Grande Futebol
“Enchemos o peito depois de ganharmos aflitos e acabámos massacrados”
2021-06-21 13:15:00
Fator psicológico explica o "massacre" a que Portugal foi sujeito frente à Alemanha, segundo Carlos Manuel

O antigo internacional Carlos Manuel – que está na história dos confrontos entre Portugal e Alemanha, graças a um grande golo que marcou aos germânicos, colocando a seleção lusa no Mundial do México – considera que o fator psicológico esteve na base da derrota contundente, por 4-2, na segunda jornada do grupo F do Euro2020. 

Num comentário à exibição frente aos germânicos, o ex-futebolista considera que os jogadores entraram em campo convencidos de que a missão estaria facilitada, em virtude da goleada imposta à Hungria, por 3-0, aliada ao facto de os alemães terem perdido com a França e estarem, por isso, pressionados.  

“Não há nenhum treinador que vá para um jogo e não diga: ‘temos de ser fortes, não deixar o adversário jogar’. De certeza que o Fernando Santos disse isso, como é óbvio. Ao contrário do que muita gente diz, que nós fomos macios, eu digo que nós enchemos o peito. Fomos de peito aberto, tínhamos ganho 3-0 à Hungria, aflitos, atenção, e os jogadores entraram com o peito aberto. Mas isto não é de propósito. O subconsciente trabalha e não dá para mais. E quando entrámos no jogo levámos um massacre... Aqueles 45 minutos foram de massacre”, sustentou, na Sport TV. 

O golo marcado por Cristiano Ronaldo, num contra-ataque perfeito, teve o condão de agravar essa postura irrealista da seleção lusa, que não teve consciência do poderio do adversário. “O nosso golo trouxe esse lado. Os jogadores pensaram: ‘então nós estamos aqui a levar um massacre e marcamos?’ Trouxe o lado pior”, lamenta Carlos Manuel. 

Com o golo de Ronaldo os jogadores convenceram-se de que, mais contra-ataque, menos contra-ataque, voltariam a marcar. “Não é assim... A seleção alemã já tinha massacrado a França, na segunda parte. Também não deixou a França jogar. Foi o que aconteceu com Portugal”, lembra. 

O antigo futebolista entende que a equipa de Joachim Löw não deixou Portugal respirar, o que exigiria outro comportamento por parte dos jogadores. E estes deveriam ter consciência da dificuldade da tarefa que teriam pela frente.  

“Se nós formos rever o jogo, notamos que a seleção alemã recuperou as bolas no nosso meio-campo e quase na área. E mesmo dentro da área. Nós cortávamos a bola já dentro da nossa área. Isto é um massacre. E isso tem que ver com a atitude”, resume. 

A vontade de vencer dos campeões europeus é indiscutível. Carlos Manuel não coloca em causa esse facto. Mas insiste no convencimento de que as favas estariam contadas.  

“Os jogadores querem vencer. Não tenho dúvidas disso. Mas, subconscientemente, aquela equipa entrou cheia de peito e pensou que as coisas eram fáceis. Até porque a Alemanha tinha perdido com a França e nós tínhamos ganho 3-0. Mas o futebol não é isto”, realça.  

Em termos táticos, “houve coisas que não correram bem”, segundo o antigo internacional, que admite uma postura defensiva. “Podíamos estar com bloco baixo, a tentar conseguir controlar o jogo”, diz.  

Porém, “a seleção alemã não nos deixou ter bola”. “Mal a perdiam, pressionavam. E nós ficávamos ali...”, complementa. Mas Carlos Manuel centra o raciocínio na atitude dos jogadores portugueses na partida. “No futebol, quando entras de peito feito e depois queres mudar o chip, é muito difícil. E foi isso que aconteceu à seleção”, assinala. 

Agora, perspetivando já o encontro decisivo com a França, Carlos Manuel antevê alterações no onze de Fernando Santos. “Aqui sentado, é fácil. A tomada de decisão na hora, antes do jogo, é difícil”, começa por dizer. 

“Calculo quem o Fernando possa tirar. Até porque o Renato Sanches está numa fase boa. Mas colocá-lo na direita não. Ele é um transportador, de explosão. Em termos táticos é melhor no centro do que no corredor lateral”, refere. 

 Também há mais mudanças que preconiza para o meio-campo: “Acho que o João Moutinho pode jogar. De todos os que estão no meio-campo, é o que pensa o jogo e sabe orientar os colegas”. 

Apesar de ter estado apagado, “Bruno Fernandes tem de jogar”. No entanto, “tem de sentir que é o dono do jogo”. “No United e no Sporting, ele sentia-se bem e gostava dessa responsabilidade. E sentindo-a rende muito mais”, completa.  

A dupla Danilo-William deverá ser repensada. “Não sei se o Danilo joga. Não gosto do William ao lado do Danilo e para jogar um, prefiro o Danilo”, defende. 

Carlos Manuel antecipa ainda uma eventual alteração no ataque – porventura menos óbvia, até porque Diogo Jota fez uma assistência e marcou um golo, frente à Alemanha, e Bernardo não parece ser a razão do problema. “Acho que o Guedes vai jogar”, conclui Carlos Manuel.