O guarda redes do Cardiff City chegou a ter as malas feitas para regressar às Filipinas e desistir do futebol europeu.
A vida de um jogador de futebol tem destas coisas. Nunca se sabe quando a mesma dará uma cambalhota tal que, em poucos meses, se possa passar de quase sem abrigo a jogador de Premier League. Aconteceu a Neil Etheridge, porém. O guarda redes titular do Cardiff City, internacional filipino, esteve a uma semana de esquecer o futebol e regressar a casa. Pagou para treinar e só há cerca de três anos tudo se organizou. Etheridge tinha já 25 anos quando a carreira, por fim, explodiu. Hoje, ou melhor, este fim de semana, três anos depois, sabe que em 2018 será jogador na liga mais rica do Mundo. Nunca é tarde, importa é não deixar de sonhar.
Para Neil Etheridge, pelo País de Gales, por Cardiff, foi chegar, ver e vencer. Na primeira temporada ao serviço dos Bluebirds, não só Etheridge foi titular indiscutível do surpreendente promovido à Premier League (fez todos os minutos de todos os jogos no Championship à exceção do jogo em dia de ano novo perante o QPR no qual ficou no banco de suplentes), como ajudou o clube do País de Gales a definir-se como a segunda melhor defesa da competição mantendo a sua baliza inviolada em 19 encontros. Só Sam Johnstone do Aston Villa e John Ruddy do Wolves conseguiram mais “clean sheets” esta temporada.
Aos 28 anos, Neil Etheridge está a viver o melhor momento de uma carreira que explodiu tarde. Aos 28 anos, esta é somente a terceira temporada em que Etheridge joga de forma regular, meses depois de ter ficado a poucos dias de desistir do futebol europeu e, quem sabe, do futebol profissional. Em 2018, confirmada a promoção à Premier League, Etheridge poderá tornar-se no primeiro jogador do sudeste asiático a jogar na principal liga de futebol em Inglaterra.
“Vendi a minha casa e os meus carros e estive a uma semana de regressar às Filipinas”, contou Etheridge em conferência de imprensa após o jogo que confirmou a promoção direta do Cardiff City à Premier League. “Paguei do meu próprio bolso para poder treinar no Charlton Athletic. Tinha uma relação próxima com o treinador de guarda redes do clube, então treinei o mais duro que consegui e aguardei a minha oportunidade. Esses tempos agora ficaram no passado, já lá vão, mas irão acompanhar-me sempre pois fizeram de mim aquilo que sou hoje”, disse ainda o homem que é herói no seu país.
Tudo mudou na vida de Neil Etheridge nos últimos meses. Particularmente, desde que em 2014 esteve cinco meses sem clube, sem trabalho e a poucos dias de regressar às Filipinas depois de ter sido dispensado do Fulham onde se formou, mas nunca jogou a não ser num encontro da fase de grupos da Liga Europa perante o OB. Em outubro de 2014, porém, conta, a paciência ficou muito perto de se esgotar e foi já de malas feitas para regressar às Filipinas que recebeu uma chamada caída do céu. O Oldham Athletic ofereceu-lhe um contrato de curta duração e o destino agarrou Etheridge à vida futebolística. “Vivi com um colega e dormi no sofá de casa dele. É o tipo de coisas que tens de fazer para conseguir sobreviver”, explicou.
O Oldham Athletic evitou que Etheridge regressasse a casa mais cedo, porém, não evitou que os mesmos sentimentos de desespero se apoderassem de Etheridge meses mais tarde. Sem nunca conseguir agarrar a titularidade na equipa de Oldham, Etheridge regressou a Charlton e mais uma vez raramente saiu do banco. Tanto, que no final da temporada 2014/15 foi dispensado de novo da equipa do Charlton Athletic. Por esta altura, Etheridge tinha já 25 anos e, mais uma vez, o regresso a casa parecia inevitável. Afinal, este era um jogador que tinha mais internacionalizações pelas Filipinas que jogos enquanto profissional. No verão de 2015, porém, tudo mudou.
Mesmo sem que alguma vez Neil Etheridge se tenha conseguido mostrar perante alguém ou alguma equipa, isso não evitou que o Walsall FC lhe oferecesse um contrato de longa duração no verão de 2015. Etheridge foi titular indiscutível desde o dia em que chegou ao Bescot Stadium e em dois anos, os dois anos antes de chegar a Cardiff, disputou cerca de 100 jogos pelos Saddlers. Neil Warnock levou então Neil Etheridge para Cardiff a custo zero e o internacional filipino mostrou ser uma das melhores contratações da temporada.
“Warnock trouxe para Cardiff jogadores com fome de bola e que tinham um ponto a provar. Jogadores que acreditavam na filosofia de Warnock e na sua sede de vitória. Penso que até ele próprio admite que podemos não jogar o futebol mais bonito, mas conseguimos os resultados que queríamos”. Em Cardiff, admite, teve de calar os críticos que duvidaram da sua capacidade de jogar ao mais alto nível. “Não seria futebol se não tivesses os teus críticos. Existirão sempre aqueles que irão duvidar de ti e pessoas que te irão questionar enquanto jogador, mas tens de saber conviver com isso. Tem sido uma temporada fantástica a nível pessoal. Aprendo todos os dias e tenho a certeza que ainda tenho muito por onde evoluir”, disse o guarda redes do Cardiff City à imprensa.
Em poucos meses a vida de Neil Etheridge deu uma volta completa e o guarda redes internacional pelas Filipinas, por fim, passou a ter mais jogos de liga que internacionalizações. Queira Neil Warnock, dentro de poucos meses, Etheridge poderá tornar-se no primeiro jogador filipino a jogar a Premier League. Nunca é tarde, importa é não desistir.