Grande Futebol
Diário de um jornalista no Mundial (22)
2018-07-11 13:00:00
António Tadeia vai publicar todos os dias uma entrada neste diário, sempre pelas 13h

E a França lá está. No final do França-Bélgica, que os gauleses resolveram com um golo de Umtiti, estive com José Morais em estúdio, na RTP3, e a forma como dividimos opiniões, concordando, ainda assim, com os pontos de vista do outro, é a prova de que o futebol pode ser visto de mais do que uma maneira. A mim impressionou-me o modo como os belgas foram em busca de modos de contrariar o jogo francês, cercando Pogba e Mbappé e anulando as vias de abastecimento a Griezmann, o que conseguiram durante boa parte do jogo, assumindo por isso a iniciativa. O meu interlocutor estava mais dececionado com a forma como Roberto Martinez aprisionou os seus jogadores, inibindo-lhes a liberdade de mostrarem que são melhores.

No fundo, ambos concordávamos com o que o outro estava a dizer. A diferença partia de uma primeira análise ao que valem as duas equipas. E a mim sempre me pareceu – tinha-o dito na edição da tarde do Pontapé de Canto – que a França era superior à Bélgica. Os belgas tinham um par de jogadores que me enchem as medidas em Hazard e sobretudo De Bruyne, mas o nível médio da equipa era inferior ao nível médio da formação à disposição de Didier Deschamps. E a demonstrá-lo apareceu, por exemplo, Matuidi: se não há Pogba, eis que o meio-campo francês encontra outro dínamo igualmente impositivo. Ou Umtiti, autor do golo de cabeça após um canto de Griezmann (a altura do jogo em que ele não pode ser anulado) que desviou para as redes entre Witsel e Fellaini, dois jogadores bem mais altos do que ele.

A meia-final serviu também para isso, para ficar demonstrada a importância das bolas paradas neste Mundial. Regra geral, as equipas têm sido todas um pouco mais fortes e capazes, no modo de contrariar as armas dos opositores, mas onde há estímulo competitivo não tem havido jogos empatados a zero, porque as bolas paradas têm assumido uma importância crescente naquilo que é o jogo. Estava a pensar nisso e a recuar ao tempo de criança, em que devorava tudo o que era desporto e fiquei muito dececionado com as transmissões dos jogos de hóquei em campo de uns quaisquer Jogos Olímpicos: os golos eram todos iguais, de canto, bola parada e sticada para as redes. Não sei se o hóquei em campo mudou entretanto. Sei que o futebol tem de levar bem a sério esta nova realidade, que se apresenta como desafio.

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