Grande Futebol
Diário de um jornalista no Mundial (1)
2018-06-15 12:55:00
António Tadeia vai publicar todos os dias uma entrada neste diário, sempre pelas 13h

14 de Junho.

Este é um daqueles Mundiais que, para mim, mais vai parecer de natação do que de futebol. Vou passar este mês “a fazer piscinas”, porque virei à Rússia apenas para comentar os jogos de Portugal, regressando de imediato à base. Fi-lo em França, no Euro, há dois anos (e por isso não fui, por exemplo, a Marcoussis), ainda que aí as distâncias fossem mais curtas. Mas também já o tinha feito também no Brasil, em 2014, ou no Europeu da Polónia e da Ucrânia, em 2012. Fiquei íntimo do espaço claustrofóbico que os aviões representam, sobretudo quando se viaja sozinho e sem aqueles que mais contam para nós.

Um Mundial, para um jornalista, é bem mais do que a soma dos jogos que levam à entrega da taça aos vencedores. É o ambiente, é a escolha do que cobrir a cada dia, é o trabalho prévio na procura do detalhe que pode fazer a diferença, são os encontros com amigos que muitas vezes só vemos de dois em dois ou até de quatro em quatro anos. É diferente para um comentador, que não tem reportagem para fazer e a quem as viagens em catadupa tiram a hipótese de ver boa parte dos jogos. Tem outros aliciantes, tais como a possibilidade de emitir opinião acerca do que mais interessa ao público, que são os jogos da seleção nacional. E o facto de, sei que por arrastamento, ser ouvido por milhões de pessoas.

Cheguei a Sochi pelas 16 horas (mais duas do que em Lisboa). Não me surpreendeu o calor, que hoje há apps para nos precavermos. Até me permitiu vir com a mala mais leve: tshirts e só duas camisas e um blazer para os diretos do dia do jogo. Como ainda não tinha acreditação (nem sequer a garantia de, entre a burocracia habitual na Rússia, a conseguir a tempo de ir assistir à conferência de imprensa de Fernando Santos e ao treino da seleção), optei por ficar no hotel a ver o Rússia-Arábia Saudita e por ir buscar a acreditação na manhã seguinte. Vi com atenção enquanto houve jogo, fui dividindo o ecrã com outros assuntos a partir do momento em que os sauditas abdicaram. Bem a Rússia a encontrar o ritmo e o espaço para as transições ofensivas, mas creio que sempre muito devido à fragilidade defensiva da equipa de Pizzi, um desastre posicional permanente. Bem Golovin, bem Cheryshev e a confirmação do jeito que dá ter avançados tão diferentes como Smolov e Dzyuba. Ainda assim, continuo com dúvidas de que esta Rússia chegue para ganhar ao Uruguai ou até ao Egito, neste caso se Salah aparecer ao seu nível.

A jornada acabou com a reunião de trabalho da equipa da RTP, a preparar todos os detalhes para o muito que haverá a fazer durante todo o dia do Portugal-Espanha. Um ligeiro passeio após o jantar tardio permitiu-me perceber que o hotel fica nas margens do Mar Negro e que se chega à praia a pé. Não trouxe calções de banho. Fica para a segunda fase, quando aqui voltar.

António Tadeia vai publicar todos os dias uma entrada neste diário, sempre pelas 13h