Grande Futebol
“FC Porto foi a exame tentar passar com nota 10”, diz Taira
2020-10-22 14:20:00
Antigo médio considera que a equipa de Sérgio Conceição foi "submissa", perante um City "que não é tão grande assim"

O FC Porto foi derrotado pelo Manchester City, por 3-1, nesta quarta-feira, em jogo da primeira jornada do grupo C da Liga dos Campeões, marcado pela arbitragem controversa, que motivou críticas de Sérgio Conceição e do próprio clube, que também se pronunciou sobre os lances polémicos – em particular a grande penalidade que deu o primeiro golo aos ingleses. O árbitro não viu uma falta sobre Marchesín e o VAR entendeu que não houve infração. 

A análise tática ficou para segundo plano, num jogo em que Conceição optou por três centrais, a fechar todos os espaços. “O FC Porto foi a exame tentar passar com nota 10”, diz José Taira, no programa Futebol Total, do Canal 11.

“E digo isto porquê? Se nós perguntarmos aos jogadores do FC Porto – principalmente os do meio-campo – se gostaram deste jogo, eu acho que eles vão dizer que não, porque a bola não passou pelo meio-campo do FC Porto”, prossegue o antigo futebolista e atual dirigente do Belenenses.

Para José Taira – que se notabilizou no Belenenses, no Salamanca e no Sevilha, com passagens por outros clubes –, a estratégia do FC Porto “estava montada para passar por linhas baixas, para depois lançar lances como aquele que aconteceu com Luis Diáz”.

O problema reside, de acordo com o ex-futebolista, no momento e nas circunstâncias em que a partida ocorre: depois de um clássico intenso com o Sporting e diante de um adversário com muitas soluções.

“Muitos jogadores do FC Porto foram obrigados a fazer 60 metros. Da maneira com o FC Porto jogou com o Sporting, disputar mais um jogo destes com um desgaste grande, era normal que fosse quebrar por algum lado”, prossegue.

E quebrou em quê? José Taira faz a pergunta e dá a resposta: “A partir do momento em que há cansaço, começa-se a notar pequenas coisas que são sintomáticas. Na situação do golo do Ferran Torres, o Pepe está muito longe a fazer a cobertura”.

“Nas declarações, Sérgio Conceição demonstrou alguma valentia na maneira como ia assumir o jogo. E quando eu vejo este jogo, na cabeça dos jogadores do meio-campo, isto é maluco… Um jogador do meio-campo, quando não toca na bola, fica cego. O que é que acontece? A partir de um certo momento, o desgaste emocional por não teres bola começa a acumular-se", explica o antigo médio.

O FC Porto "poderia ter variado e fazer também pressão alta, para intranquilizar o City". E ainda que Sérgio Conceição tenha sido "exímio como plantou a equipa", cometeu um erro: "Faltou algo mais, e esse ‘algo mais’ era não ser submisso a um City, que não é tão grande assim”.

Taira considera que a equipa de Sérgio Conceição foi perdendo atributos ao longo do jogo, com “o cansaço acumulado”. A perda de “frescura física” levou a que, na segunda parte, se “diluísse a situação das linhas mais curtas”, bem como a harmonia entre setores.

“O City normalmente atrai curto para depois jogar largo. O FC Porto o que fez foi atrair curto, mas nunca conseguiu pensar largo. Ou seja, dava-se à pressão, o que permitia ao City roubar a bola e criar mais dano ao FC Porto. É que o jogo não são só 45 minutos, são 90 e o desgaste acumula e com o acumular desse desgaste surgiram os golos, naturalmente”, salienta.

Taira notou um momento em que a formação portuguesa esteve em bom plano. “A postura que o FC Porto deveria ter apresentado foi aquela que mostrou a partir dos 75 minutos, em que pressiona, rouba a bola”, diz o ex-futebolista.

“O FC Porto respeitou demasiado o Manchester City. Nenhuma equipa gosta de vascular tão rápido, só se jogar com duas linhas de cinco, em que preenche o campo todo. Se o FC Porto atraísse de um lado, o desgaste era menor porque as distâncias eram mais pequenas, os jogadores do meio-campo do FC Porto teriam mais bola e acabariam por criar mais problemas ao City, que não é uma equipa que esteja tão bem”, considera.

“Vi o FC Porto muito solidário, a trabalhar muito bem, o resultado parece-me um pouco exagerado, mas é como eu digo: o FC Porto foi para exame para passar com nota 10”, conclui José Taira.

Este resultado coloca o FC Porto no último lugar do grupo, sem pontos, tal como o Marselha. A formação treinada por André Villas-Boas também perdeu nesta ronda, diante do Olympiacos, que divide a liderança com o Manchester City de Guardiola.