Grande Futebol
Carlos Carvalhal: a sina inglesa de morrer na praia
2018-05-12 16:00:00
Só um milagre salva o técnico português de descer de divisão com o Swansea, depois de ter criado o sonho da permanência

Começou por encantar tudo e todos, desde adeptos do Swansea City à comunicação social inglesa, onde nas conferências de imprensa protagonizou momentos hilariantes e proferiu frases bonitas, metáforas e analogias que seduziram os ingleses, a que foi juntando resultados no campo e fazendo acreditar que a permanência na Premier League era possível. Mas ultimamente uma série negra de oito jogos consecutivos sem vencer, os últimos quatro com derrotas, com adversários diretos na luta pela permanência, atirou o Swansea para o abismo e, a uma jornada do fim, só um milagre, e dos grandes, poderá salvar a equipa galesa de não descer para o Championship. O estado de graça de Carlos Carvalhal acabou. No terceiro ano de futebol inglês, Carlos Carvalhal não se livra do estigma de "morrer" sempre na praia.

Esta história, no entanto, começa com um início feliz. Carvalhal pegou na equipa em dezembro. O Swansea estava a amargar na última posição da Premier League, com apenas 13 pontos em 20 jogos e a cinco dos lugares que garantiam a permanência. O início foi assertivo. Uma série de dez jogos sem perder, com triunfos sobre o Liverpool FC e o Arsenal pelo meio, além da chegada aos quartos de final da Taça, fizeram na altura de Carvalhal o homem do momento no futebol inglês.

José Mourinho, na antevisão ao duelo com o Swansea City, chegou mesmo a considerar o treinador português, que foi capaz de levar o Leixões à final da Taça de Portugal e de ganhar a Taça da Liga ao serviço do Vitória de Setúbal, como o "treinador do ano" na Premier League. Os dois, no final do jogo, que o Manchester United venceu por 2-0, surgiram lado a lado na conferência de imprensa e Mou disse não ter dúvidas: "O Carlos vai conseguir a permanência, tenho a certeza". Coincidência ou não, tudo começou a ruir a partir daí. Os galeses somaram desde então dois empates e quatro derrotas, numa série negra que ganhou contornos trágicos esta semana com a derrota em casa diante do Southampton, adversário direto, com um golo de Gabbiadini, aos 71 minutos.

O galês John Toshack, antigo jogador e treinador do Swansea, veio a terreno com a tese hilariante de culpar José Mourinho pelo declínio do clube nas últimas jornadas. "Desde que Mourinho fez de Carlos Carvalhal o treinador da época, não voltaram a ganhar. Diz-se que não são os murros no queixo que amolecem um campeão, mas sim as palmadinhas nas costas. E penso que, depois da recuperação, eles receberam essas palmadinhas nas costas e amoleceram de uma forma alarmante", referiu em declarações à Sky Sports.

A sina de Carvalhal para "morrer na praia" nesta sua aventura em Inglaterra prossegue. Em 2015/16 e 2016/17, nas duas primeiras temporadas no futebol inglês, Carlos Carvalhal alcançou notoriedade ao levar o Sheffield Wednesday a dois play-offs consecutivos para a subida de divisão, mesmo com um orçamento mais reduzido do que os dos adversários. Mas a verdade é que acabou por ficar à porta da subida de divisão. No primeiro ano, perdeu na final com o Hull City, por 1-0, golo de Mohamed Diamé, aos 72 minutos. Na época passada, a equipa viria a ceder no play-off de apuramento para a subida diante do Huddersfield Town. Depois de um empate a zero na primeira mão, em casa o Sheffield Wednesday acabaria por perder nos penáltis por 4-3 depois de 1-1 no fim do tempo regulamentar. Um autogolo de Tom Lees, aos 73 minutos, levou o jogo para os penáltis.

Carvalhal acabou por abandonar o clube e chegou em dezembro deste ano ao Swansea para tentar impedir o clube galês de descer de divisão, o que prometia ser uma tarefa difícil. Depois da saída de Paul Clement, ligada a um conjunto de maus resultados, a equipa estava no último lugar, mas, em pouco tempo, Carlos Carvalhal colocou a a equipa a mexer, mas no futebol a linha que separa o sonho do pesadelo é muito ténue.

Num momento de amargura por sentir que muito dificilmente salvará o emblema do País de Gales, o treinador português defendeu em conferência de imprensa que a descida acontecerá sobretudo pelo mau início de época. O técnico português recorda que ganhou 20 pontos em 17 jogos e que se essa média fosse alcançada desde a primeira jornada o clube estaria a lutar por lugares europeus. Sobre as notícias sobre a sua saída, considerou que "não é bonito". "Algumas pessoas disseram que ia sair. Para mim não é oficial e quando não é oficial é especulação. Não é bom haver notícias a dizer que vou sair, não é bonito, para mim e para os jogadores. Não sei se o clube quer que fique, não estou preocupado com isso. Tenho a consciência tranquila. Com 20 pontos em 17 jogos não estaríamos longe de lutar por um lugar para a Europa".

Agora, na última jornada, só um verdadeiro milagre poderá salvar Carvalhal: o Swansea tem de vencer este domingo o já despromovido Stoke City, esperar que o Southampton perca com o Manchester City e, ao mesmo tempo, anular uma desvantagem de dez! golos para os saints. Ou seja, o Swansea tem de golear e esperar que o City também goleie o Southampton. Vida difícil para Carvalhal, a quem só um milagre evitará que tenha de recorrer a uma expressão popular para sintetizar a época do Swansea City: "Morremos na praia".