Grande Futebol
Diário de um jornalista no Mundial (21)
2018-07-08 13:00:00
O António Tadeia vai publicar, todos os dias, uma entrada neste diário.

Quando os jogos se põem iguais, vítimas de um encaixe absoluto, há duas formas de os desatar. Uma é pela aceleração: é fazer as coisas mais depressa do que o adversário para o apanhar desprevenido, criando superioridade em zonas nas quais ela não deveria existir. A outra é fazer o que faz Modric: quase caminhar com a bola nos pés, impávido e sereno, queimando linhas em posse e descobrindo a solução certa para cada nó que o jogo apresenta. No Rússia-Croácia, jogo totalmente atado, só os penaltis separaram as duas equipas, mas o futebol pode agradecer que nesse momento o talento de Luka Modric tenha sido favorecido nos momentos em que Smolov falhou a “Panenkada” ou em que Mário Fernandes atirou quase de bico uma bola enrolada para fora.

A Croácia juntou-se assim a França, Bélgica e Inglaterra nas meias-finais de um Mundial que não tem satisfeito os puristas mas que não me parece esteja a ser tão mau como o pintam. Há decisões por pênaltis? Claro que há. Mas não se acabam jogos sem golos, por muito que as bolas paradas sejam cada vez mais a solução de toda a gente para anular os tais encaixes. Dos seis golos marcados no último dia de quartos-de-final, cinco vieram do ar. Foi pelo ar também que os ingleses mandaram para casa uma equipa da Suécia que substituiu o génio imprevisível e incontrolável de Ibrahimovic pela organização total e absoluta, que nunca se desmonta, mas que acaba por ser um aborrecimento total. Já a Inglaterra, ao menos, tem aspetos a recomendá-la: joga depressa, sim, mas procura fazê-lo bem, sempre com uma ideia. A equipa inglesa ainda é muito jovem – e vai certamente manter-se assim por mais alguns anos, para acolher os campeões de sub17, sub19 e sub20 – e falta-lhe maturidade para escolher a melhor solução na maior parte das situações, para correr menos mas correr de forma mais inteligente, mas já é uma realidade bem palpável neste Mundial.

Aliás, se há coisa de que os ingleses podem gabar-se é de ter aqui chegado com o coletivo mais equilibrado. Estão a Bélgica de De Bruyne (de Hazard, para quem gosta mais da árvore do que da floresta), a França de Mbappé, a Croácia de Modric e a Inglaterra de Southgate. Porque por muito que queiram colocar Kane ao nível dos outros maestros, ao ponta-de-lança inglês ainda falta a capacidade par mudar um jogo, para o gerir na palma das mãos como se fosse uma brincadeira.

Dia 20 - O encanto por De Bruyne

Dia 19 - O fim da Maldição
Dia 18- Bélgica-Japão encheu as medidas
Dia 17- Rússia confirmada pelo comandante do avião
Dia 16 - A eliminação de Portugal
Dia 15 - A polémica do Japão-Polónia
Dia 14 - A eliminação alemã e a vingança brasileira
Dia 13 - A conversa de Queiroz e Moutinho
Dia 12 - Portugal não anda a jogar muito
Dia 11 - Os iranianos ruidosos
Dia 10 - A maldição do Campeão
Dia 9 – A águia albanesa
Dia 8 – Sampaoli e o desastre argentino
Dia 7 – O que faltou à seleção portuguesa
Dia 6 – A força da Rússia e de Dzyuba, um dia de surpresas e do LCD Soundsystem
Dia 5 – A Bélgica, a Inglaterra, e sushi
Dia 4 - Um Brasil a europeizar-se e uma Sérvia a ter de soltar amarras
Dia 3 – O voo de regresso depois da vitória portuguesa
Dia 2 – O dia de Cristiano Ronaldo
Dia 1 - Abertura do Mundial