O defesa de 26 anos é jogador do Progrès Niederkorn, equipa do Luxemburgo que bateu os escoceses
Contra todas as expetativas, o Rangers de Pedro Caixinha foi eliminado da 1ª pré-eliminatória de qualificação para a Liga Europa pelo Progrès Niederkorn e houve um português envolvido do lado dos vencedores. David Soares, defesa dos luxemburgueses, esteve no banco nos dois jogos mas viveu de perto toda a situação que o seu treinador, Paolo Amodio, admitiu “não ser possível”.
Jogador amador, Soares conjuga o seu emprego com a atividade futebolística, o que torna o feito ainda mais inacreditável. “Se uma das bolas [do Rangers] que foram à barra tivesse entrado, já ninguém estava a falar disto”, assegurou ao Bancada.
Da felicidade do sorteio à “sensação enorme”
“Foi sensacional. Para ser sincero, muito poucos acreditavam. Mesmo nós, jogadores, que tínhamos esperança, sabíamos que ia ser difícil. Pela nossa frente estava uma equipa de renome mundial. Sabíamos que as hipóteses eram mínimas, mas sabíamos que era possível”, começou por dizer David Soares em declarações ao Bancada.
Apesar do azar do sorteio, tendo calhado ao Progrès Niederkorn uma das mais fortes equipas em prova, a equipa estava satisfeita porque sabia que a experiência seria especial. Os luxemburgueses foram a Glasgow perder por apenas 1-0, um resultado (teoricamente) brilhante mas que deixou os jogadores “chateados”.
“Quando foi o sorteio estávamos todos contentes por ter calhado o Rangers. Foi sensacional jogar em Ibrox [estádio do Rangers] frente a 50 mil pessoas, algo que aqui no Luxemburgo é impossível. Foi único e inesquecível. Ficámos contentes pela experiencia, mas sabíamos que seria muito difícil passar. No jogo lá, quando perdemos por 1-0, sentimos que podiamos fazer qualquer coisa. Estivemos bem, eles não tiveram muitas oportunidades. Ficámos chateados por ter sofrido o golo, o 0-0 seria um grande resultado”, admitiu David Soares, lateral-esquerdo do Progrès Niederkorn.

Equipa do Progrès no Ibrox Stadium, casa do Rangers (foto: Facebook Progrès Niederkorn)
A esperança em fazer algo histórico começou a crescer no clube de Differdange. Depois da boa exibição na Escócia, a equipa acreditava em fazer algo bonito. A principal preocupação, para além de marcar, estava definida: não permitir que o Rangers marcasse.
“Sabíamos que tínhamos de marcar e não podíamos sofrer. Se sofrêssemos um golo cá sabíamos que não seria fácil passar. Tivemos a sorte de conseguir marcar dois golos e no final tivemos três bolas na nossa trave. Mas merecemos [passar]. Mostrámos que no papel não éramos favoritos mas trabalhámos para o contrariar”, considerou, que teve uma breve conversa com os portugueses que jogaram na equipa de Pedro Caixinha: Candeias, Dálcio e Fábio Cardoso. “Trocámos umas palavras mas nada de muito intenso. Eles estavam decepcionados, notava-se que estavam muito tristes. Mas trocámos umas palavras, ainda que nenhuma conversa longa”.
No final, 2-0 para o Progrès Niederkorn com golos de Sébastien Thill e Emmanuel Françoise, ambos no segundo tempo. Quando soou o apito final, os sentimentos eram muitos.
“Para nós e para os adeptos foi uma sensação enorme. Foi histórico e vai ser difícil esquecer”, disse ao Bancada o feliz David Soares, que frisou ainda que “toda a gente vai relembrar para sempre, não só os jogadores mas também os familiares e os adeptos”.
O engenheiro fanático pelo Benfica
Engenheiro na área da construção, David Soares já nasceu no Luxemburgo. O pai, natural de Nelas, emigrou com a mãe, de Vale de Cambra, quando ambos tinham “18 ou 19 anos”. Apesar de ter o sonho da “bola”, o jogador de 26 anos revelou que colocou sempre a escola em primeiro lugar.
“Todos sonham ser um dia profissionais, mas nunca foi uma coisa a que desse prioridade. A escola sempre foi a prioridade para ter um bom emprego. Aqui no Luxemburgo é difícil ser profissional e preferi jogar pelo seguro”, contou-nos o português que assume que a mentalidade luxemburguesa permite uma boa conjugação do futebol com o trabalho “normal”.

David Soares acompanha o Benfica mesmo estando longe (foto: Facebook David Soares)
“Aqui é mais fácil no sentido em que toda a gente sabe que não somos profissionais. Se um dia não puder ir aos treinos por um motivo profissional, as pessoas compreendem. Mas mesmo assim não é fácil. Acordamos de manha para ir trabalhar, saímos do trabalho e vamos para o treino, chegamos a casa para ir dormir e no dia seguinte já temos de acordar cedo outra vez. É um ritual, mas quem gosta do que faz não se queixa. Com a família é mais complicado quando temos de dizer que não podemos ir a casamentos e batizados”, frisou.
David Soares é adepto dedicado do Benfica. Ao Bancada, assumiu sem medos o seu benfiquismo e contou que vai, sempre que possível, ver a equipa encarnada ao vivo, principalmente nos jogos europeus.
“Vejo os jogos todos do Benfica, sou um benfiquista ferrenho. Quando foram jogar a Munique e a Dortmund estive presente, tal como em Leverkusen. Eu e os meus amigos vamos todos juntos aos jogos europeus sempre que podemos. É um sonho que qualquer benfiquista tem jogar no Benfica”, disse.
E se algum dia a sorte ditar um jogo entre o Progrès Niederkorn e o Benfica? David Soares respondeu.
“Antes de tudo há o profissionalismo. Ia fazer o meu jogo o máximo possível para defender o meu clube, mas ia ser sempre uma sensação enorme. O Benfica é o Benfica”, concluiu.