Grande Futebol
Árbitro assistente salva a vida a um jogador
2018-04-09 16:00:00
Árbitros deveriam ter curso de primeiros socorros? O Bancada falou com alguns juízes.

Um jogador choca contra uma das vedações em torno do relvado. Cai, inanimado, e começa a sufocar com a própria língua. São segundos decisivos para assistir o jogador. Isto passou-se no País de Gales e a salvação foi dada por um árbitro assistente, que era quem mais perto estava do local. Algo que, em Portugal, seria pouco provável acontecer, tal como nos explicam alguns árbitros. Já lá vamos.

No Colwyn Bay-Trafford FC, o avançado Danny Frost, do Trafford, tentou chegar a uma bola longa, mas, com o relvado molhado, não conseguiu travar. Bateu nos painéis e por ali ficou. Quem estava mais perto era Zharir Mustafa, árbitro assistente. “Ele não respirava quando cheguei ao pé dele e tive de abrir-lhe a boca, puxar-lhe a língua para fora e colocá-lo a respirar de novo, pondo-o em posição de recuperação”, contou o árbitro, à BBC.

“O senhor é um herói”

Danny Frost está fora de perigo e teve alta do hospital no próprio dia. Depois disso, o pai do jogador agradeceu a Mustafa. “O senhor é um herói”, disse, acrescentando: “Palavras não conseguem descrever o quão agradecido eu estou. Eternamente grato”.

Apesar destes agradecimentos, o árbitro não se considera herói. “Estava no sítio certo, à hora certa. Não me vejo como um herói, porque fiz o que qualquer pessoa faria no meu lugar. O jogador é que é um herói, por ter recuperado tão rápido”, diz, antes de reconhecer: “Quando o Danny foi posto na ambulância, o pai dele estava muito emocionado e abraçou-me. Foi aí que percebi o impacto que tive no jogador e na família dele”.

Também Jake North, fisioterapeuta da equipa adversária, mereceu agradecimentos, “por ter segurado na cabeça do Danny durante 50 minutos, num campo encharcado”. Convém dizer que foi pedida uma ambulância aérea, mas as condições climatéricas não permitiram a aterragem, pelo que a assistência médica foi mais demorada.

Já fora de perigo, o jogador acordou sem saber nada do incidente, mas, diz o presidente do Trafford diz que Danny… quer jogar já no próximo jogo: “Incrivelmente, ele quer jogar no sábado, mas parece-me improvável”.

Tragédias que não são de hoje. Árbitros deveriam ter curso de primeiros socorros?

Há quem diga que os árbitros devem ter cursos de primeiros socorros, dado que, muitas vezes, são os primeiros a chegar perto de um jogador em perigo de vida. Neste fim-de-semana, foi exatamente assim. No futebol não-profissional esta necessidade torna-se ainda maior, dado que não é raro os clubes não terem sequer nenhum elemento no banco capaz de dar assistência médica.

Falámos com alguns árbitros do futebol não profissional que, apesar de não poderem falar publicamente, consideraram que, de facto, noções de primeiros socorros seriam úteis. "Acho que sim. Já vivi situações complicadas nas quais, sinceramente, os elementos presentes nos bancos não pareciam capazes de as resolver, caso aquilo se complicasse mais. Felizmente, não deram em coisas graves", diz um árbitro de Lisboa, ao Bancada, numa visão corroborada por um outro juiz da Associação de Futebol de Lisboa: "Acho que facilmente um árbitro pode dar uma ajuda decisiva, sim. Basta-lhe ter algumas noções de primeiros socorros". "Como não temos, fica mais complicado um árbitro salvar um jogador dessa forma", acrescenta.

O Bancada sabe que nos cursos de arbitragem não é contemplado um módulo - ou sequer uma aula - de primeiros socorros, algo que parece fácil de concretizar e que, em última análise, pode salvar vidas. Será que os árbitros deveriam ter alguma formação em primeiros socorros, para conseguirem fazer o que fez Zharir Mustafa? Danny Frost certamente diz que sim.

Este caso de Danny Frost acabou bem, graças ao tal árbitro. Mas e se o árbitro não soubesse o que fazer?

O Bancada já lhe recordou alguns casos de jogadores que morreram em campo. Miklós Fehér é o caso mais evidente, por tudo o que o envolveu, mas Foé, Morosini ou Ekeng também chocaram o futebol. Jogadores como Jarque, Tioté ou Christian Benítez faleceram em sessões de treino.