Grande Futebol
De Gea e como um guarda redes de elite pode ajudar a decidir um campeonato
2018-04-08 14:15:00
David de Gea voltou a ser decisivo e voltou a comprovar como ter um guarda redes de elite permite fazer a diferença.

O Manchester United venceu ontem o rival Manchester City no terreno da equipa de Guardiola e evitou que o City se tornasse na equipa a vencer o título mais repentino da história da Premier League. Decisivo para tal desfecho, mesmo tendo em conta os dois golos sofridos, esteve David de Gea. Como em tantas outras tardes e noites desde que chegou a Manchester, mas em especial esta temporada, De Gea foi um verdadeiro muro e ajudou com grande influência a equipa de Mourinho a vencer um jogo. Estatisticamente, De Gea tem feito uma temporada impressionante e é a razão principal pela qual o Manchester United é segundo classificado e não está apenas a lutar pela qualificação europeia. Tivesse, por exemplo, o Liverpool, um guarda redes como De Gea e a luta pelo título em Inglaterra talvez não tivesse já tão resolvida como está neste momento.

Se é dos que acredita que o Manchester United é uma equipa que defende bem e, digamos, o Liverpool, uma equipa que defende mal, este artigo é para si e para que possa pensar duas vezes. Com uma média de sete remates encaixados por jogo na Premier League, o Liverpool apenas perde para o Manchester City no que à média de remates por jogo concedidos ao adversário diz respeito. Em média, a equipa de Guardiola apenas cede seis remates aos adversários da Premier League. O Manchester United, por seu lado, permite quase 12 remates em média aos adversários, um registo que até é superado por equipas como o Huddersfield Town ou o Watford, mas também City, Arsenal, Chelsea, Tottenham e Liverpool. Ora, apesar de até não ser uma das equipas que menos remates permite em média aos adversários, o United é neste momento a segunda melhor defesa da competição com apenas 25 golos encaixados, algo que só é possível devido à temporada impressionante de David de Gea.

Com pelo menos duas defesas decisivas, ontem, perante o Manchester City, David de Gea voltou a reiterar a sua influência na equipa de José Mourinho. Nenhum guarda redes na Premier League regista um diferencial tão elevado no que toca a golos efetivamente sofridos face aos golos que, em teoria, dadas as oportunidades de golo permitidas aos adversários, era expetável que esse guarda redes tivesse sofrido. Segundo a conceituada Opta, seria de esperar que neste momento o Manchester United tivesse sofrido 37 golos na Premier League face aos 25 que efetivamente sofreu. Um registo que provavelmente deixava a equipa de José Mourinho às portas de um lugar europeu e não necessariamente na vice liderança da Premier League.

A diferença de ter, ou não, na baliza, um guarda redes de classe mundial passa muito por aí. Tivesse, por exemplo, o Liverpool, um guarda redes como De Gea na baliza e a luta pelo título em Inglaterra podia muito bem-estar mais acesa do que está neste momento. Se o Liverpool é a segunda equipa que menos oportunidades de golo permite aos adversários, tanto Chelsea, como Burnley, como Tottenham, como ambas as equipas de Manchester, têm neste momento menos golos sofridos no total que a equipa de Jürgen Klopp. Não porque o Liverpool seja uma equipa que defende mal, mas porque não tem um guarda redes que faça a diferença como têm os rivais de Manchester. Bem pelo contrário.

Com 35 golos já sofridos na Premier League, o Liverpool até está acima do total de golos que era expetável que neste momento tivesse sofrido na competição. Os portais estatísticos defendem que o normal, dadas as oportunidades de golo concedidas aos adversários, era que o Liverpool tivesse neste momento 32 golos sofridos. Ou seja, seja por erros individuais dos guarda redes ou simplesmente porque os mesmos não têm a qualidade necessária para se sobrepor às expetativas, o Liverpool sofreu golos que custaram pontos e está neste momento na terceira posição da Premier League com a sexta melhor defesa da competição, mesmo sendo a segunda equipa da Premier League que menos oportunidades e remates permite em média aos adversários. Não porque defenda mal, mas porque não tem um David de Gea na baliza. Possivelmente, o melhor jogador da Premier League esta temporada.

Compreender a estatística em causa

Para compreender melhor toda esta teoria, é preciso compreender a nova métrica que está a fazer furor juntos dos “nerds” do futebol. Certamente já ouviu alguém dizer que determinada equipa teve azar num jogo e que merecia tê-lo vencido certo? O mesmo é dizer que essa equipa terá criado mais e melhores oportunidades de golo do que o adversário e mesmo assim não conseguiu vencer. Ora, existindo a premissa, os teóricos e estatísticos do futebol foram à procura de uma métrica que pudesse explicar melhor a “justiça” de um resultado num jogo de futebol.

Assim, foram tidos em conta diversos indicadores que em conjunto permitem aferir quais os golos expectáveis de serem marcados e sofridos durante um jogo. Fatores como a localização do remate, qual a parte do corpo utilizada para o mesmo, o tipo de passe que permitiu que esse remate fosse feito, quão rápida a jogada foi criada, a proximidade de jogadores adversários, entre outros fatores que permitem aferir a qualidade da oportunidade de golo. Em suma, fatores que permitem perceber quão fácil, naquele momento, dado todo o contexto, era para determinado jogador fazer golo naquela situação. Inclusivamente a altura do jogador em caso de jogada aérea, por exemplo.

Para isto, foram analisadas todas as situações de golo da história da Premier League para que se perceba, em determinado contexto, qual o desfecho mais habitual da situação. Algo que começa agora a ser utilizado no futebol, por exemplo, pela BBC, e que permite perceber ainda melhor a influência que determinados jogadores, como De Gea, têm nas suas equipas.