi Donnarumma se mantenha em Milão, será difícil a Antonio Donnarumma provar que chegou ao clube fruto do seu mérito e não fruto da pressão do irmão.