Se, para muitos adeptos, um jogador de futebol enveredar por ligas alternativas como o campeonato chinês ou a Major League Soccer define o sinal derradeiro do interesse financeiro acima do sucesso desportivo por parte desse mesmo jogador, a carreira recente de nomes como Paulinho ou David Villa certamente motivará esses mesmos adeptos a uma reflexão mais pensada. É certo que a exceção não fará a regra mas, o que é certo, é que não foi a ida para a China que impediu Paulinho de ganhar uma nova vida futebolística, estabelecendo-se como uma das peças chave do Brasil de Tite e chegando ao Barcelona já durante esta janela de transferências. Já para David Villa, jogador da MLS desde o verão de 2014, o ingresso na principal divisão de futebol dos Estados Unidos da América não impediu o sonho do atacante espanhol regressar à seleção e poder voltar a representar “La Roja” em nova grande competição de seleções. David Villa está de volta à seleção espanhola três anos depois, uma convocação que desafia a lógica do futebol atual.
Curitiba, junho de 2014. A Espanha saiu de cena de forma inglória do Mundial 2014 disputado no Brasil. Mesmo com uma vitória por 3-0 na jornada final do Grupo B, a seleção espanhola não foi além do terceiro lugar do seu grupo no Mundial brasileiro depois de duas derrotas perante Holanda e Chile nas duas primeiras jornadas do grupo. A Espanha saiu de cena com uma vitória por 3-0 frente à Austrália, num encontro em que David Villa não só foi titular, como foi autor do golo que desbloqueou a partida frente ao conjunto australiano. Mais que isso, o jogo frente à Austrália pareceu ditar o final da carreira de David Villa na seleção do seu país. Dias depois do Mundial 2014, David Villa passou a representar o NY City FC, tendo passado ainda pelo Melbourne City FC da primeira divisão australiana. O ingresso em campeonatos alternativos, porém, não só não abrandou o ritmo competitivo do atacante espanhol, como o trouxe de volta aos trabalhos da seleção do país vizinho.
“É um sonho. É um orgulho estar de volta e estou surpreendido pelas manifestações de carinho. Não esperava que tanta gente se alegrasse com o meu regresso. A reação da imprensa, de toda a Espanha, tem sido fantástica. Esperava mais polémica”. As palavras foram do próprio David Villa que, tal como muitos outros adeptos, não escondeu a sua surpresa pelo regresso à seleção espanhola para os embates de qualificação para o Mundial 2018 frente a Itália e Liechtenstein. David Villa, que conta 97 internacionalizações e 59 golos nas mesmas ao serviço da principal equipa espanhola, regressou à Roja três anos depois da sua última internacionalização. Regressou, à seleção espanhola, numa altura em que vai liderando o New York City FC rumo aos play-off da MLS. O clube de Nova Iorque segue na segunda posição da fase regular na conferência Este, tendo já feito 19 golos e cinco assistências nos 25 jogos que disputou. 19 golos que tornam David Villa no atual melhor marcador da MLS, mais três que os registados por Diego Valeri e Nemanja Nikolic até agora.
A convocação de David Villa desafia a lógica do futebol atual e à imprensa espanhola o atacante, hoje ao serviço de um clube da MLS, não refutou a importância para a própria liga norte americana que este regresso à seleção espanhola encerra. “Para mim é importante estar aqui pois significa que as pessoas estão atentas. A ideia é que a MLS evolua, algo complicado quando muitos ainda a consideram uma liga de veteranos”, referiu. “É uma liga com uma média de idades a rondar os 26 anos e não me parece que existam muitas ligas com uma média de idades tão baixa. O nível físico necessário é elevado, com muitos jogadores atléticos, preparados para o desporto desde muito cedo. Algo habitual no país. É difícil jogar aqui se não se estiver a um bom nível físico, mesmo que técnica e taticamente ainda exista uma grande diferença para as principais ligas do Mundo”, avaliou David Villa à imprensa.
Aos 35 anos David Villa não abranda, parece longe da reforma, e na MLS continua a dar seguimento aquilo que sempre habituou os adeptos desde que em 2001 surgiu na primeira equipa do Sporting Gijón: golos. Muitos. Tantos, que o tornaram no melhor marcador da história da seleção espanhola. Depois de se estabelecer como um dos mais prolíficos goleadores do futebol espanhol, David Villa tomou a MLS de assalto e nas três temporadas que leva já no continente norte-americano, nunca o avançado espanhol ficou abaixo dos 18 golos. Uma boa forma que permitiu ao ex Sporting Gijón, Real Saragoça, Valência FC, FC Barcelona e Atlético de Madrid regressar agora à seleção. Apenas Julen Lopetegui saberá se para cumprir o centenário de internacionalizações ou, mais que isso, se para ficar e voltar a estar presente numa grande competição de seleções.