Grande Futebol
Diário de um jornalista no Mundial (13)
2018-06-27 13:10:00
António Tadeia vai publicar todos os dias uma entrada neste diário, sempre pelas 13h

O meu décimo-terceiro dia de Mundial não teve futebol. Foi marcado por uma viagem longa, que começou às seis da manhã de Saransk (quatro da manhã em Portugal) e ao terminou em minha casa já perto da meia-noite portuguesa (duas da manhã no meu ponto de partida). Pelo meio, o encontro com alguns adeptos e com o meu bom amigo Filipe Duarte Santos, assessor de Carlos Queiroz, com quem aproveitei para conversar acerca do clima que se viveu em torno do Irão-Portugal.

Um Mundial num país tão grande como é a Rússia ou com um plano de viagens que eu tive sempre desde 2012 – desde o Europeu jogado na Polónia e na Ucrânia que vou e regresso a cada jogo da seleção nacional – também é isto. São viagens intermináveis que nos impedem de ver tantos jogos como os que vê quem fica em casa. O meu regresso de Saransk a Lisboa teve esse detalhe que foi uma escala de quase dez horas em Moscovo. Demasiado tempo para estar ali sozinho, não o suficiente para me aventurar num táxi no trânsito ao centro da cidade – e para fazer o quê, exatamente? Fui ficando pelo portão de embarque, vi os voos sucederem uns aos outros, sem televisor nem ligação de internet decente para ver os primeiros jogos do dia (que os outros dois já me apanharam no ar), simplesmente a testar a minha capacidade de aguentar doses massivas de aborrecimento.

Já perto da hora de saída do voo Aeroflot para Lisboa começaram a surgir os primeiros adeptos portugueses e três camisolas do Irão. Entre dois portugueses que foram fazer o Mundial entre a equipa médica iraniana vi o meu amigo Filipe Duarte Santos, ex-colega no Record – e dos bons – e hoje assessor de imprensa de Carlos Queiroz. Aproveitei para lhe transmitir os parabéns pela campanha feita pelos iranianos no Mundial e para lhe dizer o que já tinha dito na transmissão em direto da RTP: que é uma pena que em vez de se falar disso se fale muito mais de VAR. E aí, do meu ponto de vista, a responsabilidade maior foi da estratégia de comunicação de Queiroz. O Filipe rebateu esta ideia. Reconheceu que terá havido uma componente estratégica na forma como antes do jogo Queiroz falou muito do VAR, de forma a chamar a atenção da FIFA para o facto de o sistema estar a funcionar mal neste Mundial, mas jogou a bola para o outro lado do court, lembrando que foram os jornalistas portugueses que mais tarde abriram a conferência de imprensa de Fernando Santos a falar do mesmo tema. Ponto aceite por mim. Na verdade, o jornalismo desportivo em Portugal, muito formado pelos dirigentes e pelos treinadores que fomos tendo, está demasiado virado para estas coisas.

Antes de nos despedirmos ainda perguntei ao Filipe se sabia o que tinha Queiroz dito a João Moutinho. Nada de anormal, respondeu-me. Contou-me que até perguntara a Queiroz se ele se tinha enganado, se achava que aquele era um jogador do Irão, mas ele lhe disse que não. E que só tinha ido dizer-lhe: “Vê se pões calma no jogo que está tudo muito nervoso”. E estava, de facto.

Dia 12 - Portugal não anda a jogar muito
Dia 11 - Os iranianos ruidosos
Dia 10 - A maldição do Campeão
Dia 9 – A águia albanesa
Dia 8 – Sampaoli e o desastre argentino
Dia 7 – O que faltou à seleção portuguesa
Dia 6 – A força da Rússia e de Dzyuba, um dia de surpresas e do LCD Soundsystem
Dia 5 – A Bélgica, a Inglaterra, e sushi
Dia 4 - Um Brasil a europeizar-se e uma Sérvia a ter de soltar amarras
Dia 3 – O voo de regresso depois da vitória portuguesa
Dia 2 – O dia de Cristiano Ronaldo
Dia 1 - Abertura do Mundial