Grande Futebol
Diário de um jornalista no Mundial (9)
2018-06-23 13:00:00
António Tadeia vai publicar todos os dias uma entrada neste diário.

O nono dia do Mundial teve Brasil a jogar e uma botija de oxigénio lançada à Argentina, quando a Nigéria ganhou à Islândia, mas nada o marcou tanto como a águia albanesa desenhada com as mãos por Xhaka e Shaquiri depois de marcarem os dois golos com que uma Suíça multi-étnica derrotou o poderio sérvio. Foi com aquele gesto simples, polegares entrelaçados e os restantes oito dedos abertos, como que prontos a erguer-se no voo da águia, que estes dois jogadores suíços de origem kosovar expressaram o orgulho de uma nação que nem era aquela que estavam a representar. Peter Gabriel cantava há anos acerca dos Jogos Sem Fronteiras, chamando-lhes “guerra sem lágrimas”. O Mundial de futebol está aí, com todas as complexidades que os movimentos migratórios de massas trouxeram à geo-política.

No campo, o jogo também foi interessante. Bem a Sérvia enquanto conseguiu ligar a arte de Tadic com a potência aérea de Mitrovic. Melhor a Suíça quando finalmente conseguiu ligar o cérebro futebolístico de Xhaka com a dinâmica e a rotatividade de Shaquiri. Acabaram por ganhar os suíços, com um golo dramático, mesmo no final do jogo, a exemplo do que tinha sucedido ao Brasil, que precisou de 90 minutos para furar a barreira costa-riquenha. Esta equipa do Brasil continua a ser um enigma. Apática é incapaz durante 45 minutos, mostrou-se esforçada e persistente no resto do jogo, mas ainda longe da potência criativa que poderia ser se soltasse os talentos que tem no grupo. Neymar até fez um golo, o segundo, ao sétimo minuto de desconto, mas continua a passar ao lado do Mundial. Vai ter um escaldante jogo com a Sérvia, que em princípio será um “mata-mata”, para mostrar ao que vem. E se vem.

Outro “mata-mata” em potência será o Nigéria-Argentina. Os argentinos viram a Nigéria lançar-lhes uma bóia de salvação, quando ganhou à Islândia, e continuam de pé, com esperanças de qualificação. Uma vitória na última ronda, contra os mesmos nigerianos, só não assegura a continuidade em prova se ao mesmo tempo à Islândia ganhar à Croácia. Improvável. Mas para isso Messi ainda terá de mostrar que é capaz de se impor no panorama construído nesta equipa sem rei nem roque.