Grande Futebol
De "Andershow" a Anderson, passando por Katsouranis e Ferguson
2018-08-01 11:00:00
Anderson foi um dos melhores 10 da história recente do FC Porto, talvez só superado por Deco.

Usamos uma das alcunhas de Anderson para definir a carreira deste jogador. Foi do Brasil para o FC Porto e do FC Porto para Inglaterra como “Andershow” e, em Inglaterra, depois de um bom começo, foi passando a apenas Anderson. Um pequeno Anderson. Agora, com 30 anos, vai para a… II divisão da Turquia.

Anderson foi Golden Boy. Anderson foi um dos melhores 10 da história recente do FC Porto, talvez só superado por Deco. Anderson foi um craque tremendo, com um pé esquerdo dos diabos.

Mas Anderson trocou tudo isto por outra coisa. Por um lado, com "ajuda" de Katsouranis. Por outro, com "ajuda" de Ferguson. Por outro ainda, com "ajuda" do próprio Anderson. Tudo com aspas, porque, de ajuda, estas coisas tiveram pouco. Já lá vamos.

“Anderson é o menos inteligente com quem joguei”

Um dia, Wes Brown, jogador do Manchester United, "rasgou" Anderson. "O jogador menos inteligente? Diria que é o Anderson, porque ele já lá estava [em Inglaterra] há cinco ou seis anos e acho, honestamente, que até hoje ele não sabe falar inglês".

Em parte, esta opinião de Brown explica o que foi a carreira de Anderson, um craque acusado, várias vezes, de ser pouco esforçado e empenhado – algo que atesta a opinião de Brown. E por falar no inglês de Anderson, deixamos um vídeo que, na altura, se tornou viral. 

Mas vamos à bola. Anderson começou a espalhar magia no Grémio e, com 17 anos, deram-lhe a mão: Pinto da Costa – tal como já fez tantas vezes – antecipou-se à concorrência dos tubarões europeus e pagou sete milhões de euros para trazer o na altura jovem médio brasileiro para o Dragão.

No Dragão, Anderson foi algo que se viu pouco nos relvados em Portugal. Um talento raro com a bolinha nos pés e, acima disso, dois campeonatos (mais uma Taça e uma Supertaça) em duas épocas e 30 milhões de euros nos cofres portistas.

A final da Champions “roubada” por Katsouranis

Antes disso, não podemos fugir a um pequeno pormenor. Um pormenor chamado Katsouranis. A 28 de outubro de 2006, um clássico entre FC Porto e Benfica trouxe uma entrada duríssima de Katsouranis às pernas de Anderson. Perna partida. “A entrada foi feia e ouvi o osso estalar”, recordou o brasileiro, em janeiro, à “ESPN”.

Anderson diz ainda que, sem a entrada de Katsouranis, o FC Porto poderia ter ido à final da Champions. “Estava a jogar tão bem que, se não tivesse tido essa lesão, poderia ter chegado à final da Liga dos Campeões. O FC Porto tinha ganho a Champions duas épocas antes. Veja esta equipa: Pepe, Bruno Alves, Ricardo Costa, Bosingwa, Paulo Assunção, Lucho González, Raúl Meireles, Quaresma...".

O certo é que não houve final e, apesar de ter havido perna partida, houve transferência. Há quem diga que Anderson nunca mais foi o mesmo, mas houve transferência. Os tais 30 milhões de euros chegaram e Anderson foi levado para Manchester.

Lá, conheceu Deus. "Ferguson é o Deus do futebol. Joguei lesionado por ele, fiquei em campo com cortes nas pernas. Não queria saber. Confiou em mim em jogos grandes quando tinha apenas 18 anos", disse o brasileiro.

Anderson começou logo bem: Liga Inglesa e Liga dos Campeões no bolso. Foi, até, um dos escolhidos para bater penálti no desempate da final frente ao Chelsea. E marcou.

Um 10 a jogar a 6?

Anderson diz que conheceu Deus, mas muita gente diz que Anderson conheceu o homem que o mudou… para pior. Alex Ferguson recebeu um jovem número 10, que gostava de jogar com liberdade, e começou por pô-lo nas costas do avançado (Rooney ou Tévez). Com a lesão de Scholes, Ferguson deu-lhe noções de posicionamento e de comprometimento defensivo. Até aí, tudo certo. O problema é que Anderson foi colocado a jogar como segundo médio num 4x4x2 e, por vezes, como médio mais defensivo. Um desperdício para um talento daqueles.

As lesões também não ajudaram e o tipo que, antes, era capaz de arrancar e correr 30, 40 ou 50 metros em condução – bailando para quem lhe aparecia à frente –, passou a ser o típico médio brasileiro que tantas vezes falha na Europa: com qualidade técnica, mas lento, a jogar “de cadeirinha” e com pouca intensidade.

Começou como titular para Ferguson, passou para utilização intermitente ainda com o escocês e terminou como um zero para Moyes. Depois de um desastre na Fiorentina ainda foi chamado por van Gaal num jogo da Taça da Liga frente ao Milton Keynes Dons. O United perdeu por uns humilhantes 4-0 e a carreira de Anderson mudou para sempre no topo do futebol europeu.

E assim, em curva descendente, perdeu-se um craque dos diabos. Após três épocas no Brasil - numa das quais andou ao soco com um colega do Internacional -, voltou à Europa, para o Adana Demirspor, da segunda divisão turca. Sabe a pouco, não sabe?