Direto, inovador, polémico e vencedor. São quatro palavras que definem bem Brian Clough, lendário treinador inglês que morreu neste dia há 14 anos. Foi um futebolista de grande nível no Middlesbrough FC e no Sunderland AFC, mas foi como treinador que se deu a conhecer ao Mundo, principalmente depois das duas Taças dos Clubes Campeões Europeus conquistadas de forma consecutiva ao serviço do Nottingham Forest, onde esteve quase duas décadas. Mas houve mais, como a revolução no Derby County ou o gigante falhanço no Leeds United.
Brian Clough nasceu em 21 de março de 1935 em Middlesbrough, sendo um de nove irmãos. Foi precisamente no clube da cidade, o Middlesbrough FC, que se notabilizou como jogador. A fantástica carreira de treinador faz com que muitos se esqueçam do que Clough fez dentro das quatro linhas, mas a verdade é que foi um avançado de grande nível. Com pouco mais de 20 anos, marcou 40 ou mais golos em quatro temporadas consecutivas (!). No total, foram mais de 200 golos em em 222 jogos com o 'Boro' para o campeonato, o que o coloca entre as maiores lendas da história do clube. Em 1959, chegou a representar a seleção nacional de Inglaterra por duas ocasiões, não marcando qualquer golo nem voltando a conseguir tal feito. Dois anos depois, no entanto, trocou o Middlesbrough FC pelos rivais do Sunderland AFC e teve mais duas temporadas de grande nível pelos 'black cats'. Uma lesão num dos joelhos fez com que estivesse muito tempo afastado e com que, eventualmente, acabasse a carreira de jogador com apenas 29 anos. Até hoje, Brian Clough ainda é um dos atletas que passaram pelas ligas profissionais inglesas com melhor média de golos por jogo.
Mal pendurou as botas, Clough começou de imediato a treinar. Estreou-se nas camadas jovens do Sunderland AFC durante um curto período de tempo e assinou pelo Hartlepool United, da quarta divisão, em 1965, tornando-se o mais jovem treinador do seu campeonato. Foi no Hartlepool United que contou pela primeira vez com Peter Taylor na equipa técnica, iniciando dessa forma uma parceria que viria a dar muitos frutos anos mais tarde. Esteve pouco tempo no Hartlepool United e mudou-se para o Derby County, da segunda divisão, em 1967. E foi lá que Brian Clough começou a ser o treinador que hoje é mundialmente reconhecido. Chegou, fez mudanças radicais no clube e venceu o campeonato da segunda divisão, subindo ao mais alto escalão do futebol inglês. Logo na primeira temporada entre a elite britânica como treinador, Clough levou o Derby County a um brilhante quarto lugar. Seguiu-se um nono lugar e, em 1971/72, o Derby County foi campeão inglês com mais um ponto que Leeds United, Liverpool FC e Manchester City.
Twitter Derby County
Apesar de ter vencido o campeonato pela primeira vez na já longa história do Derby County, a relação entre Brian Clough e a direção do clube começou a piorar a partir daí. Divergências no planeamento da pré-época de 1972/73 aqueceram os ânimos e tudo piorou quando Clough e Peter Taylor contrataram David Nish ao Leicester City por uma verba elevada sem o consentimento de direção. Pouco mais tarde, após uma derrota contra o Liverpool FC, Clough criticou os adeptos ("Só começaram a cantar quando passámos a estar a ganhar. Quero ouvi-los quando estamos a perder. São vergonhosos") e contestou as decisões da direção. Mesmo chegando às meias finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus, sendo apenas eliminado pela Juventus, Brian Clough e Peter Taylor acabaram por abandonar o Derby County em outubro de 1973. Os dois foram comandar o Brighton & Hove Albion ainda durante essa temporada na terceira divisão, mas o sucesso não foi muito e acabaram por sair do emblema meses depois.
Surpreendentemente, até porque já tinha criticado o clube anteriormente, Brian Clough tornou-se treinador do Leeds United em 1974, substituindo Don Revie, que havia seguido para o comando técnico da seleção inglesa. Mas a aventura em Leeds durou apenas... 44 dias, com a equipa a vencer apenas um jogo nesse período, o que fez com que a direção rescindisse contrato com Clough. O técnico, ainda assim, não esteve muito tempo sem clube e passou a representar o Nottingham Forest a meio da época 1974/75. Tal como quando foi jogador, Clough assinou pelo maior rival do clube onde foi feliz - como foi o caso no Derby County. Tal como no Derby County, revolucionou o futebol do Nottingham Forest, que na altura estava na segunda divisão, contratou vários jogadores novos e terminou a primeira temporada muito longe dos lugares de subida. Mas isso mudaria nos anos seguintes.
Aliás, os anos que se seguiram foram os melhores da história do clube. O Nottingham subiu à primeira divisão em 1977, venceu o campeonato inglês em 1978 e conquistou duas vezes consecutivas a Taça dos Clubes Campeões Europeus (1978/79 e 1979/80). Somou ainda uma Supertaça Europeia, uma Supertaça Inglesa e várias Taças da Liga inglesas. Brian Clough acabou por ficar quase 20 anos no Nottingham Forest, tornando-se uma verdadeira lenda do clube e do futebol inglês. Retirou-se do futebol em 1993 com muitos títulos, momentos e frases icónicas. Uma delas ("Não diria que sou o melhor treinador que existe, mas estou no top um") inspirou mesmo José Mourinho, grande admirador de Brian Clough.
Estátua de Brian Clough em Old Market Square, em Nottingham (Anita Maric/EPA)
"Provavelmente todos nos lembramos das melhores frases do Clough. «Não diria que sou o melhor treinador que existe», costumava dizer, «mas estou no top um». Adoro essa. Ele tinha aquela autoestima e uma grande confiança nele próprio. Do que conheço dele, estava muito confortável com a atenção. Talvez porque Brian Clough foi uma personalidade tão grande, com tanto carisma, todos se lembram das suas frases e histórias e alguns se esquecem do seu talento. Ele não ganhou duas Taças dos Clubes Campeões Europeus com o Nottingham Forest apenas devido ao carismo. A história não pode apagar o que ele e o Nottingham Forest fizeram - os resultados, os troféus, os feitos absolutamente inacreditáveis. Tenho muito respeito pelo que fizeram. Penso que se o Brian Clough ainda estivesse por aqui, nos íamos dar bem", escreveu o treinador português no prefácio do livro "I Believe in Miracles", de Daniel Taylor.
Brian Clough acabaria por morrer em 2004, com 69 anos, devido a um cancro no estômago depois de vários anos como alcoólico, tendo chegado a fazer um transplante de fígado. O seu legado, contudo, permaneceu imortal, tendo o nome na estrada que liga Nottingham e Derby e várias estátuas nas cidades onde é mais lembrado.