Presidente do organismo máximo do futebol acusado de alegada negligência e favorecimento
Depois do escândalo que levou à suspensão de Sepp Blatter, eis um novo caso na FIFA. O atual presidente, Gianni Infantino, foi investigado por vários casos de alegada negligência e favorecimento, avançou o jornal ‘The Guardian’.
A investigação foi iniciada pela comissão de ética do organismo após Infantino ter subitamente removido desse mesmo grupo o seu presidente e grande parte dos seus membros. De acordo com a publicação inglesa, o líder e a secretária geral da FIFA, Fatma Samoura, tinham recebido queixas de uma possível influência na vitória de Ahmad Ahmad nas eleições para presidente da Confederação Africana de Futebol (CAF). O então presidente da câmara de investigação do comité ética, o procurador suíço Cornel Borbély, decidiu dar valor às acusações e abrir uma investigação. Borbély, recorde-se, já havia estado envolvido numa investigação a uma alegada violação de ética por parte de Gianni Infantino.
O comité de ética da FIFA foi mesmo quem permitiu a Infantino tornar-se presidente da entidade, visto que baniu do futebol Sepp Blatter e e Michel Platini, antigo presidente da UEFA que era apontado como o sucessor favorito.
O ‘The Guardian’ revelou ainda que as acusações incluem queixas de figuras do futebol africano de que a dupla Infantino/Samoura terá, em encontros privados, prometido a presidentes das Federações de Futebol de países africanos que poderia ‘acelerar’ o pagamento previsto pela FIFA às respetivas nações se estas votassem em Ahmad no ato eleitoral que aconteceu em março deste ano.
Ahmad bateu Issa Hayatou, presidente da CAF desde 1988 com quem Infantino tem uma relação menos positiva desde que Hayatou esteve do lado do sheikh Salman bin Ibrahim al-Khalifa, concorrente derrotado por Infantino nas eleições para a presidência da FIFA.
Para além de Borbély, também o juiz alemão Hans-Joachim Eckert, ex-presidente da câmara de adjudicação do comité de ética, foi afastado por Infantino. Os dois falaram aos jornalistas no mês passado, depois da saída do comité. As duas figuras asseguraram que não receberam qualquer informação de que as suas continuações nos cargos do comité de ética não seriam renovadas, considerando que tinham “centenas de casos” a decorrer que vão ficar parados durante anos.
Borbély e Eckert descreveram como “política” a súbita decisão e a falta de explicação nas suas saídas, referindo ainda que a FIFA, apesar dos escândalos recentes, não quer mais mais ter um corpo independente a investigar a corrupção no futebol. O primeiro foi substituído pela colombiana María Claudia Rojas, enquanto que Eckert saiu para dar lugar ao grego Vassilios Skouris
À ‘BBC’, o presidente da Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (CONCACAF) Victor Montagliani, negou que os substitutos de Borbély e Eckert não sejam independentes, remetendo a decisão a uma mera opção da FIFA.
“Eles foram substituídos por duas pessoas independentes de grande qualidade. Por isso, e com todo o respeito, eles podem estar desapontados porque queriam continuar no cargo, há muitos presidentes de outros comités que também querem continuar. Mas, no fim do dia, a FIFA e qualquer outra organização tem o direito de mudar pessoas dos seus comités”, disse o canadiano.
Também envolvido na polémica está Miguel Poiares Maduro. O político, até então membro integrante do comité de governação da FIFA, foi despedido dois meses depois de ter recusado que o vice-primeiro ministro russo, Vitaly Mutko, voltasse a fazer parte do conselho da FIFA.
O ‘The Guardian’ contou que, de acordo com fontes da FIFA, o próprio Gianni Infantino terá confessado a Maduro que a medida imposta a Mutko foi muito complicada para si próprio e para o organismo, dado que a Rússia será o país organizador do Mundial 2018 e a Gazprom, empresa de energia russa, é um dos principais patrocinadores. Poiares Maduro esteve apenas oito meses no cargo, e com ele saíram também, em protesto, Joseph Weiler, Ron Popper e Navi Pillay.
“Estou convencido de que apenas as pressões externas, talvez das autoridades americanas ou da União Europeia, podem garantir uma reforma significativa da FIFA. Sem isso, a FIFA não se vai reformar. O problema é sistemático. O problema fundamental é que o poder é realmente importante para as pessoas dentro da FIFA, então essas pessoas têm um problema na aceitação de escrutínio e governação independente”, admitiu Poiares Maduro ao ‘The Guardian’, continuando ainda ao dizer que “se existe um problema sistemático, então existe um ambiente para a corrupção emergir”. Miguel Poiares Maduro viu a sua cadeira ser ocupada por Mukul Mudgal, indiano.
Quem é Gianni Infantino
Giovanni Vincenzo Infantino nasceu na cidade suíça de Brig durante o ano de 1970. Estou Direito em Friburgo e é fluente em italiano, francês e alemão, sabendo ainda português, inglês, espanhol e árabe. Adepto do Inter Milão, entrou para a UEFA em 2000, tendo-se tornado diretor da Divisão de Assuntos Jurídicos e Licenciamento de Clubes quatro anos mais tarde.
Subiu no organismo, passou a ser vice-secretário geral da UEFA, evoluindo em 2009 para secretário geral. Na entidade máxima do futebol europeu, foi um dos responsáveis pela implementação do Fair Play Financeiro, assim como pela expansão do Europeu de 16 para 24 equipas, como aconteceu em 2016.
Foi também importante na conceção do projeto da Liga das Nações, uma competição europeia em estudo por parte da UEFA, assim como do Europeu de 2020, que se vai realizar em 13 países.