Dos nossos ídolos, muitas vezes, procuramos obter algo que nos recorde um momento especial um dia. Ter, simplesmente, algo no qual ele lhe tocou ou vestiu, por exemplo. Uma fotografia. Um autógrafo. Uma camisola. Quem sabe, para os mais corajosos e fanáticos, os calções que usou em determinado jogo. Houve até quem tivesse comprado pastilhas elásticas mastigadas por Michael Jordan, imagine-se. Um souvenir de um ídolo é muitas vezes a ambição desportiva de um adepto, mas e se pudesse comprar parte do DNA desse mesmo ídolo? Se for adepto do AIK, recentemente coroado campeão sueco, é possível.
Por cerca de 300 euros é possível comprar um bocado do DNA cristalizado de Nils-Eric Johansson, antigo capitão e lenda do clube de Solna, arredores de Estocolmo, e que se viu obrigado a abandonar o futebol aos 38 anos, em fevereiro de 2018, devido a problemas cardíacos. Por 3500 coroas suecas é então possível comprar um tubo de ensaio com DNA cristalizado de Johansson, algo que lhe durará para os próximos 500 anos. Quem sabe, até poderá ter um Nils-Eric Johansson só para si, caso um dia a clonagem se torne aceite universalmente num futuro próximo. O jogador, esse, está protegido. É apenas 99% de si.
“É como estar no Jurassic Park! Em 500 anos podemos vir a ver uns quantos Nils-Eric Johansson a correr por aí, quem sabe? Sei que tecnicamente posso vir a ser clonado, mas uma parte do ADN foi removido para evitar ilícitos ou comportamentos ilegais. Não é 100% de mim, é 99%. Esse 1% é muito importante para mim próprio e protege a minha identidade no ADN. Não será possível deixar o meu ADN num cenário de crime, por exemplo, já que nunca seria identificado com compatibilidade máxima e não poderia ser acusado dele. Se me clonarem é possível que acabe por ser destro e não canhoto”, comentou à BBC, de forma divertida, o antigo defesa de Bayern Munique, Blackburn Rovers ou Leicester City, internacional pela Suécia em quatro ocasiões.
Por detrás de toda esta ideia está outro antigo internacional sueco, o antigo guarda redes Magnus Hedman que com um sócio fundou uma empresa que se dedica a incorporar identidade em produtos comerciáveis. “Tu podes ter uma camisola de jogo que terá ADN nela, mas que será removido com o tempo e assim que for lavada. Desta forma fico cristalizado durante 500 anos. Com isto podes levar o teu jogador preferido para casa, mantê-lo lá e por um longo período de tempo. Muitos fãs adoram colecionar coisas, esta pode ser uma dessas coisas. Quando me falarem disto a primeira vez, fiquei reticente. Achei a ideia muito assustadora, pensei se a tecnologia já tinha mesmo avançado a este ponto e se não estaria a ir longe de mais. Mas é divertido quebrar este tipo de barreiras, perceber se os adeptos gostam da ideia e a verdade é que a resposta tem sido bastante positiva. A minha mulher também está de acordo com a ideias. A nossa identidade está protegida pelos nossos três filhos”.
O AIK produziu então 351 caixas, uma por cada jogo feito pelo clube por Nils-Eric Johansson, com a mesma a conter um tubo de ensaio com ADN cristalizado do jogador, uma braçadeira de capitão e um certificado assinado pelo próprio jogador. “Cada caixa representa cada um dos jogos que fiz pelo clube, há ali muita história, não é fácil colocar um preço nisso”, disse o antigo jogador. Parte das receitas feitas pela venda das caixas acabará por ser entregue para instituições de caridade suecas.
Aos 38 anos, Nils-Eric Johansson foi obrigado a abandonar o futebol depois de um problema cardíaco com o qual convive desde os 20 anos ter chegado a um ponto em que o antigo defesa sueco podia mesmo falecer em campo. “Era um risco que não estava preparado para correr. Tenho 38 anos e três filhos. A minha carreira estava já no fim, de qualquer maneira. Mas foi difícil de digerir. Tinha acabado de fazer a pré temporada, lutado imenso para estar em forma e conseguir competir com jogadores mais novos quando os médicos disserem ‘não mais’. A partir daí, só pude acompanhar a equipa da bancada. Sou um sortudo por ter sido descoberto a tempo. Se tivesse continuado, alguma coisa podia ter acontecido e até morrido em campo”, explicou o antigo defesa.
“Por vezes acordo e penso que vou treinar. Ainda é algo forte em mim e difícil de mudar”, confessa o jogador que durante a sua carreira se sagrou campeão Alemão em 2001 e venceu a Taça da Liga Inglesa pelo Blackburn no ano seguinte. Em novembro, aquando do há muito desejado título do AIK, foi convidado pelo capitão de equipa atual para com ele levantar a Taça de Campeão. Quem sabe, um dia, não poderá ter também um pouco do DNA do seu ídolo?