A história do treinador alemão que foi internacional americano, discípulo de Klopp e que singra na Premier League
Como em quase todas as histórias tem de haver um herói, e nesta em que o Huddersfield Town assegurou a permanência na Premier League na época em que chegou à elite do futebol inglês 45 anos depois, a tentação seria escolher, por exemplo, Depoitre, o ex-avançado do FC Porto, mas a escolha recaí naturalmente noutro nome: David Wagner, o treinador de 46 anos, um alemão-americano (foi internacional quatro vezes pela seleção norte-americana) que pelo segundo ano roubou os sonhos a Carlos Carvalhal. Primeiro deixando para trás o Sheffield Wednesday na luta pela subida à Premier League em 2016/17, e agora praticamente selando a despromoção do Swansea City ao Championship.
David Wagner, um alemão natural de Geinsheim am Rhein, com passaporte norte-americano, chegou ao banco do Huddersfield Town em novembro de 2015 e três anos depois está a colher os frutos de uma verdadeira revolução silenciosa operada por ele que culminou com a subida à Premier League a época passada e a consolidação na mesma este ano, a uma jornada do fim.
A aventura dos Terriers tem a marca deste alemão-americano, cuja fisionomia mais faz lembrar um técnico de computadores do que de um treinador de futebol. Na primeira temporada no John Smith’s Stadium (2015/16), Wagner terminou a época no 19º lugar, com apenas 8 vitórias em 25 jogos, tendo rendido a meio da época Mark Lillis que já tinha substituido Chris Powell. Mas na época seguinte, tudo foi diferente e conduziu o Huddersfield à Premier League, 45 anos depois. Um trabalho árduo que acabou por se impor, alicerçado num espírito alemão que procurou incutir nos jogadores. “Queremos importar a influência alemã”, avisou logo à chegada. E fez uma curiosa comparação: “O estilo exato do nosso futebol é como um terrier. Não somos os maiores cães, somos pequenos, mas somos agressivos, não temos medo de nada e gostamos de lutar com cães maiores. Somos rápidos, móveis e duradouros. Nunca desistimos de nada. Eu não quero criar nenhum objetivo, porque às vezes os objetivos estabelecem limites, e eu não quero ter nenhum limite. Mas eu não sou um sonhador, apenas um trabalhador”.
David Wagner acabou por trazer para o Huddersfield a influência alemã que bebeu na equipa sub-23 do Borussia Dortmund , que orientou entre 2011 e 2015, e onde se cruzou com Jurgen Klopp, depois de ter começado a carreira nas camadas jovens do TSG 1899 Hoffenheim. Klopp que é hoje um dos seus melhores amigos e que o convidou para ir com ele para Liverpool, convite que declinou, desejoso de traçar o próprio caminho dele.
E é no Huddersfield que vai impondo as suas ideias e trabalhando uma filosofia de jogo em torno de uma posse de bola baseada em transições rápidas. David Wagner, já o confessou à imprensa inglesa, tem duas obsessões: solidez defensiva e loucura ofensiva. E procura libertar-se do rótulo de “eterno segundo” de Klopp, o que parece já o ter conseguido, provando que ele também é capaz de liderar um grupo, criar um futebol com identidade própria e fazê-lo ter sucesso. Para entender Wagner, é preciso conhecer Jürgen. Ambos foram companheiros de equipe, ambos atacantes, em Mainz, no início dos anos 90. Eles eram até concorrentes antes de se tornarem amigos. Wagner: “Quando nos encontramos pela primeira vez em Mainz, eu era um artilheiro e ele também. Ele foi titular quando cheguei de Frankfurt, em 1991. Aos poucos, ganhei o lugar dele na equipa e ele foi para o banco. Foi quando a nossa amizade começou, especialmente quando ele passou para defesa, o que foi mais fácil para nós”. A verdade é que Wagner e Klopp têm a mesma ideia de futebol. A ideia é resumida pelo treinador do Huddersfield: “futebol elétrico”, onde o objetivo é chegar o mais rápido possível à área adversária.
Como é que alguém pode explicar que uma equipa tão próxima de descer no Championship, em dois anos sobe à Premier League e por lá fica? Se calhar tudo começou em julho de 2016. Enquanto a Europa do futebol tinha os olhos voltados para o campeonato europeu realizado em França, David Wagner levou todo o grupo para a Suécia, para uma pequena localidade. O programa era o seguinte: três dias sem acesso à eletricidade, sem cama para dormir, sem telefone e sem conexão com a internet. “Tudo mudou nesse tempo de experiência”, explicou David Wagner ao “Guardian”, reconhecendo que rapidamente conseguiu construir um grupo muito unido.