Grande Futebol
"Eu nem devia estar dizer isto. Estão todos combinados uns com os outros"
2020-10-14 12:20:00
Oliveira acusa FPF de andar "a fazer os favores todos àquela gente"

António Oliveira considera que o futebol português precisa de uma mudança para evitar problemas no futuro mais próximo. Para o ex-selecionador nacional é necessário que se perceba para onde está a caminhar o futebol europeu e o que estão a fazer os responsáveis lusos em matérias do futebol.

"A Liga e a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) são como a água e o azeite, nunca se encontram. Estão sempre em divergência. A FPF, ao contrário da Liga, tem ligação direta com o governo, que por sua vez tem ligação com os decisores", disse, salientando que o objetivo agora passa "pelo dinheiro" e por "comprar estações televisivas".

"Daqui por uns meses ou anos, não se admirem que um jogador com 19 ou 20 anos seja transferido por mil milhões. Estou a dizer isto há anos", disse, criticando a existência de competições criadas pela UEFA como a Liga das Nações.

De resto, António Oliveira chega ao ponto de dizer que a FPF "anda a fazer os favores todos àquela gente" e isto tem "um propósito" na realidade do futebol do presente e do futuro.

António Oliveira, que já disse que "os donos disto tudo têm os dias contados", diz que a UEFA anda a fazer experiências para criar campeonatos da Europa "estilo NBA" e "depois vão participar aqueles que eles quiserem".

"Eu nem devia estar dizer isto, mas estou em casa. Essas empresas [que estão a ser criadas] vão substituir a UEFA. Estão todos combinados uns com os outros. São coisas que não podemos provar mas eu digo. É a minha leitura, a minha opinião daquilo que tem acontecido no futebol quer em Portugal, quer no mundo."

Em declarações no programa Respect, com Francisco Chaló e Jerry Silva, António Oliveira sustentou que diz estas coisas, pois "tem algum conhecimento" e vai "falando com algumas pessoas".

Oliveira lamenta ainda e critica os agentes que mandam pois "tomam decisões que não deviam e as que deviam não tomam". "Eu pergunto porquê?", questiona António Oliveira, desagradado com esta situação que se vive no futebol.

Na conversa no Respect, António Oliveira falou ainda sobre os contratos dos direitos televisivos e lamentou que os clubes o façam de forma individualizada, negociando com os seus parceiros os valores a receber.

Oliveira lembra que antigamente a Olivedesportos, empresa que detinha a propriedade das transmissões dos jogos do campeonato, era uma espécie de "Fundo Monetário Internacional dos clubes portugueses" e renovava os contratos, permitindo que estes recebessem verbas fundamentais para os seus cofres mas "sem apontar 'pistolas' a ninguém".

E fazia-o ao mesmo tempo com os clubes, de tal modo que, uma vez que agora não é assim (dado que cada clube tem negocioado de forma isolada) os contratos não terminam ao mesmo tempo.

António Oliveira entende que se os direitos televisivos não forem concentrados isso acabará por "'matar' o futebol" e explica o seu entendimento nesta área.

"Como vão competir equipas que recebem quatro milhões com equipas que gastam 100 milhões? Reparem no exemplo: uma equipa que sobe à Premier League recebe 150 milhões de libras só porque sobe. É assustador para nós e para a incompetência dos nossos decisores. As receitas são todas do mesmo lado."