Grande Futebol
Diário de um jornalista no Mundial (10)
2018-06-24 13:00:00
António Tadeia vai publicar todos os dias uma entrada neste diário

De certeza que já leram isto em qualquer lado: há uma maldição a pesar em cima do campeão do Mundo. A Espanha, campeã de 2010, ficou-se pela primeira fase em 2014. Antes, a Itália, que foi campeã em 2006, foi eliminada na fase de grupos de 2010. Ainda mais atrás, a França, que tinha sido campeã em 1998, caiu com estrondo ao fim de três jogos em 2002. Até Joachim Low, o selecionador alemão que tem ar de quem podia fazer de mau em qualquer episódio do Inspector Max e ficou mundialmente conhecido ao ser filmado no banco a perscrutar o interior das narinas, mencionou a maldição na sequência da derrota com o México, na estreia germânica neste Mundial. Acredita nisto? Não? Faz muito bem.

E no entanto, depois do golo de Toivonen ter adiantado a Suécia, de Boateng ter sido expulso com 1-1 no marcador, já se adivinhava o cenário de exclusão dos alemães. Mas aí, já em período de descontos, no mesmo relvado de Sotchi em que, frente à Espanha, Cristiano Ronaldo já resgatara Portugal, Toni Kroos imitou o colega do Real Madrid, meteu um livre no ângulo, frustrando a estirada do guardião Olsen, e deu à Alemanha uma vitória preciosa, que abre a porta ao encerramento da conversa acerca dessa tal maldição. A Alemanha está viva, continua a ser competitiva, e mesmo se ainda não foi capaz de mostrar brilhantismo nem segurança capazes de a transformar em maior candidata à vitória no Mundial, tem de se contar com ela.

Como tem de se contar com a Bélgica. Se contra o Panamá a equipa de Roberto Martínez nem teve de mostrar grande coisa, a goleada contra a Tunísia, equipa mais forte, deixou indicações de um poder baseado no cérebro de De Bruyne – sempre boas decisões – nas arrancadas de Eden Hazard, no poder de fogo de Mertens e na mera presença de Lukaku. A ganhar desde cedo, esta Bélgica deu a melhor lição de como gerir ritmos de um jogo neste Mundial. Chegou aos cinco, como podia ter chegado aos sete ou oito, tal foi a pujança mostrada em campo. No momento em que volto à Rússia – quando esta entrada for publicada estarei a voar para Saransk – a Bélgica foi a equipa que mais me impressionou até aqui.