Grande Futebol
Devoção ao presidente errado, o pecado de Ilkay Gundogan
2018-06-09 21:30:00
Ilkay Gundogan e Mesut Özil têm sido sujeitos a fortes críticas depois de um encontro com o presidente da Turquia.

Leverkusen. Minuto 57. O jogo para o eslovaco Slavko Vincic permite a substituição. Não é a primeira do jogo. Ao intervalo já três haviam sido feitas. Duas na Alemanha, que partiu para o descanso a vencer por 2-0 e uma na Arábia Saudita. Todas táticas, nenhuma física. Felizmente. Afinal, está aí à porta o Mundial e em preparação para ele que Alemanha e Arábia Saudita se enfrentaram. Minuto 57. Marco Reus é substituído por Ilkay Gundogan. Entre as palmas para o avançado do Borussia Dortmund e os assobios ao médio do Manchester City, o público divide-se. Até final é uníssono. Sempre que Gundogan toca na bola, é vaiado.

Os assobios a Gundogan eram esperados, mas no seio da comtivia alemã havia a esperança de que não se repetissem em Leverkusen. Porém, apesar dos apelos de Oliver Bierhoff, o médio do Manchester City acabou mesmo visado pelos adeptos germânicos. "Apesar de toda a irritação que possamos ter, somos uma equipa, nós os e os adeptos. Sim, as coisas tomaram um rumo errado de alguma forma. Mas devemos todos seguir em frente. Espero que todos, mesmo o que ainda estão incomodados com a situação, controlem um pouco as emoções. Que mais podíamos nós, federação, fazer? Acredito que fizemos o suficiente e já chega. Muito já foi dito, muito foi discutido. Tudo isto ficará connosco durante mais algum tempo, mas eu disse aos jogadores para tentarem esquecer a situação", afirmou o diretor técnico da Mannschaft. Os assobios, porém, não desapareceram.

"O facto de um jogador da seleção nacional ser assobiado não ajuda quem quer que seja. O que pode fazer agora Gundogan? Ele tirou uma fotografia, okay, mas de seguida falou sobre isso na imprensa e reiterou o seu respeito pelos valores alemães. Este assunto tem de terminar". Joachim Löw foi rápido a reagir à polémica e logo após o encontro frente à Arábia Saudita não se escusou a comentá-la e também Mats Hummels saiu em defesa dos colegas após o encontro. Por esta altura, há vários dias que tanto Gundogan, como Özil, estão no centro das atenções mediáticas pela Alemanha. Em causa está um encontro com Erdogan, presidente turco, durante o qual Gundogan ofereceu uma camisola do Manchester City a Erdogan, publicando o momento nas redes sociais com a legenda "para o meu presidente, com todo o respeito".

Desde meados de maio que tanto Özil como Gundogan são alvo de críticas na Alemanha. Criticas surgidas logo após o encontro de ambos os futebolistas com Erdogan, em Londres, numa altura em que popularidade do líder turco está longe de ser alta. Com Özil de fora do encontro frente aos sauditas devido a um ligeiro problema físico que não irá impedir o médio do Arsenal de participar no Mundial, quem sofreu acabou por ser Ilkay Gundogan que sempre que tocou na bola durante os minutos que jogou perante os sauditas acabou assobiado pelos adeptos presentes no estádio do Bayer Leverkusen.

As críticas a Özil e a Gundogan não são novas e estendem-se desde o encontro com Erdogan. Nascidos em Gelsenkirchen, mas de ascendência turca, o apoio de Özil e Gundogan a Erdogan não caiu bem, sequer, junto das altas instâncias da federação alemã. "O futebol e a DFB defendem valores que não são respeitados suficientemente por Erdogan. Por isso, não é bom quando nossos jogadores são manipulados para a sua campanha eleitoral", afirmou Reinhard Grindel, presidente da Federação Alemã de Futebol, logo após a divulgação das imagens do encontro.

A posição do líder do futebol germânico teve eco, também, em Oliver Bierhoff, secretário técnico da equipa principal de futebol da federação alemã. "Os dois não tinham consciência do simbolismo e significado dessa foto, mas não aprovamos essa ação e falaremos com eles", afirmou o antigo goleador. Nem mesmo Cem Özdemir, deputado do Partido Verde alemão, também de origem turca, apreciou o gesto, reiterando que "o presidente alemão se chama Frank-Walter Steinmeier, a chanceler federal, Angela Merkel, e o Parlamento, Bundestag", não fossem os dois jogadores esquecerem-se do país onde realmente nasceram, com a co-presidente do AFD a exigir mesmo a renuncia de Özil e Gundogan à seleção alemã.

Principalmente do centro à direita do espetro político alemão as críticas feitas a Özil e a Gundogan têm sido fortes nos últimos dias. Para a CDU, "a posição dos jogadores vai contra os esforços de integração da comunidade turca na Alemanha. 'Queremos que os cidadãos turcos no nosso país vejam a Alemanha como o seu país'", destacou Eberhard Gienger. Em Leverkusen os assobios surgiram fortes sempre Gundogan tocou na bola, sinal de que nem o pedido de desculpas publico feito amenizou a situação. "Como jogadores da Alemanha, defendemos os valores defendidos pela DFB e estamos cientes da nossa responsabilidade”, afirmou. Vale, a Gundogan e a Özil, que não estamos em 2006 e em 2018 o Campeonato do Mundo é disputado na Rússia e não em casa. "Último jogo antes do Mundial e a honra de sempre de jogar por este país", escreveu Gundogan após o encontro. Será desta que as pazes serão feitas?