Milão. 1993. Baggio. Porcaria. Estas quatro palavras são suficientes para arrepiar jogadores e treinadores da seleção portuguesa que, nesse ano, perdeu frente à Itália, por 1-0, falhando o Mundial 1994, nos Estados Unidos. E sabe quem acabou por nos “roubar” um dos dois lugares de apuramento? Exatamente, esses mesmos. Os amigos suíços que, nesta terça-feira, voltam a disputar com Portugal um lugar num Mundial.
Domingos Paciência, que entrou aos 69 minutos dessa partida, conta, ao Bancada, que foi "um jogo difícil" e que "chovia muito", mas garante: "nós estávamos confiantes, apesar de não sermos favoritos".
O futuro de Portugal, nesse jogo de Milão, resumia-se no seguinte cenário: ganhando aos italianos, estariam no Mundial. Não ganhando, ficariam de fora. Dino Baggio resolveu a partida a favor dos italianos, aos 86 minutos, com um golo irregular, por fora de jogo do médio transalpino. "Lembro-me de que houve uma grande confusão na área e de que pareceu fora de jogo", recorda Domingos. E recorda muito bem.
Carlos Queiroz, selecionador nacional, grava este Itália-Portugal como um dos momentos marcantes da sua carreira. Por ter falhado o Mundial, por ter havido um quase Saltillo e pela célebre frase, que ficou na história.
“É preciso varrer a porcaria que há na Federação Portuguesa de Futebol”, disse, após o jogo. Um jogo que, também ele, deu “porcaria”. Portugal perdeu, ficou fora do Mundial e viu a Suíça, que goleou a Estónia, “roubar” a Portugal o lugar no Mundial dos Estados Unidos. "A estrutura não era tão forte como agora. Havia muitos problemas e não havia apoios. Só a partir de 1996 é que as coisas mudaram nesse aspeto. Lembro-me de que o Carlos [Queiroz] disparou contra a Federação", explica Domingos.
Antes desse jogo, houve uma espécie de Caso Saltillo, como em 1986. “No jogo de qualificação com a Itália, em 1993, deparei-me com jogadores que não queriam treinar e que tinham virado os equipamentos ao contrário, como em Saltillo”, contou Queiroz, ao Observador. O motivo prendia-se com questões publicitárias relacionadas com um acordo da Federação com a Sagres, feito à revelia dos jogadores, nessa altura já ligados a marcas.
A "compor o ramalhete" desta desilusão, houve ainda a expulsão de Fernando Couto, já depois do golo italiano.
Não havia ponta de lança? Ai havia, havia.
Anos depois desta derrota, Carlos Queiroz assumiu que a equipa que tinha nas mãos não permitia eliminar os poderosos italianos. “Era uma equipa muito híbrida. Por um lado, uma seleção sem grandes soluções: não havia ponta esquerda, nem ponta de lança nem defesa esquerdo; na baliza, às vezes era o Silvino, outras o Neno". Que nos perdoe Carlos Queiroz, mas havia ponta de lança. Domingos Paciência esteve lá e recorda o onze que o deixou no banco de suplentes: "o Carlos preferiu uma equipa mais dinâmica, de mobilidade e transições, que ocupasse bem o espaço interior".
Vejamos, então, o que por lá havia.
Portugal: Vítor Baía, João Pinto (Rui Águas), Jorge Costa, Fernando Couto, Veloso, Paulo Sousa, Paneira, Rui Costa (Domingos), Futre, Rui Barros, João Vieira Pinto.
Acha que impõe respeito? Se sim, fique, então, com os italianos, que, para Domingos, "tinham os melhores do Mundo".
Itália: Pagliuca, Baresi, Benarrivo, Maldini, Costacurta, Dino Baggio, Donadoni, Stroppa (Albertini), Roberto Baggio, Signori (Mancini) e Casiraghi.
Em 1993, houve duelo a três: a Itália levou Portugal a ser ultrapassado pela Suíça. Nesta terça-feira, haverá duelo a dois: Portugal terá de vencer a Suíça, caso queira ir ao Mundial 2018 e vingar 93. "Vamos ver... eu acredito. A jogar em casa, Portugal pode conseguir já amanhã o apuramento. É mais forte do que a Suíça", projetou Domingos.